Revoltado o mar como estava durante aquela maré viva, abalava-te as convicções e reforçava-te os medos!
Quiseras... em aflição - dando a quilha à vaga e desfraldando a vela -, esperar dos teus pares as asas da fragata, a coragem e a cumplicidade... mas, a força com que o mar te abalroava, a água salgada que em vendaval te entrava pelo frágil bote adentro e te mirrava os ossos, uivou-te à alma - uma após outra vez - que estás só!
...Teimoso, não ligaste. Não quizes-te acreditar. ...Para o caso tanto se te dava!... Destemido, rumaste a um destino, por rotas que não vêm no mapa. Intrépido, à medida que avançavas vaga acima e te vias a mergulhar na cava que ameaçava destroçar-te, deste por ti abandonado. ...Justamente por gente que por medo abandona o barco e se faz náufrago agarrado a frágeis tábuas, ramos, troncos ou lixo, coisas diversas que por norma se mantêm à tona, enquanto eras assaltado por piratas e apontado como louco, por homens que se diziam de boa fé e que passavam ao largo da tempestade...
Salvo que foras um dia por ti mesmo (aquele outro que de si ninguém conhece)... conheceste-te a acreditar, que o que fosse se veria e, perante a brutalidade daquele mar que ameaçava destroçar-te, conduzir-te em vertigem por abismos escuros com que nem os mais fortes e rijos, os mais maus e duros, os mais corajosos em mar chão... se atrevem a sonhar... tu, avanças-te, agarrado ao leme, do cada vez mais frágil barco, de onde tantos tinham saltado descrentes na chegada ao bom porto que acreditaram desejar.
Sabias (e não te vou perguntar como)... que há mais mar que marinheiros, que depois da tempestade vem a bonança, que enquanto há vida há esperança, que quem almeja sempre alcança e que, a calmaria... apenas serve para retemperar forças. De contrário, seria o marasmo... e a vida, não seria esta utopia neste mar salgado, ora calmo, ora eriçado, que revolve e agita, que mata e cria, para que tudo continue sempre, como até aqui nunca tinha sido!
Sabias... mas duvidavas! Fustigado por ventos de poderosas rajadas, desgastado que estavas das estaladas e dos golpes brutos vaga afora até à crista... dos golpes baixos mar cavado frio e denso adentro...
Querias manter-te à tona... e quando um dia em bolandas, em plena tempestade descobriste que podias fazer disso o porto de chegada... a razão da tua vida... ela, pregou-te a partida e lançou-te para a tonta calmaria de uma estúpida enseada! E foi aí, que, dando conta das feridas, te encontraste esgotado a congeminar novas aventuras.
5 comentários:
Fiquei a pensar..."sabias...mas duvidavas"...então não sabia!!!....
jinho, BShell
...Sabias... mas duvidavas!
Querida Blueshell... em primeiro lugar, obrigado por me fazeres repensar. De qualquer modo, acabei no ponto de partida... na enorme ambiguidade que é a vida!
Bem sei, que vivemos num mundo que se pretende de certezas, coisas concretas e provadas, sem margem para dúvidas. Por isso, o herói deste post tinha dúvidas. Pela dificuldade de sustentar aquilo que sentia que sabia. Em aflição, ouvindo os brados do senso comum... duvidava, mas, em detrimento da razão, acabou por escolher esta coragem cega, que nasce da intuição e que o fez continuar, em vez de se deitar ao mar agarrando-se a frágeis tábuas, inundado pelo espírito do náufrago...
Quer em plena tempestade, quer numa calma enseada em que aparentemente não se passa nada... resta-nos sempre acreditar numa saída, num futuro, numa nova aventura... ainda que, assaltados por dúvidas, manter-mos a certeza fundamental, de que o que é verdadeiramente importante, está para além da razão e dentro de nós desde sempre! ...Ainda que duvidemos!
Quando li este "post", pela primeira vez, não tive nada para dizer. Mas agora venho perguntar: a veia inspiradora está de férias? Mostre-se, só para a gente saber "por onde anda"; ou melhor: que está por aí e está bem, porque "por onde anda" ninguém tem nada que ver com isso!
Estou tão cansada de tudo...BShell
Caro Biranta, obrigado pelo teu cuidado! Bem e cada vez melhor, é como procuro estar. De qualquer modo, o mar para estes lados tem estado um pouco bravo e o tempo que tenho para subir e descer velas, tirar uns baldes de água do barco e segurar o leme... mal dá para me coçar! Faz-se o que se pode... e, lá vai com prazer mais um post.
Bshell, como é natural... e, como eu te compreendo!...
Mas um dia não são dias e como digo no comentário anterior, resta-nos sempre acreditar numa saída... é, o que procuro fazer depois de actuar o melhor que sei e posso. O resto, é depressão e afasto-me o mais depressa possível, com um elixir aquí, um tónico acolá, uma visita a um amigo... e porque não, uma reflexão, um lento degustar do sabor amargo que por vezes nos caí no prato!
Beijão!
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