domingo, janeiro 25, 2009

Frivolidade e indiferença; uma estratégia para viver na hipermodernidade

Depois de Deus ter morrido, de políticos e de especuladores donos de fortunas absurdas com que compram o poder, se verem obrigados a sofisticar a sedução para manter a estrutura de que se têm vindo a servir, eis que despontou nas modernas metrópoles do chamado mundo civilizado, o homem hipermoderno! Vacinado contra o comunitarismo, contra aventuras apaixonadas em busca de sentido para a existência, desassombrado... sabe-se e aceita-se só. Insensível, frio e implacável, distanciado de filosofias, afirma-se indisponível para dar consistência aos próprios afectos que comprimiu - confinando-os a um espaço exíguo -, numa atitude preventiva da desilusão! Parido no deserto do individualismo, aprendeu a sobreviver com placebos da existência. Inscrito - preparado, especializado, diplomado e devidamente certificado -, tem acedido a prostituir a alma para poder mimar o corpo. A ética, passou a ser estética, a moral, urde-a ao volante de um topo de gama com todos os extras e o vazio, tem-no preenchido a consumir com exigência, satisfazendo caprichos por cartilhas difundidas no espaço em que alimenta o ego. ...Por vezes, ele próprio tem um cão amestrado, por especialistas!
Perante a tragédia humana, ao invés de se deixar possuir pela inquietude, fugiu para a frente numa tentativa radical de optimismo, apostando que a sociedade de consumo ruirá sem consumistas. Tem querido viver de um trago e, em busca de prazer tem enchido os aviões, os hotéis, o bucho!... A industria do turismo precisa dele! Reclamam-lhe a presença na industria do entretenimento, da luxuria!... As instituições de crédito precisam de devedores e têm-no seduzido personalizadamente...
O homem hipermoderno, aprendeu a viver sem ideais, seguindo a etiqueta recomendada no protocolo instituído no vazio em que se movimenta, ao som de música ambiente sem consequências. Em troca, tem cultivado desejos e sente a responsabilidade de os satisfazer. ...Venderam-lhe a ideia de que chegou a sua vez!... Garantem-lhe, que basta estar inscrito. E ele, tem esperado que isso funcione cumprindo a rigor o seu pequeno grande papel, mantendo a aparência, nesta enorme máquina de pôr à prova a dignidade humana.
Contudo, o Mundo compõe-se de mudança!... O homem hipermoderno (por circunstancias que não vêm ao caso), viu-se obrigado a pôr a casa à venda e ninguém lha comprou em tempo útil! A sedução das instituições de crédito já não é o que era... e ele, em pânico, incapaz de começar a reflectir, de se desinstruir... caiu em contramão e anda a contribuir para retrair a economia. Este ano, já decidiu... não troca de automóvel!!!

6 comentários:

Beatriz Lamas Oliveira disse...

o homem hipermoderno não é nada nem ninguém:
quando muito será a média, a mediania, o inho ,o tolo.
Nós imaginamos sem dificuldade que as massas abúlicas,afónicas,insensíveis,
amorais e ..inestéticas,sempre foram assim constituídas por homens assim. Esse h hipermoderno é o modelo vazio que em épocas de guerra,de fome,de agonia empunha o chicote ou o estimulador eletrico e se revela o torcionário,o carrasco,o abusador.
Neste momento em Guantanamo Bay,como em Abu Greib,deve haver muitos desses medianos hipermodernos a prepararem a mascara da inocencia espantada e ofendida. "Eram ordens!!!"

Longe de mim!!!!

Beatriz Lamas Oliveira disse...

e para contrariar a acção dos tolos recomendo uma consulta ao fantástico site da

KIVA.ORG

Graza disse...

Felizmente não existe nenhum nas minhas relações em que as circunstâncias da vida me tenham obrigado a ter que aturar. Conheço-os porém à légua. E há uma curiosidade sobre eles: têm o condão de ficar assanhados ou nascer à nossa volta como cogumelos em determinados ciclos políticos, parecem ficar mais confiantes em determinados momentos. É um pouco talvez como diz a Fada quando fala dos torcionários: a natureza humana também lhes cria as condições de erupção na sociedade.

Beatriz Lamas Oliveira disse...

engraçado e típico:outro dia, num dos tais jantares,só porque disse que "os machos não me interessam,nem o dinheiro nem os carros" fui insultada por um hipermoderno tipico que me chamou de lésbica(ele sabe que eu tenho 2 ex-maridos e 3 filhos...) e declarou que mulheres como eu precisavem era de levar não sei o quê não sei onde...enfim...sobre os hipermodernos recomendo um artigo de
Levine:Consumerism, publicado on line
na www.zcommunications.org
que é uma excelente revista!!até o Chomsky lá está!!!

Beatriz Lamas Oliveira disse...

Human beings are every day and in numerous ways psychologically, socially, and spiritually assaulted by a culture which:

1-creates increasing material expectations
2-devalues human connectedness
socializes people to be self-absorbed
3-obliterates self-reliance
alienates people from normal human emotional reactions
4sells false hope that creates more pain .
Não resisti..é um excerto do artigo do Levine.Para aguçar...

uivomania disse...

O Levine fala bem só que os seres humanos, efectivamente assaltados, alguns até, à traição... no geral não reagem e, quando têm poder para reagir, normalmente começam eles próprios a assaltar.
...Quem não quer assaltar nem ser assaltado, tem que ter um belíssimo jogo de cintura para conseguir passar entre os pingos de chuva sem se molhar. Que isto de carregar a cruz sem lá ser pregado é uma ciência absolutamente hermética.