quinta-feira, junho 29, 2006

Genéricos

Por môr de quem, é que um médico que passa receitas com a comparticipação do estado, pode continuar a optar por receitar medicamentos de marca; duas, três e quatro vezes mais caras do que o genérico?
Se a esmagadora maioria dos utentes, não entende muito bem o que é um genérico, já o mesmo não se passará com os responsáveis pela gestão dos dinheiros públicos que, neste caso, continuam a engordar multinacionais farmacêuticas.
Eu cá para mim, 500mg de amoxicilina, são 500mg de amoxicilina e prontos! ...Independentemente da marca que lhe quizerem pôr. ...E não me venham cá com estórias de que... ah, mas é que... e não sei quê que mais... é que a fiabilidade... e tal...
Se os genéricos estão falsificados, estamos a ser enganados e a coisa deveria de ser tornada pública de vez. Se não estão falsificados, estamos a ser enganados também!
Então, mas tá tudo parvo, há medinho de beliscar multinacionais poderosas ou, há interesses inconfessáveis?

quinta-feira, junho 22, 2006

Um congressista bem intencionado

Foi relutante que subiu ao palanque. De lá, muitos tinham já botado discurso, denunciado e dado corpo a problemas, lançado alertas e suspeitas, criado polémicas... e, se um ou outro não o tinha feito à toa, a maioria limitara-se a escolher algo que no momento lhe parecia errado, encontrar um pressuposto culpado, apontar as baterias, e vai de o desancar sem dó nem piedade, através de exercícios de oratória que mascaravam frustrações e alimentavam a vaidade. Alguns ainda, mais ladinos, tinham na manga objectivos e ambições inconfessáveis, pelo que utilizavam uma retórica hipócrita, procurando levar a àgua a um moinho pequenino, que tinham no umbigo.
Subia hesitante, cheio de dúvidas nos princípios e conceitos herdados, espartilhado entre correntes, teorias e doutrinas e, se por um lado pretendia cultivar a humildade, a honestidade e a verdade, por outro desconfiava que essa sua pretensão pudesse não passar de presunção e no fundo fosse apenas uma forma de ocultar impotência e mediocridade.
Daí a relutância em subir e falar o que quer que fosse, de definir objectivos, traçar planos ou estabelecer prioridades. Tudo, por medo que algo pudesse dar para o torto ou até de se ver caido em tentação e ser apanhado a partir, a repartir e a servir-se da melhor parte, escudado na comum necessidade de não ser um parvalhão e acusado de falta de arte!
Era grande a tentação de não subir, quase tão grande como a vontade de mudar a realidade em que se via mergulhado e que, o incomodava e chegava a ferir em sítios fundos que não sabia definir.
Ainda assim subia, gostava de pensar que assumia risco! Subia, sem saber que uma multidão contratada por profissionais do ramo, marcava presença e se dispunha a demonstrar um vivo interesse em ouvir e apoiar o que quer que fosse dito. ...Uns para pagar ou obter favores, outros mais simplesmente em troca de um almoçinho, de uns copos de vinho, um dinheirinho... todos, se dispunham a acenar bandeirinhas, ovacionar, entoar palavras de ordem bem colocadas por profissionais cada vez mais especializados e competentes!
Discurso feito, espalhada a esperança, haveria gente que em troca dela e por se entender dela necessitada, se encarregaria de o levar em ombros a troco de nada, bradando aos sete ventos que era ele o salvador, o herói de que todos precisavam. ...Assim ele se empolgasse e deixasse fluir boca fora o que os especialistas contratados por quem na sombra o apoiava, lhe tinham injectado nas veias, reunião após reunião, congresso após congresso, palavra por palavra, através de métodos científicos modernos, com excelentes resultados comprovados.
Subia hesitante... mas à medida que subia e ouvia a multidão orquestrada a entoar o seu nome cada vez mais alto, deixou-se invadir por uma inebriante euforia que, como que por magia o tornou determinado.
Vencidas as dúvidas, limpo o picárro com que se chama a atenção a quem cabe ouvir, lançou-se delirante e apaixonado num discurso em que se dispôs a prometer, tudo o que quem o tinha feito subir tinha programado!...
Mais tarde, quando a culpa das promessas não terem sido cumpridas lhe caíu em cima e o tapete lhe foi retirado à medida que por necessidades estratégicas um novo personagem ia sendo promovido e incitado a subir ao palanque... ficou danado! Não fosse a fatia com que à cautela - enquanto partia e repartia - tinha ficado, e tinha dado o tempo por mal empregue. Assim, tirou umas férias para reflectir e preparar o regresso na pele de um novo personagem.

sábado, junho 17, 2006

Um peito cheio de vazio 6

Depois de tudo isto organizado, dividido o mundo em maus e bons para facilitar, pôde finalmente a elite do topo, começar a usufruir de algum lazer e, no entrementes , dedicar-se a sofisticar os meios de controlo para que tudo continuasse da melhor forma com um esforço cada vez menor.
Inventaram a muralha, a fronteira, o imposto, a moeda, o cunho, a multa e a pena, o pecado a confissão e a absolvição, da moca evoluiram para o canhão, para o agente de informação, o especialista em especulação, o cobrador de fraque... enfim, uma revolução que, se convenceram e apregoaram, de muito prática e de grande utilidade.
Entretanto, desse subgrupo da maioria - essa minoria tresloucada de que foram recrutados os soldados, os fiscais, os representantes legais e todos os outros que por terem na mira poleiros em lugares destacados, se tornaram capazes de seguir códigos e condutas de fazer arrepiar -, sobrou uma gente que se revelou impossível de ser seduzida, por melhores que fossem as promessas ou mais brilhantes os mundos e fundos apregoados! Avessos a este progresso, recusaram as condições de acesso e, não só não aceitaram licenças para cobrar impostos, como se recusaram a pagá-los! Diziam-se capazes de enfrentar o medo, teimavam em andar em bolandas em busca de melhor forma de vida e, não contentes com isso, insistiam em defender a maioria a que diziam pertencer, sem se importarem se ela queria ou não ser defendida. Afirmavam que era ingénua, e que, por ter vindo a ser embalada com canções do bandido e hipnotizada com néons de todas as cores... representava um perigo e não se encontrava capaz de decidir o que quer que fosse!
Teimosos, em vez de uma vida estável e tranquila, do usufruto de uma ração de subsistência que, embora pequena, lhes poderia vir parar à mão em troca de cooperação, esta gente renitente em aceitar as facilidades oferecidas, insistia na busca de melhor sorte, saltava cercas, fronteiras e muros que delimitavam zonas interditas com que não se conformavam, e arriscavam ser apanhados em finas teias fabricadas pelos próprios familiares e amigos, pelos compadres e, claro, por gente sem rosto... mandatários e mandados, carrascos e vítimas... uns e outros, movidos por medo e ambição.
Nessas jornadas atribuladas, nesses caminhos desconhecidos em que deambulavam para manterem a rédia larga, não raro, davam por si em zonas francas, bem para lá do que a vista alcançava (uma espécie de off shores desse tempo..), e ficavam embascacados com a facilidade com que se conseguia lá operar e retirar uma boa mais valia, pactuando com essa espécie de regime, esse submundo, que sem dúvida existia, sob um manto nebulosos de estranhas regras inventadas por quem tinha a faca e o queijo na mão e, como é bom de ver... interesse nisso! Mas, a maior parte das vezes, no dobrar de cada esquina, a coisa fiava fino e viam-se obrigados a botar sebo nas canelas e a largarem-se a bom correr. Faziam-se à travessia de desertos ou lançavam-se silvados adentro, sem escolher para onde iam e sem ligar aos estragos que essas fugidas lhes causavam na farpela, porque assim não sendo, o mais certo... era verem-se metidos num circo em que, enjaulados e amestrados à força de fome e chicote, pudessem servir de exemplo!... Seja lá pelo que fosse, há muito que ninguém lhes põe a vista em cima e, se uns acham que eles estão extintos, outros, preferem especular sobre embuçados e seitas secretas que se movem nas sombras em busca de iluminados.

Continua.

domingo, junho 11, 2006

Um peito cheio de vazio 5

Para levarem a cabo a coisa, quer dizer... para se manterem no topo, apoiaram-se precisamente nos que a fome e as carências tinham tornado menos escrupulosos, mais afoitos e perigosos, e que, por isso, eram a razão daquele incómodo constante.
Chamaram-nos à parte e, com um discurso demagógico aveludado, encheram-lhes os ouvidos de metáforas que falavam de sapos transformados em príncipes, gatas borralheiras escanzeladas preferidas a princesas ricas e roliças, taludas desencantadas no desespero das bolsas necessitadas, camelos a passar pelo buraco de uma agulha, nuvens fofinas cheias de virgens... e, com promessas quixotescas da entrega de reinos distantes para todo o sempre, ofereceram-lhes formação no manejo da moca, entregaram-lhes fardas e, em troca de total e incondicional dedicação às causas intrínsecas, garantiram-lhes uma ração diària reforçada, com sobras da primeira escolha. Em seguida, numa cerimónia bem composta, pensada ao promenor para exarcebar o orgulho e alimentar a vaidade, investiram-nos em postos de prestígio garantido, entregaram-lhes couraças, distribuiram medalhas, fizeram deles guardas, descobridores especializados na busca do que açambarcar, guerreiros e conquistadores que entravam a matar para tomar posse, vendedores de golinhos de àgua a preço de ouro nos desertos, e, aos mais fuinhas, transformaram-nos em fiscais, com a missão de apresentarem relatórios detalhados sobre o desempenho dos outros!
Aos mais ladinos, acharam por bem mantê-los ocupados no fio da navalha, na linha da frente, em duras missões de alto risco que, de tal modo exigiam acção e total concentração, que não permitiam pensar e por isso arquitectar o que quer que fosse...
Todos (de primeira, de segunda, ou rasos), recebiam a ração, conforme a prestação.
...Prestada a vassalagem, tornadas inquestionáveis as ordens superiores que os libertavam da culpa das barbaridades que iam cometendo, recebida a garantia de mundos e fundos, de vantagens transcendentes em acções e combates que se dispuseram a levar a cabo contra quem e onde quer que fosse, tomou forma uma classe, disposta a avançar conduzida e sem pensar, num nunca mais acabar de conquistas, quais fiéis em guerras santas com os olhos postos nos saques.
Investidos nesses cargos, passaram a construir a realidade com todo o à-vontade e, com base na crença adoptada de que "o mal", era com certeza o resultado da obra do Diabo,
enjeitavam qualquer responsabilidade no que pudesse dar para o torto! Ainda assim, se a coisa não lhes corresse de feição, tinham como recurso, uma série de rituais para utilizar segundo as necessidades e, orientados por especialistas, podiam sempre aceder a um Deus supremo e pedir para interceder e colocar as coisas, no lugar!
Em troca de um sacrifício, feita que fosse uma promessa, entoada cabeça baixa uma ladainha... era esperada com certeza, boa sorte para levar a cabo um massacre, com a mesma naturalidade com que se rogava o fim de uma tempestade, de uma doença maléfica ou de uma fase de má sorte!...
A maioria, aquela gente que de tal modo obsecada em se "safar", nunca enjeitou estar de bem com Deus e Com o Diabo, aquela multidão que como um rebanho em busca de erva tenra e fresca, passa a rapar sem parar ou pensar e, que sem saber porquê acredita não ter nada a ver com nada e gosta de balir... aderiu, muito bem a este estado de coisas.
Sumissa, no encalço de benefícios, aceitou cada ultraje, cada pedaço de sofrimento, cada violação ao recôndito mais casto da alma... e, era vê-la, a trocar sacrifícios por mais valias, confissões por perdões, acções por intensões...
Aderiram, também, não fosse serem confundidos com inimigos e, entendidos como infiéis, encostados à parede e varados lado a lado sem piedade.


Continua

quinta-feira, junho 08, 2006

Um peito cheio de vazio 4

Temos por isso que, enquanto uns poucos contestavam, penetravam em feudos de onde às escondidas sacavam o que podiam, e que para além disso ainda aliciavam a maioria para se lhes juntar, por outro lado, essa maioria que confundia a humildade com a subserviência e que, pela sua natureza se dispunha a fazer o que lhe parecia o melhor para sobreviver e se contentava em usufruir das sobras, sentia-se realizada em sonhar com castelos no ar e aceitava perfeitamente, que muito mais vale um pássaro na mão que dois a voar!
...Por ter ouvido, chegou até a acreditar e a passar de boca em boca, que quanto maior for a miséria em que se viva, maior será a felicidade durante a eternidade! ...Por qualquer razão, talvez em jeito de compensação, isso parecia fazer-lhes sentido!...
Os chefes, se bem que no geral se sentissem regozijados com os resultados conseguidos pelos métodos utilizados - o levantar da moca, o desferir a pancada, o gritar e assustar para gerar medo e enxotar, o cultivar o segredo, o adensar o mistério... -, não se conformavam com a trabalheira a que se viam obrigados, para continuar a conquistar e a manter, o poder em mão fechada! Frustrados, por não se poderem entregar totalmente à parte doce da vida, saturados da necessidade constante de olhar por cima do ombro para proteger a retaguarda, talvez até... ressentidos, feridos no orgulho por derrotas sofridas e saques desabridos levados a cabo por esses revoltados pobres e mal agradecidos... resolveram fazer-lhes face, com uma tàctica inovadora : engendraram uma hierarquia, puseram-se no topo, e distribuiram lugares privilegiados pirâmide a baixo. Os de cima mandavam nos outros, e os mais baixos de todos, que não mandavam em nada e suportavam toda a estrutura, cumpriam o que lhes era ordenado com a garantia de tudo ter já sido, muito bem pensado. E isto, veio a revelar-se um enorme sucesso.


Continua.

sábado, junho 03, 2006

...dasssssse!

O Mundo visto de uma perspectiva, está dividido em dois lugares. Num, parece fazer sentido a lipoaspiração, as cápsulas para queimar calorias, os inibidores de apetite...
No outro, a vida esvai-se por falta de um pouco de água, de um simples prato de farinha...
Talvez por isso, no primeiro, se consumam tantos antidepressivos, ansiolíticos e drogas... para não sentir mal estar, bem dispôr e fazer rir!...