sábado, dezembro 30, 2006

A recaída

Este, é um país extraordinário! Surpreendente! Um país lamuriento, constituído por ausentes, destituídos, que se consegue sustentar numa crise permanente, desde sempre! Um País com números absurdos no crédito mal parado, que parece sofrer de transtorno bipolar. Se por um lado geme queixoso, desanimado, desmotivado, esgotado de carregar uma a crise às costas que pelos vistos é tradição, por outro, para descomprimir, aceita nesgas - contas ordenado, plafond negativo, cartões de todas as cores, empréstimos pessoais créditos ao consumo - oferecidas por agiotas que tanto ama como odeia, e à láia de compensação, corre às catedrais de consumo em desvario gastando até ao ùltimo cêntimo do que não tem, e, reconhecido ao S. Nicolau põe em marcha essa orgia em que se transformou o Natal, esgotando pavilhões cheios de ecrãns de plasma, telemóveis multifunções com mensagens mesmo grátis, máquinas de gargalhar, perús e leitões, sonhos... e de tudo o mais que lá houver!
Hoje, o país... (o mesmo que ainda este mês serviu como exemplo do que: não fazer, aos recentes candidatos à U.E.) mais uma vez, respira de alívio recorrendo à conta ordenado e prepara-se para a festa de fim de ano, na tentativa absurda de descarregar o sobrolho e esquecer as agrugas da vida. Enchem-se os depósitos de modernos carrões XPTO com prestações em atraso, enche-se o peito de ar, e vai de ultrapassar até dar... estradas fora, a fazer o gosto ao pé e a bater recordes de mortos na estrada... os hoteis sem vagas, as caixas multibanco recheadas, as barrigas enfartadas das rabanadas... preparam-se as entradas no novo ano, esperando que Deus nos valha para que não venha a ser pior que este!... Sim! Porque é disso que se trata. Espera e muita fé em milagres!
Viva o novo ano regado com Moe Chandon, claro! Até ao vómito! ...Um dia não são dias! Viva o maior fogo de artifício, a maior árvore de Natal!... Hoje o Ano Novo, amanhã o Carnaval, os feriados, as pontes, a Páscoa bendita, Agosto, Algarve, as viagens de avião a destinos paradisíacos a pagar lá mais para a frente!... E, nos intervalos, um país tristonho, ressentido com políticos que não cumprem a função de trazer o País sempre em festa, com os agiotas que lhe fazem amargar as passas que comeu no Algarve, exigindo e pressionando para que pague o desvario! Chegam mesmo a negar-lhe crédito! ...Os bandidos! ...Aí, é que o Zé descobre a magia do velho comércio tradicional! O tal do fiado! Só que, com esta crise que parece não ter fim, o Zé da merceeiria da esquina, fechou as portas este Natal e ao Zé dos Algarves, adivinha-se a recaída. Deus queira que não seja nada!
Ainda assim, bom Ano Novo a todos!

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Paz à alma de Friedman. Viva o individualismo.

No passado 16 de Novembro, morreu Milton Friedman. Talvez - nas últimas décadas -, o mais influente defensor do liberalismo económico. Com direito a Nobel, Friedman, acreditava no monetarismo, aconselhava o estado a não intervir, a deixar os mercados funcionarem livremente e garantia que o individualismo conduziria a um crescente bem estar social.
A ideia, vem do sec. XVIII e foi combatida por Marx que procurou provar que essa, era uma forma maquievelica de explorar quem trabalha... que é justamente do trabalho que nasce a riqueza e que, assim, é usurpada pelos mais ricos e poderosos, ou, pelos que têm menos excrúpulos.
As teorias de Marx, deram azo a alguma euforia mas revelaram-se sol de pouca dura. Particularmente na América, o liberalismo, ganhou nova pujança até à queda da bolsa em 1929 e à grande depressão (fico a pensar se esse liberalismo não a teria originado...). Aí, o liberalismo recolheu-se e deixou a reconstrução e a revitalização do país a cargo do estado através do movimento que veio a ficar conhecido por Keynesianismo!... O país recompôs-se, a economia cresceu e, já na década de 70, o liberalismo instalou-se a propósito de uma crise internacional a que não será estranha a guerra do Vietname...
O liberalismo instalou-se na América e talvez fruto da globalização tem vindo a expandir-se pelo mundo. Friedman inspirou Nixon, Reagan, Tatcher e até Pinochet.
Por cá, em Portugal e na Europa, também há grandes admiradores de Friedman: Muita gente que acredita na privatização das empresas públicas (que dão lucro!), já que o estado (quer dizer: todos nós!), não tem vocação para essas coisas!
...Entretanto, vamos mas é acabar com esses negóciozinhos de vão de escada que não dão para nada, e deixar trabalhar quem sabe. ...Quem percebe do assunto! Para quê 50 mercearias quando podemos ter um moderno hipermercado onde tudo é mais barato e há promoções todos os dias? Hum?!... Para quê esse comérciozinho de rua decadente, esse rol de fiados, essa contabilidade familiar difícil de controlar, quando, podemos parquear cómodamente à borla, em amplos estacionamentos de modernos e reluzentes centros comerciais com a contabilidade computarizada a entrar directamente no ministério das finanças? Hum?!...
Tudo muito mais barato, mais limpo e transparente e com o consequente bem estar social crescente de que falava Friedman! Pelo menos, lá individualistas somos nós!
O Estado, quer dizer, nós, só devemos intervir, se a coisa crachar. Se a bolsa cair ou se houver uma grande depressão! Ou não?