sábado, janeiro 29, 2005

Doce amargo

A vida tem marés, tal qual o mar.
O mar, umas vezes parece irado! Bruto e revoltado eriça e revolve o fundo, agita a superfíce e bate na rocha dura até a transformar em areia grossa. Outras vezes, de tão calmo e espelhado, reflecte a tranquilidade que ele próprio assim transmite e que nos pode até levar a pensar, que essa é uma situação, que nunca irá mudar!
Ou, de outra maneira, se quiserem... a vida tem fases, como a lua. Umas vezes cresce brilha e alumia, enquanto noutras... escurece e mingua, quase que desaparece e até parece ter entrado em período de tréguas com as trevas.
A vida, de qualquer modo, é uma doida varrida, fogosa, que nos cavalga aos ombros e nos maneja as rédeas... que nos puxa, ou alivia, o freio. Tanto nos espicaça como deixa à rédea solta. Umas vezes pesa e outras nos eleva...

sexta-feira, janeiro 28, 2005

O penitente

Ele era uma pessoa normal. Temente a Deus, católico não praticante por tradição, apostólico sem saber porquê, romano porque era latino, baptizado em pequenino e até já casado pela igreja, para não desgostar a família!...
Aprendera entretanto... que no prazer se escondia o pecado, que da dor, da miséria e do sofrimento, vinha a redenção e que, era mais fácil um camelo passar pelo buraco do cú de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus!... Temer a Deus... enfim!...
Paradoxalmente, tinha imensa pena dos"pobres" e das gentes em agonia... o que fazia com que, à noite, depois de se deitar, de se aconchegar e aquecer, nunca se esquecesse de orar a Deus; pedia, cheio da esperança possível, para que Ele fizesse justamente o que ele não fazia no seu dia a dia... e tornasse mais suportável o peso da cruz ao miserável.
...Esta pretensão (fruto de uma reflexão sonambula), tinha no entanto um senão que tornava este pobre crente num coitado quase arrependido de ter orado e pedido!... É que, ao pedir a Deus para amenizar a dor ao sofredor, sentia-se a dificultar-lhe a entrada no reino a que ele próprio (assim com'assim...) aspirava!
...Um dia, mal acordado, estremunhado, com a alma cheia de culpas e a consciência pesada pelo mal que por bem tinha vindo (ainda que só...) a pensar, resolveu penitenciar-se. Libertar-se da piedade que fazia dele um egoísta e, decidido a disfrutar de prazeres e riquezas, procurou compensar todos de quem tinha tido outrora imensa pena, explorando-os até ao tutano, infligindo-lhes sofrimento, atingindo-os na outra face... tudo, por forma a não terem tanta dificuldade a entrarem no tal reino, de que ele tinha descoberto a chave...

quarta-feira, janeiro 26, 2005

O gigante assustador

O Adamastor, era um gigante assustador pelo medo plantado num cabo, que ninguém sabia se por Deus ou pelo Diabo e que teimava, em criar dificuldades e tormentas a quem o quisesse dobrar. Muitos dos que partiram, embarcaram nessa aventura quase ou mesmo obrigados. Uns, por falta de alternativa, outros, saturados da miséria. Ambos levavam no peito a ânsia de chegar a terras da boa esperança em que o mel fosse mais doce, não houvesse fel e o ouro brilhasse mais. Alguns... poucos, foram pela aventura, almejando vencer medos desbravando mares ou até com fé de encontrarem, partes de si por aí espalhadas, que lhes pudessem encher vazios que os traziam incompletos.
Partiam por levas, uma e outra vez... e eram os poucos que voltavam, vencidos por esse gigante arrepiante plantado no cabo, que contavam da sua assustadora monstruosidade, da sua grandeza e enorme ferocidade. Uns, tinham-lhe visto claramente vistos os olhos imensos, ameaçadores e faiscantes, outros, tinham ouvido ensurdecedores bramidos trovejantes e outros ainda, por forças misteriosas petreficados, impedidos de ver e ouvir pela própria tempestade, puderam ainda assim com muita certeza adivinhar, por entre chuva e rajadas de vento sobrenaturais, o gigante a lançar certeiro raios e vagas aterradoras, de que só se salvavam os mais cobardes ou aqueles que por mister ou destino lhes cabia vir mais atrás e, claro, os outros a quem Deus, por razões que o homem desconhece, decidira "deitar a mão"!
Os que tinham ficado, os que participaram à força de braços, de sangue, suor e lágrimas, na construção das naus agora feitas destroços, desanimaram... ouvindo relatos sobre a altura e a força do gigante... imaginando os seus bramidos e poderes devastadores! ...Mas já na enxerga, enquanto recuperavam forças, viam o desânimo transformar-se em raiva, o medo transformar-se em revolta contra o dito e era daí que nascia a vontade e a determinação, para cada um à sua maneira, apurando a sua arte, continuar a construir naus, cada vez melhores, mais fortes e até... mais belas.
Apurou-se a arte de navegar, agigantou-se o sonho e a aventura e todos prosseguiram as suas tarefas em sintonia, perseguindo o objectivo que era: Dobrar o gigante!
Hoje o gigante, feito rochedo desde a altura em que foi dobrado, esvai-se em areia fina... Nacionalismo à parte (porque isto tem mais a ver com a vontade dos homens e ele há-os por todo o lado), parece-me uma bela história...

sábado, janeiro 22, 2005

Défice

Os portugueses, andam desanimados... ombros caídos... olhos no chão... sentem-se traídos e vão ressentidos, arrastando-se penosamente na vida, em busca de terra firme ou, na sua falta... de culpados, que lhes tirem algum peso dos ombros! Sentem-se perdidos e sem rumo, neste país caravela desde sempre por vagas lambido. Ora contra, ora ao sabor do vento, da corrente e ainda que por vezes, com as velas esfarrapadas e o casco cheio de rombos das tormentas... vai... este povo, enfrentando os medos, os monstros e gigantes... e com essa matéria fabricando o seu destino.
Mas... há um défice! Um défice enorme de esperança... de coragem e garra, de vontade e determinação de chegar a bom porto. E esse défice, é bem pior do que o outro, de que tanto se tem falado. Não se resolve com teorias de economia de mercado, com operações de cosmética contabilistica, ou golpes de rins da engenharia financeira!
Há um défice. Agigantou-se agora mais uma vez o nacional fatalismo e já pouco interessa de quem é a culpa. Isso é passado!
Urge sacudir do pelo o ressentimento e o queixume, aceitar cada problema como um novo desafio, desatar cada nó que nos tolhe, bradar cada vez mais alto a liberdade e bater cada vez mais forte o pé à desdita, destemidos.
Urge sair do marasmo, pelos filhos, pelos avós e por nós. Sair da conversa de ir ao pipi, que anda à roda... à roda... não dá nada e que espremida, não deita uma gota.
Urge acabar com a inveja e a cuscuvilhice, com a crítica da política do bota a baixo e com a lógica de que é isso que nos põe em cima, sem sequer tentarmos elevar-nos para não corrermos o risco de fracassar.
Urge cultivar a excelência, a perfeição no pormenor, a gentileza escorreita, o olhar e o gesto solidário. O resto são tretas embrulhadas em papel de seda!
Urge mandar às urtigas os medos, chamar os bois pelos nomes e acabar de vez com o servilismo hipócrita e sem sentido.
Urge alcançar o máximo de humildade, com doses q.b. de auto estima que sempre jorra da solicitude enquanto vontade de ser útil.
E... quando com vozes melosas nos disserem: vêm por aqui... urge, analisar-mos muito bem, com a nossa própria cabeça, se é isso mesmo que nos convém.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Numeros redondos

770 milhões de euros - submarinos
252 milhões de euros - helicópteros
480 milhões de euros - aviões
334,2 milhões de euros - blindados

Total - 1.836,2 milhões de euros.

O hospital de Évora (por exemplo), tem vindo a fazer notar a necessidade de uma unidade de radioterapia. Custa 5 milhões de euros e evita a deslocação sistemática de 1000 doentes, do Alentejo até Lisboa.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Como vender um andar à filha em segurança ou como comprar um andar ao pai sem lhe ficar a dever nada

Com os filhos todos casados, os pais viviam agora numa casa demasiado grande e como em tempos tinham comprado um andar para alugar, agora devoluto, resolveram, por ser mais pequeno, mudar-se para lá!
Como o negócio do arrendamento se tinha revelado aquém das expectativas, sem falar das chatices que lhes tinham criado... resolveram vender o apartamento maior e pôr o dinheiro a render... no banco!
Uma filha agora a viver num andar demasiado pequeno por via de ter tido dois filhos, pensou em comprar o andar aos pais! Pôs a casa pequena à venda, pagou ao banco a hipoteca e negociou um novo empréstimo para comprar a pronto a casa aos pais que ficou por sua vez hipotecada. Os pais, meteram o dinheiro no banco a render numa conta a prazo e vivem agora dos juros.
Entretanto hoje, tanto a filha como os pais se queixam do banco. O pai, diz que recebe pouco e a filha que paga demais!...
Eu, depois de ouvir o que um paga e o que o outro recebe, não resisti a levantar a hipótese de terem feito o negócio entre eles: A filha vendia o andar pequeno, pagava a hipoteca ao banco e dava o dinheiro que sobrasse aos pais. Depois, era simples... a filha ia viver para o andar grande e ficava tudo em família. Em vez de pagar a prestação ao banco, pagava aos pais. Os pais, em vez de receberem do banco, recebiam da filha. Um pagaria menos e o outro receberia mais!... Mas disseram-me logo: Ó pá, isso assim, dava uma enorme complicação e se calhasse ainda se arranjavam chatisses!... E eu acredito! ...E dizem eles mal dos bancos!

terça-feira, janeiro 18, 2005

Querida ONU:
Escrevo-te, julgo eu oportunamente! Nem sei se tão depressa vai surgir um momento tão oportuno! É que os Americanos estão muito sossegados e eu pensei que talvez fosse de aproveitar a ocasião e mandar lá à América uns inspectores! ... Desses... das armas de destruição maciça! Sugiro-te esta acção, porque tenho fortes razões para acreditar que os tipos, com a mania das grandezas que têm, acabam por ser uma ameaça para o mundo! Não é que eles façam por mal! Talvez! Eles até têm explicado muito bem que nos estão a proteger a todos uns dos outros e olha que bem precisamos, porque tu por vezes parece que andas distraida!... Mas é que já não é a primeira vez, que eles ameaçam destruir e destroem mesmo e outras vezes em segredo e sem avisar. Cá para mim, desde que eles fizeram lá aquilo das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki, confesso, fiquei sempre com um pé atrás!... (destruição maciça, mesmo... foi aquilo!)
Julgo que seria uma bela medida porque ao que parece os homens andam a brincar com o fogo e então mais vale tirar-lhes o fogo das mãos, não vão eles deitar fogo ao que ainda não está a arder! E já agora, eles que se deixem de tretas e assinem o tratado de Quioto que se faz tarde!... Senão... (podes dizer-lhes que fui eu que disse) não vejo nem mais um filme americano. Eles que vão vender a realidade a outro!

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Ladrões e polícias

Perdoem-me os ladrões e os polícias! Esta história não pretende retratar qualquer situação real. Apenas tem por objectivo, ombrear com esses programas de entertenimento que alcançam enormes audiências e divertir, entreter e bem dispor! Se bem que não tenha a certeza de que esse objectivo possa vir a ser alcançado, espero com sinceridade, que não venha a ter o efeito contrário. Faço notar contudo, que a continuar a ler estas humildes linhas, o leitor, deve ter em consideração de que esta, é uma história sem pés nem cabeça, que faculta à pessoa que a lê a possibilidade de não pensar durante algum tempo, em coisas sérias da vida que só lhe trazem é ralações, mas... mantem contudo intacta, a liberdade que o leitor tem, de pensar no que lhe der na gana e melhor lhe convier!

- Achas... que eu deva vir a ser polícia ou ladrão? Perguntava a criança à mãe, olhando para o mundo da forma simples e com o espírito pragmático próprio das crianças, que reduzia as escolhas a estes dois extremos opostos, como se entre eles , não existissem bombeiros, pilotos de aviões, médicos ou maquinistas de comboio!... A mãe, posta assim perante a questão, estilo teste americano de sim ou não, isto ou aquilo... claro... respondeu, o que em princípio qualquer outra mãe responderia. -Ó filho, eu acho melhor tu vires a ser polícia. Não pondo sequer a hipótese de sugerir outras alternativas... achou piada à pergunta, contou à noite ao marido e esqueceu o assunto. E foi assim, que com inocente e inconsciente leviandade, marcou o carácter do filho para sempre, sem lhe passar pela cabeça, as voltas que a vida pode dar e quanta ironia o destino nos pode reservar!...

O filho, ao que tudo hoje em dia indica, olhando a coisa à distância, herdara no código genético, a tendência para ladrão, mas, por um complexo de Édipo submerso, nunca se tinha assumido, para não desagradar à mãe. Escolhera optar pela carreira de polícia, numa tentativa velada para a seduzir!
Aguentou viver frustrado uma parte da vida, até ao dia em que os génes gritaram mais alto que a razão e, perante a necessidade de internar a mãe, velha e doente, num "lar" "decente", se viu envolvido, num processo de corrupção.

Hoje, ladrão assumido, vive liberto preso, com a certeza de ter feito o seu melhor, feliz, entre gente que o compreende. A mãe, em consequência deste acontecimento, vive hoje na dispensa de uma tia afastada que tem vivido na miséria e a quem, a pequena pensão que a sobrinha aufere lhe faz um jeitão. Para além de física e materialmente estar impossibilitada de visitar o filho, vive amargurada, sem conseguir libertar-se do complexo de culpa, por ter dado aquele conselho ao filho e angustiada, com a dúvida, de se não teria sido melhor tê-lo aconselhado, a ser ladrão!

Conclusão: Se amar verdadeiramente a sua mãe e possa existir a probabilidade de ela um dia, poder vir a precisar da sua ajuda para ser admitida num "lar" "decente"... se a sua sensibilidade lho permitir e você sentir, desde sempre, vocação para ladrão... prepare-se para a vida... e nunca escolha ser polícia!

domingo, janeiro 16, 2005

Domingo, Janeiro 16, 2005

Apelo para a Humanidade

Tivemos a tristeza de ver recentemente o Tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em sete países da Ásia. Sabemos que esse tipo de facto é um acontecimento natural, porém havemos de analisar e acrescentar que a intensidade desse tsunami mostra-nos claramente que o desequilíbrio ambiental é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço que vivemos, para que não sejamos nós os responsáveis por catástrofes desta natureza.

Nós blogueiros, propomos desde já, unirmo-nos em um alerta para a humanidade, e implantarmos cada um de nós, a nosso modo e em nosso ambiente, medidas práticas de mudanças!

É tempo de se falar abertamente. É tempo de se abordarem as questões em profundidade e não de forma restritiva. É tempo enfim, de se falar a sério sobre a questão ambiental e ecológica. Sobre a humanidade!

E com razão. É que cada vez mais se toma consciência de que o combate pela preservação, não tem fronteiras, não é regionalizável e de que a resposta ou é global ou não será resposta.

As chuvas ácidas, o efeito de estufa, a poluição dos rios e dos mares, a destruição das florestas, não têm azimute nem pátria, nem região. Ou se combatem a nível global ou ninguém se exime dos seus efeitos.

As pessoas ainda respiram. Mas por quanto tempo?

Os desertos ainda deixam que reverdejem alguns espaços estuantes de vida. Mas vão avançando sempre.

Ainda há manchas florestais não decepadas nem ardidas. Mas é cada vez mais grave o deficit florestal.

Ainda há saldos de crude por extrair, de urânio e cobre por desenterrar, de carvão e ferro para alimentar as grandes metalurgias do mundo. Mas à custa de sucessivas reduções de reservas naturais não renováveis.

Na sua singeleza, o caso é este:

Até agora temos assistido a um modelo de desenvolvimento que resolve as suas crises crescendo cada vez mais. Só que quanto mais se consome, mais apelo se faz à delapidação de recursos naturais finitos e não renováveis, o que vale por dizer que não é essa uma solução durável, mas ela mesma finita em si e no tempo que dura. Por outras palavras: é ela mesmo uma solução a prazo.

Significa isto que, ou arrepiamos caminho, ou a vida sobre a terra está condenada a durar apenas o que durar o consumo dos recursos naturais de que depende.

Não nos iludamos. A ciência não contém todas as respostas. Antes é portadora das mais dramáticas apreensões.

O que há de novo e preocupante nos dias de hoje, é um modelo de desenvolvimento meramente crescimentista – pior do que isso, cegamente crescimentista – que gasta o capital finito de preciosos recursos naturais não renováveis, que de relativamente escassos tendem a sê-lo absolutamente. E se podemos continuar a viver sem urânio, sem ferro, sem carvão e sem petróleo, não subsistiremos sem ar e sem água, para não ir além dos exemplos mais frisantes.

Daí a necessidade absoluta de uma resposta global. Tão só esta necessidade de globalização das respostas, dá-nos a real dimensão do problema e a medida das dificuldades das soluções. Lêem-se o Tratado de Roma, O Acto Único Europeu e mais recentemente as conclusões da Conferência de Quioto, do Rio de Janeiro e Joanesburgo, onde ficou bem patente a relutância dos países mais industrializados, particularmente dos Estados Unidos, em aceitar a redução do nível de emissões. Regista-se a falta de empenhamento ecológico e ambiental das comunidades internacionais e dos respectivos governos, que persistem nas teses neoliberais onde uma economia cega desumanizada e sem rosto acabará por nos conduzir para um beco sem saída.

Por outro lado todos temos sido incapazes de uma visão mais ampla e intemporal. Se houver ar puro até ao fim dos nossos dias, quem vier depois que se cuide!... e continuamos alegremente a esbanjar a água do cantil.

Será que o empresário que projectou a fábrica está psicológica ou culturalmente preparado para aceitar sem sofismas nem reservas as conclusões de uma avaliação séria do respectivo impacto ambiental?
Mesmo sem sacrificar os padrões de crescimento perverso a que temos ligados os nossos hábitos, há medidas a tomar que não se tomam, como por exemplo:

  • Levar até ao limite do seu relativo potencial o uso da energia solar e da energia eólica.
  • Levar até ao limite a preferência da energia hidráulica sobre a energia térmica.
  • Regressar à preferência dos adubos orgânicos sobre os adubos químicos.
  • Corrigir o excessivo uso dos pesticidas.
  • Travar enquanto é tempo a fúria do descartável, da embalagem de plástico, dos artigos de intencional duração.
  • Regressar ao domínio do transporte ferroviário sobre o rodoviário.
  • Repensar a dimensão irracional do transporte urbano em geral e do automóvel em particular.
  • Repensar, aliás, a loucura em que se está tornando o próprio fenómeno do urbanismo.
  • Reformular a concepção das cidades e das orlas costeiras


  • Dito de outro modo: a moda política tende a ser, um constante apelo às terapêuticas de crescimento pelo crescimento. È tarde demais para desconhecermos que, quando a produção cresce, as reservas naturais diminuem.

    Há porém um fenómeno que nem sempre se associa ás preocupações da humanidade. Refiro-me à explosão demográfica.

    Com mais ou menos rigor matemático, é sabido que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Assim, em menos de meio século, a população do globo cresceu duas vezes e meia !...
    Nos últimos dez anos, crescemos mil milhões!... Sem grande esforço mental, compreendemos aonde nos levará esta situação.

    Se é de um homem mais sensato e responsável que se precisa, um homem que olhe amorosamente para este belo planeta que recebeu em excelentes condições de conservação e está metodicamente destruindo; de um homem que jure a si mesmo em cadeia com os seus semelhantes, fazer o que for preciso para que o ar permaneça respirável, que a água seja instrumento de vida e dela portadora, e os equilíbrios naturais retomem o ciclo da auto sustentação, empenhemo-nos desde já nessa tarefa, com persistência e determinação.

    Se é a continuação da vida sobre a terra que está em causa, e em segunda linha a qualidade de vida, para quê perder mais tempo?...

    Por isso apelamos a todos quantos se queiram associar a este movimento pela preservação Natureza, pela Paz e pelo desenvolvimento harmonioso da Humanidade, para subscreverem este Apelo.

    Ao fazê-lo estamos a afirmar a nossa cidadania, enquanto pessoas livres, que olham com preocupação o futuro da Humanidade, o futuro dos nossos filhos!

    Tudo está explicado em Fraternidade

    sábado, janeiro 15, 2005

    O cérebro da galinha

    Na sequência do post de 9 de Dezembro de 2004, "Metodo para apanhar uma galinha gordinha" e a pedido de uma família amiga, retorno ao assunto, sem malícia... ainda que com alguma ironia, em jeito de tempero!

    A galinha, dá uma bela canjinha (obrigado Ana, nunca é demais lembrar). Isso é ponto assente e se alguns não gostam da galinha em si, raros são os que não gostam, da sua canjinha!
    Vem isto aqui a propósito, de se ter vindo a dizer, que a galinha é estúpida e só cacareja, que a galinha é porca e debica em tudo o que mexe ou não, em tudo o que aparenta viver ou apodrece, que mete o bico onde não é chamada e passa a vida aturdida, em luta cerrada para sobreviver! E tudo, no fundo... para corresponder, ao que todos esperam dela!
    Eu acho, que isto é injusto e que não devia ser dito, principalmente por quem lhe chupa os ossos!

    Quer dizer... anda a galinha disposta a sujeitar-se a comer o que lhe aparecer, fugindo a qualquer custo espavorada, ao raquitismo... para, assim que engorda um pouquinho, ser apanhada em malha apertada e comida, por quem não se cansa de bradar aos sete ventos, muito "elegantemente"... impropérios sobre a galinha!...

    Que fariam os apreciadores de canjinha, se a galinha revoltada, se lhe metesse na cabeça pequenina, aprender a tocar piano e a falar francês, e se recusasse, a esgravatar ou até a comer a porcaria da farinha, que os aperciadores de canjinha lhe põem no prato?

    Qual o futuro, desses "apreciadores", se o cérebro da galinha crescesse, se lhe rasgassem os olhos, e sem medo de emagrecer, não mais fosse em conversas e não se deixa-se apanhar, por aquele velho método, de "como apanhar uma galinha gordinha?...

    Talvez então, tivessem um pouco mais de respeito pela galinha... e esta, de mais respeitada, viesse a entender que é no dar que está o ganho e passa-se a oferecer de bom grado, um ovo ou outro, que não estivesse galado!

    quinta-feira, janeiro 13, 2005

    Abdel e Branbila

    Abdel no mundo Árabe e Branbila na Itália, são nomes tão comuns como Silva em Portugal.
    Na sequência de um estudo levado a cabo na Itália, chegou-se à conclusão de que estão registadas neste país, mais pequenas e médias empresas de construção civil e reparações, mercearias de bairro, empresas de limpezas e de serviços e do sector terciário em geral, em nome de Abdel, do que de Branbila!

    Apresentado isto como um facto em que devemos reflectir, poderemos chegar a alguma destas conclusões? :

    A - Bin Laden, apesar dos esforços do auto proclamado protector do mundo ocidental, o desempoeirado Bush, insiste, persiste e não desiste da sua luta, invadindo o ocidente, agora de modo subtil e neste caso, infiltrando agentes com armas (mãos) de "construção" e limpeza, maciças. Estes agentes, que trabalham a coberto do papel do emigrante "coitadinho", obrigam neste caso o Italiano (em Portugal os agentes infiltrados são mais Brazileiros), a aceitar a sua mão de obra barata, com o verdadeiro objectivo de roubar postos de trabalho, de perverter o modelo económico em vigor, a cultura ocidental e de comprometer definitivamente a tão desejada globalização, partilha de mercados e encontro de culturas.

    B - Muitos Árabes, particularmente do norte de África, face à miséria escandalosa em que vivem, aceitaram como inevitável, a necessidade de emigrarem e de se sujeitarem a condições de vida e de trabalho, a que os Europeus torcem o nariz e a que não querem (e que podem não querer!) sujeitar-se, optando por aproveitar-se da miséria e necessidade destes emigrantes acossados, usufruindo de serviços a que, em alguns casos até, de outro modo não teriam acesso, alimentando assim, com mais ou menos consciência, a existência destes escravos dos tempos modernos, recrutáveis um pouco por todo o mundo.

    C - Outras conclusões...

    quarta-feira, janeiro 12, 2005

    Um verdadeiro anormal

    Eu tenho um amigo que não é deste mundo. Ele é um bocado "apanhado", tem coisas estranhas, surpreendentes, que nos deixam de cara à banda e cheios de dúvidas. Ao conhecê-lo, é fácil ser levado a imaginar estratagemas maquiavélicos a fervilhar-lhe na cabeça, tal a simplicidade da forma, com que se relaciona com o mundo. Dá e solicita com tal naturalidade, que a maior parte das vezes deixa o parceiro de pé atrás, tal a raridade desta franqueza, deste peito aberto muito para além de qualquer contabilidade. É comum tirar-se dos seus cuidados e zarpar solícito, em resposta ao apelo de um amigo e não raras são as vezes, que quem lhe está perto do coração, se vê presenteado com a sua presença e apoio oportunos, sem ter pedido nada!
    Quando conhece alguém e até prova em contrário, é regra partir do princípio de que esse alguém é "uma boa pessoa", por pura convicção que alimenta e faz crescer.
    Por vezes, em sequência de um impulso espontâneo para muitos misterioso, faz um simples telefonema para saber "como vão as coisas" ou para largar uma galhofa qualquer que aligeira a vida e reconforta, que aquece o coração com aquela bela sensação... de que temos alguém por perto que se importa connosco e nos quer bem! São telefonemas, que baralham a cabeça de quem só os faz, para cumprir regras de etiqueta, precisa de algo no momento ou actua com a sofisma própria de quem projecta pedir algo no futuro...
    É surpreendente a diversidade dos meios e extratos sociais por onde circula, sempre com o mesmo à vontade e franqueza, que lhe permite chamar os bois pelo nome sem ferir susceptibilidades e dá sempre a impressão, de que todos gostam de o ver chegar e ninguém gosta de o ver partir!
    O homem, não é contudo um lamechas! Bem pelo contrário. A vida para ele, é para ser levada em frente com coragem e alguém que se lastime ao seu lado, escusa de esperar pena ou dó e muito menos, por algum tipo de hipócrita compaixão estéril. Ao invés, a pessoa em apuros, vê-se envolvida de imediato num turbilhão, de onde emerge cheia de força uma estratégia, arquitectada em menos de nada, com o único objectivo, de derrubar barreiras e ultrapassar e resolver o problema, na medida do possível. Se for necessário dinheiro, tempo, paciência... para tudo podem contar com o seu empenho e determinação...
    Quando as coisas correm menos bem, vocifera dois ou três impropérios e logo acaba por dizer tolerante, que quanto mais dá mais tem... que toda a gente erra... e sem ressentimentos, deixa a porta aberta a novos entendimentos...
    Duas coisas só, lhe conheço, que o podem virar ao avesso: A arrogância e a falta de cumplicidade! Aí, o homem fica piurso e insensível perante qualquer drama ! É que ele diz, que sem cumplicidade entre nós (e eu julgo que sei a quem ele se refere) não há forma de lutar contra a arrogância!...


    terça-feira, janeiro 11, 2005

    Deficiência

    Todos diziam que ele era uma pessoa normal.
    Não era coxo nem cego, contudo, não via um palmo à frente e para andar, gostava sempre de se apoiar em quem o rodeava, com medo de cair. Não era mudo ou surdo e no entanto, pouco falava, evitava a todo o custo emitir opinião para não se comprometer e sobre o que ouvia, podemos dizer que pouco entendia, ou então... que não queria saber ou fazer o esforço para entender. Ele não sofria de nenhuma sequela de paralisia cerebral, não era para ou tetraplégico, mas ainda assim, não estava disposto a correr um mínimo de risco e por isso, nunca mijava fora do penico ou saía do carreirinho traçado para levar a vidinha. Era incapaz de dar um golpe de rins e não se afoitava no dia a dia, com medo de cair e não conseguir levantar-se. Não gostava de dar ou oferecer, receoso de poder vir a precisar do que desse ou oferecesse. Andava tão distraído com pena de sí próprio, que era incapaz de se soltar e ajudar, perder um pouco do seu tempo ou dar amor a alguém. Sem estar dependente de uma cadeira de rodas, olhava em redor e encontrava em cada obstáculo uma barreira intransponível, desanimando se ninguém o ajudasse. Custava-lhe pedir ajuda para não ficar em dívida e ficava triste, deprimido e ressentido com o mundo, por estar sujeito a sofrer!
    Ele era um deficiente profundo... só, que não sabia.

    domingo, janeiro 09, 2005

    Um milagre popular

    Chegara um tempo, em que as estratégias económicas e financeiras levadas a cabo com base em velhas teorias políticas e sociais, os padrões da moral e da ética e o modelo estrutural em geral instituído, pelo qual a civilização se tinha vindo a reger, tinham revelado uma ineficácia de tal modo confrangedora, que não restara ninguém para assumir qualquer tipo de liderança.
    Perante a insatisfação geral, todos evitavam indicar ou aconselhar a quem quer que fosse, o que quer que fosse, com medo de que desse para o torto.
    Os políticos, tinham vindo a desaparecer progressivamente e já só existia um, conservado como espécie protegida, em ambiente esterilizado, que não exercia, devido a um esgotamento nervoso, já antigo, fruto de uma carreira de insucessos sucessivos e por falta de oposição!
    As próprias doutrinas religiosas, desde sempre enraizadas em sólidos dogmas, antes fácilmente adoptados quando as coisas ficavam mais negras, viam-se agora a braços com uma procura demasiado racionalista de um carácter pragmático raiando um fanatismo que as ultrapassava e tinham simplesmente fechado as portas por falta de clientes , de profissionais do sector e também, por tudo isso, por falta de motivação!...
    A humanidade, reclamava uma nova realidade, mas ninguém mexia uma palha que fosse fora do seu quintal, com medo de se ver investido com alguma responsabilidade.
    Ninguém queria emitir opinião ou tomar qualquer atitude, com medo de vir a ser mal interpretado ou chamado à ribalta em que por regra geral todos eram vaiados pelos outros!
    Perante esta situação, todos diziam mal de todos por entre dentes e lamentavam-se da situação para com os seus botões!
    Entretanto e à falta de melhor para compensar um estranho vazio que sentiam no peito, iam satisfazendo caprichos, consumindo o máximo possível sempre insatisfeitos com tudo o que tinham, procurando adquirir o que não tinham, almejando o longínquo e principalmente, o que aparentasse ser impossível de conseguir!... Até que um dia, saturados desta lufa lufa, desta pescada de rabo na boca, cansados deste tipo de miséria entretanto já global, resolveram sentar-se todos a uma mesa gigante, olharam-se uns aos outros nos olhos e começaram a conversar coisas soltas, algumas até sem sentido aparente e foi aí, desde logo, que repararam, que se estavam a sentir muito mais felizes!

    quinta-feira, janeiro 06, 2005

    O boi sem nome

    A Unicef emitiu um alerta:

    Operam neste momento no terreno, palco da catástrofe provocada pelo maremoto, grupos organizados que se dedicam ao tráfego de crianças!

    Muitos órfãos menores por sua conta e risco, muita gente em situação de carência extrema e desnorte que (na sequência da sobrevivência ameaçada) se esforça por engrossar a carapaça da insensibilidade perante o caos, o mercado negro, a falta de assistência médica, a fome... criam o cenário ideal, para que gente sem escrúpulos, actue, vestindo a pele de cordeiro evocando a vocação para levar a cabo assistência humanitária, procurando evitar a rotura dos seus stoks, com que desde há demasiado tempo têm abastecido e satisfeito o mercado!

    Se... não tivesse havido esta catástrofe e a vida nestas zonas do globo, continuasse a desenrolar-se como se tem vindo a desenrolar, se... em consequência do tsunami, não estivesse em força no terreno a UNICEF que presencia e aproveitou para denunciar esta actividade... pergunto:

    A procura desta "mercadoria" por parte do "consumidor final", que a quer adquirir, a tem vindo a adquirir e tem dinheiro para a pagar, estaria em declínio?!

    Aumentou, por algum fenómeno estranho, esta procura, em consequência do tsunami?

    Relacões:
    Extrema miséria mascarada de dócil pitoresco.
    Destinos de férias paradisíacos em palcos com figurantes com "armas apontadas à cabeça".
    Divisas ocidentais que põem qualquer labrego a papar meninas/meninos de 10 anos, lá longe.
    Olhos fechados aos devaneios de doentes mentais com dinheiro.
    Investidores sem pátria, promotores e vendedores de turismo sexual para todos os gostos ao nível da aberração.
    Venda de seres humanos (prostituição, pedofilia, trabalho escravizante, retirada de òrgãos...) para qualquer parte do mundo.
    Processos de adopção que cheiram a podre a milhares de kms de distância.

    Riqueza obsena, na mão de quem necessita urgentemente de ir tomar banho por dentro.
    Psicóticos, prepotentes e arrogantes muito dinâmicos com um fusivel fundido.
    Os coitados dos utilizadores que bancam a ignorantes e comem tudo o que lhes põem à frente em ar de brincadeira inocente, devaneio de uma semana com ida e volta ao "paraíso".

    E que podemos nós fazer?!

    - Podemos não fazer! Quem tem dinheiro para fazer uma proposta indecente, tem muito mais responsabilidade do que quem o não tem, em a não fazer!

    Já agora dêem um pulinho a : http://www.aidsportugal.com/article.php?sid=728




    quarta-feira, janeiro 05, 2005

    Sequestro

    A poesia sequestrou-me
    com um golpe de asa
    levou-me para casa
    e hoje é lá que vivo.
    É lá que choro de contente
    que me perco, encontro e revejo
    em cada um de nós.
    Ela...
    andava a pairar
    e fascinou-me
    pôs-me doido de alegria
    destruiu todas as minhas certezas
    cortou-me as pernas e deu-me asas
    não há que me queixar.
    Foi ela...
    que me salvou
    quando num súbito assalto
    me arrebatou e fez gente
    e completamente livre e solta
    a louca...
    me levou com ela para sempre.

    terça-feira, janeiro 04, 2005

    Querida Humanidade

    Como posso eu deixar de te amar
    Se de ti depende o ar que respiro, o meu alimento, a água que bebo?!
    Como posso eu deixar de te querer ver cada vez melhor
    mais linda e escorreita, mais alegre e empenhada em fazer cada dia mais belo,
    cada momento mais nobre e sublime...
    se é desse estado que anseio ver em ti,
    que me brota o ânimo para sair do torpor ao despertar?!
    Como posso eu, enfim... querer-te mal, esquecer ou renegar a tua existência,
    irar-me com a tua mesquinhez e maledicência, com o teu mar de forças brutas
    que te afoga mágoas sem fim, frutos de medos...
    de quem se vê a viver em espaços vagos de tanta imensidão...
    por onde viajas embasbacada,
    montada no dorso de uma galáxia que julgas à deriva
    através de um Universo
    que se te afigura infinito e de tão amplo, de tão fundo... te sugere solidão?!

    Quando te vejo...
    de olhar desmaiado numa qualquer paragem da vida,
    condenando tão simplesmente a tua realidade a tanta infelicidade
    (esse lugar ermo para onde arrastas o que te rodeia)...

    Quando te encontro...
    fria, calculista, entregando de bandeja a alma ao "diabo" a troco de miúdos
    com que adquires trastes voláteis, na ânsia de preencher um vazio que sentes no peito,
    de onde brotam turbilhões que te envolvem e trazem retorcida de amargura...

    Quando te armadilhas...
    com ciladas e mentiras, com explosivos à cintura
    com que espalhas o caos que te consome herdado de tempos antigos,
    povoados de sombras, de guerras, mártires e culpas...

    Quando violas a Terra...
    lhe sugas as entranhas até à exaustão extorquindo-lhe a matéria
    que usas para fazer as bombas, com que depois a perfuras em estratégias delirantes,
    como quem morde a mão ao dono...

    Confesso,
    que por breves momentos,
    na minha pequenez...
    me chegas a repugnar,
    com esses ares a que te dás tão levianamente, qual Deus,
    cheia de orgulho podre de arrogância cega e surda, com que afirmas pretender
    conquistar o coração do Mundo, governar a tua vida e alcançar a felicidade.
    Revoltas-me, confesso...
    com essa tua luta tonta,
    com que esmagas esperanças de paz,
    qual mariposa em desnorte,
    que voa direita à luz da chama em que queima as asas.

    Mas logo se me amainam os ânimos
    olhando a tua heroicidade
    enquanto caminhas na tua senda e te aventuras no escuro
    murmurando melodias de ninguém que nascem no fundo das almas sós, perdidas no tempo.
    ... E entendo...
    porque partiste, porque deixaste partir...
    cada amigo, cada pai e irmão
    de bandeira na mão marchando contra os canhões...
    Entendo... cada mentira,
    cada intriga semeada, cada saque,
    cada vício que adquires em desarmonia,
    cada pedaço de infelicidade
    que cozinhas emproada na panela do teu descontentamento...
    e adivinho nos recônditos,
    quero acreditar....
    em pedaços de amor oculto,
    talvez até já esquecido,
    envolvido por camadas de realidade, em constante e inevitável putrefacção
    e como para mim, nem sempre que algo corre mal é útil ou possível encontrar culpado
    e o homem não entende assim tão bem razões distantes...
    reencontro forças em cada erro em que persistes
    para te amar, cada vez mais
    ainda que com esgares de ódio, medo ou estupidez,
    me olhes de soslaio sem te rever em mim...
    em cada elevador, em cada túnel de metro,
    em cada praça pública que nos cruzemos, em cada edifício
    em que as nossas vidas fermentam paredes meias.

    Cada vez mais,
    quero eu lá saber, se és homem ou mulher...
    se és árabe ou cristão...
    se és um fanático do futebol ou se és preto ou esquimó...
    quero eu lá bem saber de tudo isso
    que como cascas de cebola nos envolve, dá forma e a todos tem, feito chorar!

    Sei!... Isso sim,
    que tenho que te amar.
    Nada mais me resta!
    ...Ainda que isso se possa revelar uma árdua tarefa,
    quer porque o teu cheiro me enjoe,
    os teus hábitos me choquem ou a tua arrogância me revolte.

    Com amor,
    não faz mais sentido
    que a ignorância e a miséria sejam fontes de riqueza e mais valia!

    Tenho que te amar e não posso perder mais tempo!
    O espaço ficou mínimo, para andarmos à beirinha a brincar à cabra cega
    com as cartas a cair da manga.

    O Sol, que nasce todas as manhãs
    ou as galáxias que não vagueiam sem destino,
    não continuarão a tolerar este tumor
    feito de ódio velho que teimas em adensar,
    este desamor que fazes ponto de honra em estimar
    desde que levantas-te as patas do chão
    escudado por detrás da "natureza humana"
    fazendo passar de boca em boca,
    de geração em geração,
    que nada mais nos resta senão:
    dar-mos cabo uns dos outros e partir a casa toda!

    Tenho que te amar, como a um filho, como a um pai...

    Quer os donos dos palácios,
    esses terráqueos enfeitiçados pela sua própria sombra,
    queiram ou não,
    tu, és o irmão a quem se perdoam todos os pecados
    o filho para o qual os pais olham embeiçados
    o homem com quem a todo o momento será possível,
    construir novas realidades que nos assentem melhor nos ombros!...

    Tenho que te amar... e urge fazê-lo já!
    Aqui e agora!
    Não quero mais suportar,
    ver-te nos olhos esse olhar
    que se me entranha na alma e contagia com essa peste
    que assola o mundo e me deixa sozinho como um cão tinhoso, uivando ao vento,
    espartilhado por religiões, filosofias, culturas... correntes em desvario...
    condenado a engolir palavras em seco,
    a ficar amargo e ressentido com tanta estupidez,
    com tanta bestialidade e falta de cumplicidade.

    Tenho que te amar
    e todos lá bem no fundo sabemos...
    que é urgente conversar!
    Fumemos o cachimbo da paz,
    bebamos vinho ou chá de menta, sabemos...
    que é essa a única maneira
    de encontrar pontes,
    portas e chaves
    e pouco ou nada tem a ver...
    com negociar!...

    segunda-feira, janeiro 03, 2005

    A arte de bem navegar sem ir a lado nenhum

    Era uma vez... um barco, a navegar, no alto mar. À primeira vista, dir-se-ia que era um barco como qualquer outro, com uma tripulação idêntica a qualquer outra, naturalmente empenhada em manter um qualquer rumo. Contudo, numa observação mais cuidada, fácilmente se chegaria à conclusão de que este barco em particular - se bem que não estivesse propriamente à deriva -, não se dirigia a nenhum lugar!...
    Por caprichos e acasos imprevisíveis, esta tripulação podia lançar a ancora, fazer marcha à ré ou mudar de rota, alternar o lazer com uma actividade frenética ou a euforia com uma profunda melancolia! ...Tudo, com profunda naturalidade.
    Por vezes, enquanto uns andavam muito ocupados a desfazer no trabalho dos outros, outros, recusavam-se a trabalhar por isso mesmo e, preferiam discutir sobre a melhor maneira de vir a fazer alguma coisa!
    O comandante - um provinciano em negação -, detinha o cargo por duas razões: a primeira, é que tinha herdado o uniforme de um antepassado que andara a matar mouros, e a outra, é porque tinha muito jeito para dar a volta ao texto. ...Quer dizer; tinha facilidade em dizer as coisas da frente para trás e de trás para a frente, podendo ainda desmentir-se, ou a quem quer que fosse, de tal forma... que ninguém conseguia deixar de lhe dar razão e de dizer mal dele pelas costas.
    Um pormenor curioso, é que não entendia absolutamente nada da arte de navegar. Não fazia a mínima ideia do que era a longitude ou a latitude e, se algumas vezes estabelecia determinada rota... era completamente à toa, ou baseado num filme de piratas que tinha visto quando era pequeno! De qualquer modo, se bem que desconfiasse do que pensava, gostava de acreditar que confiava plenamente na tripulação, ou pelo menos era o que achava que lhe ficava bem pensar!
    ...Quando lhe dava na veneta, embuido do sentido do dever, escrevia num papel qualquer coisa do género: "7 graus para norte, virar à direita com a latitude máxima"!... Em seguida, chamava o imediato, entregava-lhe o papel e mandava executar a ordem! O imediato, que tinha tirado um curso profissional de fiel de armazém e que se tinha visto naquelas andanças por ambicionar secretamente vir a ser comandante - talvez por isso -, gostava de inovar, sendo que a rota a tomar, poderia ficar: "7 graus para norte, 2 para sul, virar à esquerda com a longitude máxima"!
    No fundo, sabia que tudo ia dar ao mesmo, mas não deixava de pôr um ar solene, quando entregava as ordens ao homem de serviço ao leme! Este por sua vez, farto de ver que as rotas que recebia nunca conduziam a lado nenhum, acatava a ordem só para não se ver com um processo disciplinar em cima, mas virava o leme ora para um lado ora para outro, conforme lhe dava na gana, só para não parecer estar sem fazer nada!
    O comandante entretanto, ia passando a maior parte do tempo no camarote a beber uns copos e a magicar na próxima ordem... o que, a bem dizer, lhe tomava o tempo todo e o deixava numa pilha, já que assim que ordenava algo, tinha que começar tudo de novo, o que nem sempre era fácil, tendo em conta o perigo de se repetir! Quando a ordem não lhe ocorria, tinha uma de recurso, que nunca falhava: dividia a tripulação em dois grupos , um para sujar o convés e outro para limpar o convés!... Quem não gostava nada dessa tarefa era a tripulação e, por tradição, fazia sempre ao contrário, o grupo para limpar sujava e o outro é que limpava!... Nunca dava problema, porque, por sua vez o imediato, fazia o relatório ao contrário e acabava por ir dar ao mesmo!...
    Nos tempos mortos, estava instituído um grupo de pescadores à linha, ao qual cabiam duas funções: alimentarem a tripulação e - se por infortúnio, incompetência ou desleixo, acabavam por não pescar nada -, servir como bode expiatório a quem deitar as culpas e descarregar iras contidas.
    Quando, ainda assim, a rotina se tornava pesada, era dada uma ordem ao vigia, para gritar: Navio à viiiisssta! Ou, nos casos mais desesperados: Terra à viiiiissssta! ...Ainda que não visse nada! ...Era destituído do cargo e, depois de se remoer um bocado no assunto, não se pensava mais nisso.
    Por vezes, por acasos do destino, um marinheiro qualquer avistava efectivamente um navio. Mas claro, ninguém acreditava nele até entrarem em rota de colisão e safarem-se à última! ...Aí, davam a desculpa do engano na rota e pediam ajuda. Combustível, água, mantimentos, umas cervejinhas... o que pudessem dispensar...
    Nem sempre era fácil, porque os comandantes dos outros navios tinham alguma dificuldade em entender que tipo de barco era aquele... ficavam na dúvida se era de pesca, se de mercadorias, se de piratas... alguns chegavam a pensar, que era de recreio... dependia muito da fase em que a tripulação andava...
    O mais curioso, é que ninguém pretendia abandonar o barco ou mudar o que quer que fosse! Embora todos se queixassem, andavam entretidos a ver se conseguiam subir de posto!... Quando a situação se agravava para além do que consideravam razoável, faziam uma votação, em que, regra geral, se invertiam os papeis do comandante e do imediato e tudo começava de novo... ...Vidas!... De marinheiros.