quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Guia prático para a construção de um moderno viveiro de marginais

1º - Escolher um terreno em que ninguém queira viver. Um sítio agreste e por isso barato, nos subúrbios de uma grande cidade.
2º - Construir lá, com pouca despesa, umas torres sem graça. Adicione-se um parque infantil com dois balouços e um bocado de areia. Não esquecer a escola para compor o complexo.
3º - Procurar famílias problemáticas, desintegradas, debilitadas ao nível físico e mental, económico e social, famílias... sem estrutura de recurso, em situações periclitantes que habitem bairros degradados, situados em terrenos com "potencial", cobiçados por construtores pontas de lança de instituições de crédito e bem relacionados com Câmaras Municipais e afins.
4º - Seleccionar os desgraçados por ordem e, em tempo útil, atribuir-lhes uma dessas casas estipulando-lhe uma renda dita simbólica.
5º - Convidar os órgãos de comunicação social para fazerem a cobertura da cerimónia oficial, em que, com pompa e circunstância, os representantes do poder político entregam as chaves aos ditos desgraçados. Promova-se uma entrevista a uma velha desdentada à qual seja ainda possível arrancar um pequeno olhar de esperança e um agradecimento convicto.
6º - Uma vez os desgraçados instalados, manter-lhes todas as premissas que os conduziram à degradação e, em lume brando, esperar que as crianças cresçam.
7º - Adicionar uma pitada de crispação dos habitantes da Vila próxima, em consequência de um ou outro acidente (vulgo roubo) que envolva pequenos grupos desses jovens sem referencias e educação e que se arrogam ao direito de possuir também, telemóveis, ténis ou roupa de marca...inconscientemente esperançados que esses artefactos, lhes permitam "ser como os outros", passar despercebidos e apagar um carimbo que trazem na testa desde que nasceram.
8º - Esperar que a revolta cresça... nos invasores e nos invadidos, nos assaltantes e nos assaltados... até que abra brecha.
9º - Juntar uns filmes de merda frequentes, ao alcançe de todos, decorar com o comércio de armas, drogas lícitas e ilícitas que engorda gente insuspeita que passa a vida a bater com a mão no peito sem dizer "mea culpa" e levar à mesa... regado com muito álcool ao qual é só puxar o fogo.

N.B. - Esta receita, deve ser confeccionada com muito cuidado, para não sair tudo queimado.

8 comentários:

pindérico disse...

E o drama é que esta receita já é utilizada um pouco por toda a parte!

Biranta disse...

Os "pobrezinhos" e a resolução das questões sociais, alimentam muito "comércio clandestino", produzem "muita riqueza" para uns quantos criminosos. Como se espera que esses mesmos façam alguma coisa para acabar com o flagelo? É preciso que "o mercado" se reproduza. É esta gente que nos governa, através dos políticos que são eleitos para representarem o povo. Inverter este panorama é uma tarefa gigantesca.

armando s. sousa disse...

Este guia prático, já é largamente utilizado nos subúrbios das grandes cidades, e infelizmente para a sociedade portuguesa, é uma das únicas coisas que está em expansão.

ana.in.the.moon disse...

Quanto maior for o número de desgraçados que lá vai parar, melhor e mais rápido será o resultado...

Ana disse...

Viveiros como esse infelizmente proliferam e aparecem como cogumelos selvagens que nascem sem sementeira nem cultivo. São o mal da modernização? Penso que não! São a ganância de uns impondo-se à fraqueza e necessidade de outros.
Infelizmente é o mundo em que vivemos.

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Juntemos "101 maneiras de cozinhar bacalhau" e temos Portugal no seu melhor!

pindérico disse...

Quem diria que este seu post ia ser tão oportuno!
Queria que soubesse que acabo de referi-lo no meu post de hoje sobre o ocorrido na Cova da Moura.
Cumprimentos

uivomania disse...

Obrigado a todos por enriquecerem o blog com os vossos comentários. Um obrigado especial à Tou na Lua e ao Pindérico. Esperemos todos que o teor deste post deixe de fazer sentido, quanto antes!