segunda-feira, maio 16, 2005

Continuação 1

O mal estar, o estado agudo ou crónico de infelicidade e no geral todas as alterações de ordem mental, têm sido dificilmente enquadradas e aceites, como um problema de saúde. Não esqueça-mos, os muitos epilépticos ou esquizofrénicos que foram sacrificados pela ignorância, hipocrisia ou impotência, relegados para um papel de personagens a destruir ou esconder, entendidos como aliados do diabo ou instrumentos usados por forças ocultas com intuitos demoníacos.
Essas pessoas, num passado bem recente, não eram consideradas como doentes. Não tinham direito a esse estatuto. Acabavam, na prática, por representarem inimigos a abater, ou no mínimo, a esconder, pela afronta á sabedoria e pelo incómodo geral que causavam, quer por perguntas ou afirmações estranhas, como por comportamentos bizarros, para os quais a ciência e a lógica, não tinham resposta ou explicação. Ora, como é hábito nestas situações, em vez de nos confrontarmos com a ignorância e impotência, temos uma tendência natural para olhar á volta, em busca de um culpado. No caso dos esquizofrénicos ou dos epilépticos, atribuía-se a culpa, de uma forma abstracta, ao demónio, ou a algum espírito maligno, que possuía o desgraçado e que, agindo através dele, perturbava a ordem e a paz, estabelecendo dúvidas onde deviam reinar certezas. Muitas vezes eram encontrados responsáveis para estas situações perturbadoras; bruxas, magos, seres das trevas, servos do Diabo... gente, com o poder de endemoinhar uma pessoa, personagens, pertencentes ao imaginário do colectivo e, relatos de crânios furados para que o espírito perturbador se pudesse escapar, chegam-nos do Egipto de há três mil anos atrás!

2 comentários:

ana.in.the.moon disse...

Todos nós somos muito limitados. Tudo o que não conhecemos ou não compreendemos é passível de crítica fácil ou de marginalização. Virar as costas ainda é a resposta mais intuitiva, logo a seguir vem a "reacção de bando", ou seja, a que tem um grupo de adolescentes quando vê alguma coisa que é diferente e que não compreende ou com a qual se assusta e que muitas vezes contempla em primeiro lugar a violência. Somos básicos e ainda temos muito para crescer.

uivomania disse...

Tounalua
Muito a crescer, muito a aprender e a reflectir à conta dos erros do passado individual e colectivo. Indispensável procurar, ultrapassar cada dificuldade, ser feliz no aquí e agora, ser solidário e conseguir amar quem nos rodeia, se bem que por vezes isso, pareça impossível! Não sei bem se isto vem a propósito mas, veio-me agora à cabeça uma frase que ouvi: a vida é um enorme campo de silvas, quanto mais esperneamos, mais nos ferimos, cabe-nos aprender a avançar com subtileza, de modo a tornar possível a travessia com um mínimo de danos. É isso que hoje, te desejo!