O Adamastor, era um gigante assustador pelo medo plantado num cabo, que ninguém sabia se por Deus ou pelo Diabo e que teimava, em criar dificuldades e tormentas a quem o quisesse dobrar. Muitos dos que partiram, embarcaram nessa aventura quase ou mesmo obrigados. Uns, por falta de alternativa, outros, saturados da miséria. Ambos levavam no peito a ânsia de chegar a terras da boa esperança em que o mel fosse mais doce, não houvesse fel e o ouro brilhasse mais. Alguns... poucos, foram pela aventura, almejando vencer medos desbravando mares ou até com fé de encontrarem, partes de si por aí espalhadas, que lhes pudessem encher vazios que os traziam incompletos.
Partiam por levas, uma e outra vez... e eram os poucos que voltavam, vencidos por esse gigante arrepiante plantado no cabo, que contavam da sua assustadora monstruosidade, da sua grandeza e enorme ferocidade. Uns, tinham-lhe visto claramente vistos os olhos imensos, ameaçadores e faiscantes, outros, tinham ouvido ensurdecedores bramidos trovejantes e outros ainda, por forças misteriosas petreficados, impedidos de ver e ouvir pela própria tempestade, puderam ainda assim com muita certeza adivinhar, por entre chuva e rajadas de vento sobrenaturais, o gigante a lançar certeiro raios e vagas aterradoras, de que só se salvavam os mais cobardes ou aqueles que por mister ou destino lhes cabia vir mais atrás e, claro, os outros a quem Deus, por razões que o homem desconhece, decidira "deitar a mão"!
Os que tinham ficado, os que participaram à força de braços, de sangue, suor e lágrimas, na construção das naus agora feitas destroços, desanimaram... ouvindo relatos sobre a altura e a força do gigante... imaginando os seus bramidos e poderes devastadores! ...Mas já na enxerga, enquanto recuperavam forças, viam o desânimo transformar-se em raiva, o medo transformar-se em revolta contra o dito e era daí que nascia a vontade e a determinação, para cada um à sua maneira, apurando a sua arte, continuar a construir naus, cada vez melhores, mais fortes e até... mais belas.
Apurou-se a arte de navegar, agigantou-se o sonho e a aventura e todos prosseguiram as suas tarefas em sintonia, perseguindo o objectivo que era: Dobrar o gigante!
Hoje o gigante, feito rochedo desde a altura em que foi dobrado, esvai-se em areia fina... Nacionalismo à parte (porque isto tem mais a ver com a vontade dos homens e ele há-os por todo o lado), parece-me uma bela história...
2 comentários:
A mim também! Medos e desânimos à parte são os Adamastores que nos apontam as forças que acreditavamos não ter. A eles, de alguma forma, o meu obrigada. Quando rugem tornam-me mais forte.
Bora lá ao défice!
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