Eu tenho um amigo que não é deste mundo. Ele é um bocado "apanhado", tem coisas estranhas, surpreendentes, que nos deixam de cara à banda e cheios de dúvidas. Ao conhecê-lo, é fácil ser levado a imaginar estratagemas maquiavélicos a fervilhar-lhe na cabeça, tal a simplicidade da forma, com que se relaciona com o mundo. Dá e solicita com tal naturalidade, que a maior parte das vezes deixa o parceiro de pé atrás, tal a raridade desta franqueza, deste peito aberto muito para além de qualquer contabilidade. É comum tirar-se dos seus cuidados e zarpar solícito, em resposta ao apelo de um amigo e não raras são as vezes, que quem lhe está perto do coração, se vê presenteado com a sua presença e apoio oportunos, sem ter pedido nada!
Quando conhece alguém e até prova em contrário, é regra partir do princípio de que esse alguém é "uma boa pessoa", por pura convicção que alimenta e faz crescer.
Por vezes, em sequência de um impulso espontâneo para muitos misterioso, faz um simples telefonema para saber "como vão as coisas" ou para largar uma galhofa qualquer que aligeira a vida e reconforta, que aquece o coração com aquela bela sensação... de que temos alguém por perto que se importa connosco e nos quer bem! São telefonemas, que baralham a cabeça de quem só os faz, para cumprir regras de etiqueta, precisa de algo no momento ou actua com a sofisma própria de quem projecta pedir algo no futuro...
É surpreendente a diversidade dos meios e extratos sociais por onde circula, sempre com o mesmo à vontade e franqueza, que lhe permite chamar os bois pelo nome sem ferir susceptibilidades e dá sempre a impressão, de que todos gostam de o ver chegar e ninguém gosta de o ver partir!
O homem, não é contudo um lamechas! Bem pelo contrário. A vida para ele, é para ser levada em frente com coragem e alguém que se lastime ao seu lado, escusa de esperar pena ou dó e muito menos, por algum tipo de hipócrita compaixão estéril. Ao invés, a pessoa em apuros, vê-se envolvida de imediato num turbilhão, de onde emerge cheia de força uma estratégia, arquitectada em menos de nada, com o único objectivo, de derrubar barreiras e ultrapassar e resolver o problema, na medida do possível. Se for necessário dinheiro, tempo, paciência... para tudo podem contar com o seu empenho e determinação...
Quando as coisas correm menos bem, vocifera dois ou três impropérios e logo acaba por dizer tolerante, que quanto mais dá mais tem... que toda a gente erra... e sem ressentimentos, deixa a porta aberta a novos entendimentos...
Duas coisas só, lhe conheço, que o podem virar ao avesso: A arrogância e a falta de cumplicidade! Aí, o homem fica piurso e insensível perante qualquer drama ! É que ele diz, que sem cumplicidade entre nós (e eu julgo que sei a quem ele se refere) não há forma de lutar contra a arrogância!...
2 comentários:
pois é, de tão especial este teu amigo parece antes de mais uma personagem teatral. daquelas que os autores moldam e levam à perfeição. daquelas que sabemos não passam de sombras, até nos sonhos. mas se existe e é real então parabéns! um abraço
Só por curiosidade, ele existe mesmo!
Enviar um comentário