domingo, fevereiro 13, 2005

Amor ou talvez não... como sempre

Ia ele atarefado, no meio da multidão, quando o móvel tocou.
- Tou tou?...
Do outro lado, uma voz macia, com duas palavras, abalou-lhe toda a estrutura:
- Olá, "Fontanela"...
Estremeceu! ... "Fontanela" era o nome que usava num blog que mantinha e, fosse lá pelo que fosse, nunca tinha contado essa parte da vida a ninguém!... Mal refeito da surpresa, respondeu:
- "Fontanela"?!... Mas... quem é que fala?!... Com quem é que quer falar?
- Ora... deixa-te disso! Claro que é contigo que quero falar e pouco me importa o teu nome! Sabes ou não que eu existo, que comungo das mesmas ideias e das mesmas preocupações?... Tens ou não a noção que estamos muito próximos um do outro, que somos células do embrião que se está a formar?...
Por breves momentos que lhe pareceram eternos, ficou sem saber o que dizer... talvez por isso, numa tentativa de ganhar tempo, insistiu:
- Deve aquí haver um engano... para que número é que quer falar?
Mas a mulher, com voz doce que a ele lhe parecia estranhamente familiar, não lhe abria uma pequena brecha por onde se pudesse escapar, antes o encurralava e obrigava, a encarar que sabia perfeitamente com quem estava a falar. De resto, grande parte do dia pensava nela, muito do que dizia, tinha a ver com o que ela escrevia e, já não sabia, como se tornara possível uma tal empatia com alguém que não conhecia. Estaria ele contagiado com uma peste moderna, propagada através da net que se instalava e desenvolvia no terreno fértil do imaginário dos homens sós? Mas a voz doce não lhe deu tréguas e lançou um desafio demolidor:
- Um doce... em troca do meu nome...
Ele, engoliu em seco. Pelo absurdo da situação, mas, acima de tudo pela íntima convicção de que ela, era a "Ilha submersa", a mulher a quem tinha vindo a seguir com minúcia tudo o que ela teclava e com quem frequentemente trocava comentários! Á partida não tinha qualquer lógica!... De qualquer modo, num impulso sem explicação, como num sonho, arriscou:
- És a "Ilha submersa"...
De imediato, a chamada caíu e ele, num gesto largo, afastou o telefone do ouvido e olhando desolado em redor a multidão atarefada, viu surgir direita a ele, uma mulher com um telefone na mão, que se aproximou bem pertinho e insinuante lhe disse:
- Bingo!

3 comentários:

ana.in.the.moon disse...

Ora aí está uma mulher que se considera "um doce". :)
Bem, já se fala em "emissão de aromas" via internet, o que quer dizer que, mais dia menos dia, nos vai mesmo afectar todos os sentidos...

pindérico disse...

Afinal, querendo ou não, todos seremos células desse tal embrião que. adquirindo dia a dia formas mais definidas, ganhará mais força e inexoravelmente conquistará, pela força das ideias, posição de mérito no tabuleiro onde se joga o nosso futuro colectivo.

boavida disse...

Interessante mensagem. Na aldeia global, um dia destes, todos nos "conhecemos"!