terça-feira, fevereiro 27, 2007

O direito à escravidão

Depois de duras batalhas, tinha conquistado o direito à escravidão!
Agora, finalmente, era escravo de um cartão... dourado, e não cabia em si de contente por finalmente se sentir gente com crédito, quase ilimitado!
Era um escravo consciente. Sabia perfeitamente o preço a pagar para poder contar com o ovo no cú da galinha. E dispunha-se a trocar as loucas euforias do consumo com que se afirmava como gente e fazia babar de inveja uns quantos, por previsíveis maus momentos em que sentia a ansiedade a disparar ao ver acumular uma mensalidade após a outra, juros altíssimos, comissões de atraso absurdas, impostos de selo...
O que mais lhe custava, eram os telefonemas inconvenientes daqueles agentes de call center que iam endurecendo o discurso e lhe apertavam o cerco asfixiando-lhe o ego!... Agentes de palavra dura e fria a raiar a má criação, assalariados de gente mesquinha que só pensa em dinheiro, de agiotas maquievélicos que contam com os imprevistos de quem conquistou o direito a ser escravo de um cartão dourado.
Nesses momentos, insurgia-se, revoltava-se, ficava ressentido, sentia-se injustiçado por saber já ter pago o dobro do que tinha gasto, em comissões de atraso. Fechava os olhos, e pensava para consigo se não haveria quem pusesse ordem nesta agiotagem. Depois... depois, foi o milagre! Abriu a carta... e... lá dentro, vinha um cartão de platina!...

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

O revesso da folha virada

Anda por aí muita gente em delírio a imaginar negócios onde os não há! Gente que só pensa no lucro, não estuda a fundo os mercados, e depois é o que se sabe!... E isto, não é só em Portugal! Desta feita, não é um Português, trisneto de conde ou marquês, a quem, por estar bem relacionado e inscrito no partido em que a coisa está a dar, lhe saiu na rifa um subsídio para pôr em marcha uma pata choca que não sai do lugar! Afinal, também aquí na vizinha Espanha, existem imbecis! Senão, vejamos: então agora que o crime não tem pena e que o Correia de Campos já disse que mediante uma taxa moderadora o SNS está em condições de fazer abortos às grávidas que não estiverem satisfeitas com o estado ( o seu, delas...), as clínicas Espanholas especializadas em fazer abortos vêem abrir filiais em Portugal?! Estranho! Não?!
Então, esta gente não entende que vão ficar às moscas? Que quem quiser abortar vai concerteza recorrer ao SNS, em que a troco de uma taxa moderadora vai ter tudo o que tem direito, incluíndo acompanhamento psicológico, assistência social, periodo de reflexão, assistência médica condigna com assépcia total e no geral, um "tratamento" exemplar!
...Ou, será que os nossos irmãos, estão a adivinhar que muito do que se disse não passa de retórica e que vai sobrar muito trabalhinho que o estado lhes vai pagar para fazerem?

domingo, fevereiro 11, 2007

Afinal, tenho voto na matéria.

Querem então convencer-me de que afinal, tenho voto na matéria! Justamente nesta matéria! Coisa de sim ou não... e prontos! Eis-me feito um cidadão com voz, exemplo vivo do que é viver em democracia.
...Pena que não me tenham pedido a opinião a propósito da Ota, do TGV, da administração privada em hospitais públicos, das fundações "sem fins lucrativos", do desvario das contas públicas nas autarquias com pérfidas ligações a urbanizadores construtores e banca, dos rios de dinheiro gastos em cursinhos profissionais que não servem para nada enquanto são cortadas verbas a muitos outros que poderiam fazer toda a diferença, da falta de ética de antigos ministros ao serviço de quem ontem tutelavam...
Mas, quem em seu juizo perfeito se atreverá a comparar essas coisas, com esta que agora está na mesa?! ...Ainda assim, arrisco dizer que por tudo isso e muito mais, se remetem pessoas, homens e mulheres para condições em que se vêem forçados a fazer o que ninguém gostaria de fazer! ...Vítimas da indiferença, da ignomínia, do individualismo e da hipócrisia. Da ignorância também e da leviandade que se apregoa ser coisa boa e liberdade.
Nunca gostei de testes americanos. Gosto mais das surpresas que nos pode reservar a dialéctica quando nos dispomos a ser delicados e, determinados nos propômos a encontrar e corrigir as falhas que nos induzem uma após outra vez em erros que todos reconheçemos.
...Mas o estado que somos e em que nos encontramos, o momento civilizacional que criàmos... exije-nos o pragmatismo do sim ou não, e prontos... virada a página, assunto arrumado!
O porquê, o porquê da coisa, não interessa para nada. Isso são lá coisas do Príncipezinho, da criança que existirá em nós, e o mundo é regido por homens grandes e determinados em virar pagínas dos cadernos com os assuntos que determinam como os mais convenientes a ficarem na ordem do dia. Interessa sim, cumprir um dever e dizer sim ou não! As causas, os porquês, verdadeiramente... não estão em discusão, e por este andar, é bem provável que nunca venham a estar.
...Um dia, interrogado sobre a utilidade de se fazer ou não um referendo a propósito de Mastrich, o Professor Doutor, antigo Primeiro Ministro, actual Presidente da República... esse vulto de proa, esse quase mito que talvez um dia venha a ganhar um prémio de grande Português num concurso qualquer, disse que não valia a pena! E, não valia a pena... segundo disse, porque o assunto era demasiado técnico e o povo não percebia nada!... Vai daí, o governo da altura decidiu como entendeu e prontos!
Mas hoje, o governo em funções e com maioria, prefere referendar do que se arriscar a decidir e prontos! È que o assunto, exige demasiada ètica e neste particular, já o povo é um especialista! Os políticos, é que parece... que têm algumas dificuldades!