sexta-feira, junho 03, 2005

Continuação 5

Estar de bem com a vida, querer realizar obra, encontrar a vontade para rir, para sentir prazer, em dar prazer, em visitar um amigo ou promover em redor um momento feliz é, justamente, o oposto da infelicidade! Sentir-se são, vigoroso, capaz e solícito é bem o contrário de estar doente, cheio de dores, queixas, ressentimentos e amarguras.

Sem felicidade, na ausência da capacidade para a procurar, mergulhado o ser num mar de agrura e ressentimento que inviabiliza a busca de soluções para os problemas com que se confronta, destorcida a perspectiva pela qual se poderia encarar essa busca e esse problema, como uma oportunidade na vida que nos ajuda a crescer, a progredir e não, como um infortúnio que nos bate á porta para o qual nunca estamos preparados, que nos abate e revolta... sem felicidade, sem a capacidade de lutar por ela a cada passo... dizia eu, é impossível haver saúde e vice-versa.
Se, a saúde implica a ausência de dor ou disfunção, orgânica ou psíquica, a falta da predisposição para a vida, pode ser interpretada como um dos primeiros sintomas de doença, em consequência, de uma qualquer, distonia.
O plano e o momento primordial em que essa distonia tem origem, nem sempre é possível de determinar! Pode acontecer ao nível da mente, no plano psíquico: um equívoco durante o processo de formação do carácter, um distúrbio emocional, uma premissa errada... pode ter um papel decisivo para se desenvolver um tipo de comportamento que cause alguma fricção, algum stress na relação que se tem com o mundo e isto repercutir-se na saúde orgânica do indivíduo. Por outro lado, também uma alteração do equilíbrio orgânico por razões tão fortuitas como, um excesso de poluição ambiental, uma intoxicação alimentar... terá repercussões no estado de espírito, condicionando o comportamento.
Temos por isso, que nem toda a doença tem origem na infelicidade e vice-versa. Existem doenças com origem em agentes externos: a poluição, a degeneração dos produtos alimentares, a educação incompetente e castradora, em que se alicerça o modelo social e económico em que vivemos -fonte de bloqueios, couraças e medos- que, fogem ao control do indivíduo. Contudo, através de complexos e (até ver) misteriosos mecanismos do sistema imunitário, o organismo defende-se e tudo leva a crer, que há uma maior resistência/competência desse sistema, numa pessoa que (disposta a rebuscar nas profundezas a força para esboçar um sorriso), persista na busca de caminhos para a felicidade... do que, numa outra que, sentindo-se traída pela sorte, assuma a tristeza como a consequência natural do estado a que o “destino” a votou e, viva, deprimida, revoltada, sempre dependente de ajuda, maldizendo e renegando a própria sorte. Ao contrário, pensarmos nos outros, tornarmo-nos disponíveis para ajudar alguém, pode servir-nos como acto profilático ou mesmo terapêutico, dar-nos mais força e resistência, fazendo-nos sentir úteis e por isso, dignos de amor, tão importante para a nossa realização e bem estar, integridade e saúde; física, mental e emocional e, se quiser-mos, espiritual!
No fundo o “truque”, parece girar á volta do dar e receber, do investir o melhor de nós, com a humildade suficiente que nos permita, reconhecer e corrigir erros, rumo a um ser cada vez menos imperfeito.
Trata-se, de ter um objectivo sempre á mão que passe por nos tornar-mos úteis a cada passo, mais que não seja... ajudando “a velhinha” a atravessar a rua!

3 comentários:

uivomania disse...

Olá Ana Teresa!
Os Índios brasileiros (americanos, os Ìndios da ìndia, de portugal e do Mundo em geral), deveriam, claro, ter sido ouvidos e respeitados. Lamentávelmente não o foram, lamentávelmente não o são, talvez um dia, se possam vir a corrigir alguns destes erros e possamos aprender uns com os outros, com a noção de que somos todos Um e, enquanto um de nós não estiver bem, isso se irá reflectir em todos os outros!
Quanto á relação entre o desempenho do sistema imunitário, os estados emocionais e a produção de cortisol, o mistério está, como pode alguém, face a uma situação de stress e desagrado, manter os níveis de cortisol fora do vermelho. Até que ponto, podemos dominar a mente, sendo ela própria um reflexo de um organismo de que paradoxalmente se tem pensado, poder ser ela própria o maestro. Onde, exactamente, nasce uma ideia? Há quem diga que nasce no nada! ...Aquele espaço entre matéria que preenche grande parte do que somos! A este propósito, há uma questão curiosa levantada por António Damásio no seu livro "O erro de Descarte": eu penso logo existo, ou, eu existo e logo penso?! Os pensamentos, provêem do nível extracelular/intersticial, através de minúsculos eventos bioquímicos, manifestações individuais celulares, dependentes de energias subtis... ou, é um mecanismo cerebral e totalitário onde toda a informação está concentrada e, mecânicamente é processada determinando a forma como todo o organismo funciona?...
Quero acreditar que, precisamos equacionar estes dois extremos antagónicos e complementares, para reflectirmos mais profundamente sobre este assunto fascinante e ainda, que deveremos estar abertos à interveniência de outros factores, forças/energias, extraordinárias, enquanto, no momento, fora da nossa capacidade para as compreender. ...Que misteriosos mecanismos, podem ser postos em marcha, através do impulso da força da vontade, independentemente da actividade das supra renais?! Como explicar curas espontâneas (Carl Seagle: Love medicine and miracles) em doenças terminais?

uivomania disse...

"Os processos bioquímicos e as ideias não são necessáriamente a causa um do outro", de acordo. "Tudo é constituído na relação com o meio", de acordo mas, expecificando que o conceito de meio terá de contemplar as duas faces da mesma moeda, o externo e o interno.
Entre estes dois meios, existe uma fronteira (no caso dos seres unicelulares a membrana, no caso de outros como o homem, a pele a córnea e as mucosas) através da qual se passam trocas com o meio externo, com o aparente objectivo de manter as condições necessárias para que o pulsar da vida se mantenha. No caso dos seres unicelulares, em que o sistema nervoso está ausente, podemos verificar de qualquer modo, a intenção firme de manter a vida, confirmando a existência de uma série de dispositivos e meios, através dos quais o perfil químico do citoplasma é mantido dentro dos parâmetros aceitáveis e, pressupondo da parte da célula, uma espécie de consciência da sua própria existência. À medida que os organismos foram evoluindo e avançando em ambientes mais complexos, em que a diversidade de opções se foi multiplicando, foram sendo desenvolvidos mecanismos mais sofisticados (como o sistema nervoso), reforçando por isso a consciência da sua própria existência proporcionalmente à evolução do seu aparato de sobrevivencia. As ideias serão uma consequência dessa sofisticação, a tradução e composição feita pelo cérebro, de mensagens recebidas do exterior e do interior em que circula de uma forma bioquímica e energéticas provindas do interstício, esse caldo que banha as células e em que todas as exigências do organismo, tendo em conta a sua necessidade de interacção com o meio externo, são expressas de modo a tornar possível o equilíbrio necessário à vida. As ideias, serão composições formadas por elementos que, se isolados, não serão mais que isso... Tomemos o exemplo de retirar um só nota a toda uma sinfonia! Como poderia essa simples nota isolada, provocar em nós um sentimento, gerar em nós emoções?!

uivomania disse...

Leva-nos, um pouco, para um problema metafísico! Somos nós um Deus e nossas células estão à mercê dos nossos caprichos ou, pelo contrário nós, enquanto Deuses assumidos, estamos à mercê do que se passa no infinitamente pequeno que não conhecemos ou temos, consciência? Que Deuses somos nós, por outro lado, dependentes do infinitamente grande, terreno de tantos mistérios fruto da nossa condição? Terá Deus enquanto reflexo da nossa ignorância, razão para existir? Servirá na perfeição enquanto conceito, para entendermos melhor o Universo? Iremos encontrar-nos connosco próprios no fim dos tempos?
Eu... julgo que o homem, um dia... depois de muitas mortes e vidas, de muitas aventuras levadas ao limite da sua imaginação, abrirá mão do seu sí, da sua existência como indivíduo, não encontrando mais, razões para ser "um". E, pela derradeira vontade, em não ser, explodirá, libertando cada partícula que em tempos quis atrair, espraiando-se, universo infinito afora, onde tudo começa e acaba de novo.