sábado, dezembro 30, 2006

A recaída

Este, é um país extraordinário! Surpreendente! Um país lamuriento, constituído por ausentes, destituídos, que se consegue sustentar numa crise permanente, desde sempre! Um País com números absurdos no crédito mal parado, que parece sofrer de transtorno bipolar. Se por um lado geme queixoso, desanimado, desmotivado, esgotado de carregar uma a crise às costas que pelos vistos é tradição, por outro, para descomprimir, aceita nesgas - contas ordenado, plafond negativo, cartões de todas as cores, empréstimos pessoais créditos ao consumo - oferecidas por agiotas que tanto ama como odeia, e à láia de compensação, corre às catedrais de consumo em desvario gastando até ao ùltimo cêntimo do que não tem, e, reconhecido ao S. Nicolau põe em marcha essa orgia em que se transformou o Natal, esgotando pavilhões cheios de ecrãns de plasma, telemóveis multifunções com mensagens mesmo grátis, máquinas de gargalhar, perús e leitões, sonhos... e de tudo o mais que lá houver!
Hoje, o país... (o mesmo que ainda este mês serviu como exemplo do que: não fazer, aos recentes candidatos à U.E.) mais uma vez, respira de alívio recorrendo à conta ordenado e prepara-se para a festa de fim de ano, na tentativa absurda de descarregar o sobrolho e esquecer as agrugas da vida. Enchem-se os depósitos de modernos carrões XPTO com prestações em atraso, enche-se o peito de ar, e vai de ultrapassar até dar... estradas fora, a fazer o gosto ao pé e a bater recordes de mortos na estrada... os hoteis sem vagas, as caixas multibanco recheadas, as barrigas enfartadas das rabanadas... preparam-se as entradas no novo ano, esperando que Deus nos valha para que não venha a ser pior que este!... Sim! Porque é disso que se trata. Espera e muita fé em milagres!
Viva o novo ano regado com Moe Chandon, claro! Até ao vómito! ...Um dia não são dias! Viva o maior fogo de artifício, a maior árvore de Natal!... Hoje o Ano Novo, amanhã o Carnaval, os feriados, as pontes, a Páscoa bendita, Agosto, Algarve, as viagens de avião a destinos paradisíacos a pagar lá mais para a frente!... E, nos intervalos, um país tristonho, ressentido com políticos que não cumprem a função de trazer o País sempre em festa, com os agiotas que lhe fazem amargar as passas que comeu no Algarve, exigindo e pressionando para que pague o desvario! Chegam mesmo a negar-lhe crédito! ...Os bandidos! ...Aí, é que o Zé descobre a magia do velho comércio tradicional! O tal do fiado! Só que, com esta crise que parece não ter fim, o Zé da merceeiria da esquina, fechou as portas este Natal e ao Zé dos Algarves, adivinha-se a recaída. Deus queira que não seja nada!
Ainda assim, bom Ano Novo a todos!

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Paz à alma de Friedman. Viva o individualismo.

No passado 16 de Novembro, morreu Milton Friedman. Talvez - nas últimas décadas -, o mais influente defensor do liberalismo económico. Com direito a Nobel, Friedman, acreditava no monetarismo, aconselhava o estado a não intervir, a deixar os mercados funcionarem livremente e garantia que o individualismo conduziria a um crescente bem estar social.
A ideia, vem do sec. XVIII e foi combatida por Marx que procurou provar que essa, era uma forma maquievelica de explorar quem trabalha... que é justamente do trabalho que nasce a riqueza e que, assim, é usurpada pelos mais ricos e poderosos, ou, pelos que têm menos excrúpulos.
As teorias de Marx, deram azo a alguma euforia mas revelaram-se sol de pouca dura. Particularmente na América, o liberalismo, ganhou nova pujança até à queda da bolsa em 1929 e à grande depressão (fico a pensar se esse liberalismo não a teria originado...). Aí, o liberalismo recolheu-se e deixou a reconstrução e a revitalização do país a cargo do estado através do movimento que veio a ficar conhecido por Keynesianismo!... O país recompôs-se, a economia cresceu e, já na década de 70, o liberalismo instalou-se a propósito de uma crise internacional a que não será estranha a guerra do Vietname...
O liberalismo instalou-se na América e talvez fruto da globalização tem vindo a expandir-se pelo mundo. Friedman inspirou Nixon, Reagan, Tatcher e até Pinochet.
Por cá, em Portugal e na Europa, também há grandes admiradores de Friedman: Muita gente que acredita na privatização das empresas públicas (que dão lucro!), já que o estado (quer dizer: todos nós!), não tem vocação para essas coisas!
...Entretanto, vamos mas é acabar com esses negóciozinhos de vão de escada que não dão para nada, e deixar trabalhar quem sabe. ...Quem percebe do assunto! Para quê 50 mercearias quando podemos ter um moderno hipermercado onde tudo é mais barato e há promoções todos os dias? Hum?!... Para quê esse comérciozinho de rua decadente, esse rol de fiados, essa contabilidade familiar difícil de controlar, quando, podemos parquear cómodamente à borla, em amplos estacionamentos de modernos e reluzentes centros comerciais com a contabilidade computarizada a entrar directamente no ministério das finanças? Hum?!...
Tudo muito mais barato, mais limpo e transparente e com o consequente bem estar social crescente de que falava Friedman! Pelo menos, lá individualistas somos nós!
O Estado, quer dizer, nós, só devemos intervir, se a coisa crachar. Se a bolsa cair ou se houver uma grande depressão! Ou não?

quinta-feira, novembro 30, 2006

Formas de ver as coisas

Jorge Nogueira, numa nota de leitura em www.fnam:

Na Edição de 28 de Fevereiro do BMJ, Jane Burgermeister relata a proibição da privatização de hospitais, pela coligação governamental no poder na Suécia, por receio de que a expansão dos cuidados de saúde privados possa destruir o princípio de um serviço de saúde justo e gratuito.

As autoridades provinciais, responsáveis na Suécia pelo sistema de saúde local, não serão no futuro autorizadas a ceder a gestão de um hospital a uma companhia baseada no lucro. Isto depois de duas autoridades provinciais, ambas controladas pelos partidos de centro direita, terem privatizado alguns hospitais estatais. No entanto o Governo, uma coligação de social-democratas com partidos de centro esquerda, argumentou que a privatização de hospitais punha em causa um princípio fundamental da saúde do país – a saber, que o tratamento médico deve ser proporcionado a cada doente de acordo com a sua necessidade e não com a sua capacidade para pagar... e continua...

Por cá, parece que está tudo dito, ou visto! Quer dizer, quem quizer cuidados de saúde com a qualidade que um sistema inteligente deveria proporcionar, bem que pode esperar sentado (se restarem cadeiras)!...
Irónico, é o cidadão cívico que não quer "entupir" as urgências do hospital com uma pressuposta gripe do filho, passar 12h desde o posto da caixa (à cata de desistências que não houve, ou de uma "palavrinha" à médica que não a quis ouvir) até ao catus e, enquanto aguarda, deparar com uma página inteira do expresso que publicíta/noticía o novo hospital exemplar do lumiar, com maquete e tudo - um investimento privado de um subgrupo do BES -, e quando chega a casa, com o puto cheio de dores de cabeça e febre (afinal era varicela, andou por lá a contagiar a malta e não devia apanhar correntes de ar...), estar a dar o DR. House!

Não fosse a saúde um pilar fundamental para podermos sair deste pântano em que nos encontramos, e o facto de o pai ter faltado a um dia inteiro de trabalho, ou de o puto ter andado o dia inteiro e boa parte da noite naquele estado a espalhar o vírus da varicela, não seria assim tão grave mas, já se sabe, não somos Suecos. Temos de viver com o que temos! Estádios de futebol... e isso assim! Só para o Aquamatrix gastamos mais de um milhão de contos!... Os Suecos até ficam de olhos tortos...

quarta-feira, novembro 22, 2006

Afinal a banca é fixe, o mistério da multiplicação dos pães ou, de como evitar endoidar

Eu bem que suspeitava que não andava bem!... Sentia revoltas crescerem em mim, coisas vagas e sem sentido, que me levavam a projectar na banca a culpa de muitas das minhas penas. Cheguei até a pensar que a banca, manobra os políticos que põe e tira a seu belo prazer, por forma a que estes mexam na merda em que ela não quer sujar as mãos e que, com mangas de alpaca e colarinhos alvos, escolhe e determina o nosso futuro!
Nunca me tinha passado pela cabeça que se alguns de nós estão a viver numa casa, devem-no à banca! Delirante, pensava eu os contrários! ...Quer dizer, se a banca têm esses lucros, bem que podia agradecer a quem lhes compra o dinheiro para encher o cú a agentes camarários, urbanizadores, construtores e empreiteiros que, por sua vez também, lhes enchem o cú a ela. À banca! Via eu com maus olhos , um antigo ministro das finanças estar hoje a trabalhar para os bancos, a guiar-lhes os olhos ensinar-lhes os meandros... Achava eu sem sentido oferecerem-me um plafond negativo e depois de me cobrarem taxas absurdas, me penalizarem como cliente de risco... pensava eu que, antes de pedir dinheiro ao City Bank ou à Cofidis para regularizar prestações em atraso de um andar húmido com tijolo de 15, um dia, algum governo viria e diria: amigos... vão roubar para a estrada! ...Tão mal que eu andava!...

segunda-feira, novembro 06, 2006

Uma pausa na vida de um ser mundano

Respirava lento. Profundamente. Abandonado o medo, baixada a guarda... sentia o corpo acompanhar aquele ir e vir de vida, sem esforço. Fechara os olhos e inebriado deixou partir uma carrada de ilusões. Extinto o querer, só dava conta de existir. Ali. Naquele momento em que o caos se lhe afigurou a ordem absoluta!

quinta-feira, novembro 02, 2006

Deus é grande e afinal os políticos não são verbos de encher

Afinal, o aumento é pequenino! ...Lançado que foi para o ar 17... 15... %... sondada que foi a reacção da malta... apalpado o pulso... ouvido o "murmurinho"... ponderou-se a decisão e... lá saiu em definitivo, um número, políticamente bem estudado... económicamente equílibrado! A coisa, anda à roda dos 6%!... Uf! Afinal não é 15, nem 16 e muito menos 17.
Graças a Deus. Olha, se têm anunciado um aumento de 6% e tivessem aumentado 6%!...
Assim, já nos sentimos aliviados e a coisa acabou bem! Quer dizer... no fundo, acabamos por ganhar à roda de 10%. Lá para 2007 logo se verá!... Pelo menos, os números foram lançados ao ar e isso, é uma grande vantagem. ...É que quando vier o resto do aumento, já estamos psicológicamente preparados.
Pena, que para que tudo tivesse corrido da melhor forma, se tivesse de tirar uma série de vidas a um ministro que estava a ir tão bem!... Eles, lá sabem e já devem ter um novo na forja!...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Batatinhas com enguias

Querida EDP, Hiberdrola, BCP, Stanley Ho e demais accionistas... amigos e companheiros:
Esta é uma sincera missiva de solidariedade. Um reconhecimento pela vossa fraternidade. Uma declaração de préstimo, uma afirmação de presença para o que der e vier!...
E porquê agora?! ...Pois não é que eu, confesso, cheguei a chamá-los de chulos, de ladrões sem pejo, de selvajens cegos em busca de lucro iguais aos demais degenerados pela soberba causadores de tanta pérfida do mundo, seres demoníacos que fabricam e corrompem políticos que acabam por vender os haveres de um povo?!...
Mal eu sabia que me estavam a fornecer energia abaixo do preço de custo!...
Não que me queira desculpar... mas, quando ouvi que o Talone tinha apresentado os resultados de 2005 com lucros de 1,071 mil milhões de euros... sei lá... passou-me uma vertigem, entrei numa espécie de demência e, mea culpa... sim, pensei cá para mim: chulos!...
Como é que eu podia adivinhar que tudo isso era fruto da incompetência da administração pública, dos negócios no Brazil, na Espanha, da venda da Galp... e nós aquí no bem bom a alumiarmo-nos à conta!...
Afinal à medida que vão havendo as privatizações as coisas acabam por entrar nos eixos e o contribuinte fica a ganhar! É que bem vistas as coisas, assim, o contribuinte tem que forçosamente, poupar. E no poupar é que está o ganho!

P.S. - Se for possível, deixem-me pagar esta dívida lá mais para a frente. É que de outro modo, não há cú que aguente e eu já tenho os cartões de crédito todos queimados (Sou uma besta! Eu sei. E lá vos tenho enchido os bolsinhos para me andarem a dar energia!). A menos que... -e isto é só uma ideia... -, o Stanley me dê uma abébia num dos casinos, ou o BCP queira renegociar uma dívidazinha que lá tenho... se virem que não é possível, não se preocupem, eu aguento-me à bomboca... que remédio! Quem me mandou a mim, andar a gastar mais do que pagava?!...

quarta-feira, outubro 04, 2006

O muro! Um delírio Americano.

A 25 de Agosto de 2001, G. W. Bush discursou na Câmara de Comércio Hispânica e afirmou:
O México é um amigo dos E.U.A. O México é nosso vizinho e por isso é tão importante para nós derrubar as barreiras e os muros que possam separar o Mexico dos E.U.A. (negócios?!).

5 anos depois, projecta-se um muro com 700km para impedir a entrada de imigrantes ilegais nos E.U.A.
O custo previsto é de 6 biliões de dolares.
Querem os Mexicanos a trabalhar para eles mas, lá, no México. Pagos em pesos! Com 5 dolares por dia vive-se muito bem no México!

Existem 12 milhões de Mexicanos sem documentos nos E.U.A.
A esmagadora maioria trabalha sem poder reinvindicar qualquer direito e sujeita-se a ganhar abaixo do que seria suposto, fazendo assim crescer a economia Americana.

Os muros, estes muros... isolam e separam, dividem os povos e constróem-se quando os argumentos para explorar e não repartir agonizam e vão tombando por terra.

A imigração ilegal é um problema económico.
Enquanto multinacionais como a G.M. deslocarem fábricas para o México para poderem explorar legalmente operários Mexicanos, os E.U, vão ter imigrantes ilegais. Com ou sem muros. Claro que muitos vão morrer!
Quanto mais altos e compridos os muros, mais ressentimento, mais revolta, mais ódio...
Talvez por isso se chamasse ao muro de Berlim, o muro da vergonha! Talvez por isso, os Alemães tenham tido o bom senso de o demolirem e aceitarem repartir, arcando com as consequência imediatas! Talvez por isso o resultado do muro construido pelos Israelitas seja uma confranjedora paz podre que perpetua e aprofunda um conflito.

Os muros... estes muros, são sinais. Sinais de decadência, de impotência, soberba e prepotência. Sinais de que existem biliões para construir muros e não existem biliões para altear pontes!
O muro... este muro, prova claramente que mais uma vez, Bush mentiu. Desta vez, foi a 25 de Agosto de 2001, na Câmara de Comércio Hispânica.

quinta-feira, setembro 28, 2006

O figurante

À primeira vista ele existia. Circulava pelas artérias das catedrais de consumo, atento. Como um consumidor qualquer, num elegante e insuspeito passo lento... modo como fazia render o espaço e geria o tempo, evitando ser despeitado.
Excluído, sem perspectivas de contar para o que quer que fosse, sem o poder de consumir o que quem risca a realidade determina ser o mínimo aceitável... sabia, que o que andava por aí a fazer, era esconder a solidão e resistir à tentação, de cumprir a existência como cão sarnoso abandonado.
Volta e meia, meia volta dada como quem se lembra de repente de ao que ia... parava frente a uma montra e simulava um olhar arguto, com que encenava um interesse quase cínico. Olhava sem ver nada - absorto em lutas antigas em que tinha atingido monstros gigantes, moinhos... defendido donzelas, ofendidos... - e, no estilo mais digno que o reumático lhe permitia, trocava as voltas a improváveis observadores que gostava de imaginar, afastando-se desdenhoso, como quem nada lhe serve.
...Vasculhado o piso Zero, dirigia-se a uma escada rolante e deixava-se levar até ao topo. Altivo, sobrolho franzido a disfarçar a penúria, queixo empinado a disfarçar o vazio no peito, uma vez chegado ao piso Um... parava! Reflectia em nada... breve, e escolhia o rumo como quem ainda espera encontrar algo e sabe por onde começar.
Depois, era o passo comedido com medo de encolher o espaço, o cuidado de não parar em frente à mesma montra, de evitar dar a entender o fingimento de procurar alguém numa esplanada ou de não entrar com o olhar expectante segunda vez, no mesmo restaurante...
Por vezes, examinava a lista afixada na entrada com a minúcia de quem tem muito por ter vindo a poupar e, com o vagar de um bom apreciador, elegia um prato, a sobremesa, uma aguardente velha... e degustava lentamente num lugar qualquer da mente... através de um fenómeno misterioso que não sabia, nem queria, explicar! Chegava até a arrotar!...
Em seguida, a caminho dos cartazes que anunciavam os filmes em exibição, se lhe emanava da alma o abandono a que estáva votado... tiráva num repente o telemóvel do bolso e ao fingir ligar a alguém, ordenava ao despertador que - daí a pouco - fizesse as vezes de quem lhe ligasse. ... Toque a soar, atendia, auscultava, aguardava, impacientava-se, volvia a um e outro lado incomodado, consternado pelo assim tornado evidente lápso de memória pelo que teria feito alguém esperar. Improvisadas explicações, desculpas, lá continuava, aliviado. Mão na anca, na testa a arquitectar, como quem quer que tudo fique bem claro: Estou! Está?... Sim sim. Não! Sabes como é... para se encontrar alguma coisa de jeito... é um martírio!... Tá bem. Tudo bem. Não te preocupes... eu passo por aí. Podes contar comigo!... OK! Então, até logo! ...Beijinhos!...
Nunca ninguém desconfiou de nada, nem nunca sequer alguém reparou.

terça-feira, setembro 26, 2006

As concentrações das micropartículas

O "Sol", é sem dúvida, um novo jornal com pretensões. Quanto mais não seja, pretende conquistar leitores do expresso, cansados que estarão da espessura, da carrada de publicidade contundente e, de tudo o mais que se quizer. O "Sol", afirma não oferecer brindes nem fazer promoções e fala de um exito fulminante. Ao que parece quer fazer jornalismo sério! E faz muito bem! Isso faz uma falta danada!
Agora, pergunto eu: Como pode um jornal com pretensões destas, ir expremer a Manuela Moura Guedes que não consegue evitar mostrar a alma toda em ferida?! Ètico?! Notícia?!
Depois, poderia continuar a apontar, aquí e alí, isto e aquilo, mas isso, como sabemos, era só pegar noutro jornal qualquer... mas, sinceramente, alguém me poderá explicar que porra de "notícia" é aquela (na pag. 64), com o título: "Cirragos Piores do que automóveis"?!
Reza a "notícia" que: o tabaco contamina 60 vezes mais do que o tráfego automóvel.
Esta afirmação, é feita com base na conclusão de Manel Nebot(?!) que mediu as concentrações de micropartículas em bares onde se pode fumar e, nas ruas de Barcelona, e é citada por "El País".
Não satisfeito, o "Sol", refere ainda que, já em Itália se tinha alcançado um resultado semelhante, ao comparar as emissões de um carro com o fumo de três cigarros num espaço fechado de 20 metros quadrados(?!). A "notícia" é assinada por uma Ioli Campos.
Eu, convidaria a Ioli Campos, o Manel Nebot, o José António Saraiva e o maior antitabagista nacional a escolherem entre dois espaços fechados de 20m de àrea por 3m de altura: Num dos espaços, eram obrigados a fumar durante toda a noite. No outro, só tinham que respirar os gases de escape de um automóvel convencional.
É isto uma campanha para motivar o fumador a desistir de fumar ou, será que querem fazer do bruto estúpido?
É este o tipo de jornalismo a esperar do "Sol"?

quarta-feira, setembro 13, 2006

O malabarista

Que o homem tenha sido do PCP... tudo bem. Que depois tenha passado para o PS... vá que não vá. Que, enquanto ministro da economia e a coberto da intensão de fazer regressar a formula I a Portugal tenha rebentado com milhões de contos nuns negócios ruins de entender... eh pá... vá lá... estamos em Portugal e no fundo, no fundo... já se fizeram coisas piores. Que hoje seja o patrão da Iberdrola em Portugal - justamente ele que enquanto deputado andou nos meandros dos projectos energéticos - e mantenha o cargo de deputado do partido no governo... que tenha convidado para um cargo executivo o seu ex secretário de estado do orçamento Fernando Pacheco que, entretanto já desempenhou funções de secretário de estado da energia e por isso conhece bem os cantos à casa e as voltas a dar... oh pá, prontos... mas agora esta da providência cautelar, sinceramente pá, baralha-me! O homem, enquanto delfim da Iberdrola está a defender a Iberdrola e, enquanto deputado?! ...Mais a mais, da bancada do PS!... Bem sei que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa mas, as duas, assim juntas, tendo em contas as outras todas, dá-me azia!

quarta-feira, setembro 06, 2006

Apita o comboio

A malta deveria pagar uma taxa suplementar para poder assistir a programas como o "Prós e Contras" desta semana.
O creme da nata, o calor a derretê-los e eles todos bem compostos de fatinho e de gravata como a malta gosta os respeita e manda a lei, temos o que merecemos, os artistas sem temor, o Major, o Doutor, o Srº Secretário de estado a querer marcar posição e a recolher, a marcar passo, compasso de espera a ver o que vai dar e a apoiar, incondicional... atrevido mas não tanto, que ele hoje está sentado e amanhã apeado e atrás de uma coisa desta bem que pode cair um governo, os juristas tímidos a botar uma ou outra palavrinha, considerações... o caso é gravíssimo meus amigos! Bastava olhar para o sobrolho do Major! O momento é de profunda reflexão e responsabilidade nacional! Portugal está em risco! ... Se a FIFA a UEFA... se a coisa fia fino... não há cu que vá aguentar...
Diga Drº... eu não sou Drº... o Major também não era Drº... a Drª era a Fátima, foi você que disse eu não disse nada... (risos sorrisos trejeitos) Portugal só ombreia com os grandes no futebol o resto é conversa fiada dizia o outro, chega Srº Major, Ó Fátima deixe-me concluir que isto é muito importante! E é. É muitíssimo importante!... A malta pela-se por coisas destas em que se perde em labirintos e lhe dá para entabular conversas com quem não tem nada para falar. O sobrolho franzido do Major, o Madaíl - que esse é Drº... - desgastado e que só se recandidata em caso de interesse nacional em caso de vir a ser obrigado... a intervenção do presidente do benfica está em linha e diz e concerta e explica e apoia e fala do apito apita o comboio!
Portugal só ombreia com os grandes no futebol! Qual judo, qual atletismo, qual vela, quais prémios Nóbel, qual massa encefálica de fálico só o Camarinha que já não é o que era! Coitado do Camarinha! Coitado de Portugal!
Deixe-me falar Drª que isto é muito importante e era. Era muito importante e continua a ser muito importante. A Fátima também é muito importante não a Drª que essa é apresentadora a outra a outra Fátima que também faz mover as multidões e permite a alguns concluirem o que queriam dizer. Deixe-me falar quando não o país arrisca-se a tornar-se um furúnculo preste a rebentar se o Srº Secretário não diz nada e não pára de suar se o caso não se resolve e depressa!
O apito dourado?! Quantos são (palmas)? Apita apita mas não ouço nada (Palmas! ...Essa é que é essa)!
O apito não é dourado! O apito é de ouro. De ouro fino como o silêncio que afoga o País em verborreia escorreia e manhosa à sombra de uma apetencia nunca vista para uma não existência.
Queremos lá agora saber do Nobre Guedes, aquele da casinha clandestina na Arrábida da licença para arrancar os sobreiros e urbanizar em nome do interesse nacional, aquele artista efémero por ter sido investigado e ilibado e que agora pede 450 mil euros de indeminização ao estado pela mancha no seu bom nome. Que interesse tem lá agora o Isaltino, a falácia das contas do porto de Lisboa, a EDP a dar lucros e a aumentar as facturas, a banca a dar lucros brutais e a espetar a farpa até onde lhe apetecer?! Isto é muito importante Drª! Fátima, deixe-me concluír... o futebol é uma instituição de solidariedade social, dizia o outro e é, até a CGD vai financiar um clube de futebol! Isto é muito importante!
A bem dizer, um jurozinho aquí uma comissãozinha acolá... e todos nós financiamos o futebol, todos nós financiamos estadios, sendo que o futebol, nos financia a nós, financia a nossa televisão que nos aquece ou arrefece os serões e deixa em paz a moleirinha... deixe-me acabar Fátima que isto é muito importante, e é! Quando não, estes vultos vetustos da nata portuguesa estariam a fazer colheres e a CGD o BES e outros assim, ou pagavam impostos a sério ou rebentavam de tanto lucro. Viva o Futebol, viva Portugal!

domingo, setembro 03, 2006

Jung Chang

A humanidade tem tido revoadas de delírio, crises agudas de demência que, acalmados os ânimos, virada a página, nos deixam estupefactos pela forma como a realidade pode superar a ficção mais arrojada.
"Cisnes Selvagens", é um livro que contêm o relato de Jung Chang, sobre um periodo de loucura relativamente mal conhecido, perfeitamente desconcertante. Vale a pena lê-lo. Mais que não seja, servirá para reflectir-mos sobre a incongruência da chamada inteligência racional!
...Levianos, temerosos e inseguros, os homens, parece conseguirem tranquilizar a consciência, refugiados no instinto de sobrevivência com que justificam a adopção de convicções que lhes chegam mastigadas, em aberrantes manuais de propaganda. Impotentes, prepotentes, não se poupam a esforços para manterem os neurónios em repouso e, assim evitarem decidir sobre a própria vida.
Uma vez convencidos de estarem protegidos por um líder que aceitam venerar enquanto este lhes pisa os calos... recebida a garantia de que no mundo existe alguém mais miserável que eles próprios... a loucura, poderá durar por tempo indeterminado e a perfídia chegar onde nunca alguém ousou imaginar!
...Estranha, a inteligência racional deste animal que se diz superior!

domingo, agosto 20, 2006

Quase ufana, a malta arrisca-se a precipitar-se num ismo qualquer. Mais uma vez! Desta, ser ou não Ariano tem pouco a ver. A coisa agora, à escala global, passa por parecer querer ser saudável! Sempre alegre e estável! Muita melanina, muita massa muscular, abaixo os tabagistas, os tipos com bigode, a meia branca, abaixo o tecido adiposo acima do zero, o pé de galinha. Viva a banda gástrica, a lipoescultura, o branqueamentos de dentes e haveres, o antidepressivo, o shot rapido e eficaz, a tonteria de um tracinho que nos aguça a moleirinha e faz parecer rápidos e concisos, versados nisto e naquilo, ágeis e argutos, astutos, pequenos Deuses quase perfeitos não fora um ou outro peidinho...
Nunca gostei dos ismos! Dá-me náuseas. Relembra-me erros de outros tempos.

quinta-feira, agosto 17, 2006

A acreditar no Expresso, o Millennium ofereceu a Miguel de Sousa Tavares uma quantia que rondava os 250 mil euros. Este, teria em troca, de ceder a sua imagem para uma campanha publicitária com que esta entidade bancária pretendia influenciar determinado tipo de consumidores!
O homem, invocando que a sua actividade jornalistica não é compatível com publicidade, recusou.
Num tempo em que o dinheiro parece servir para comprar tudo e em que a maioria se dispõe a dizer ou fazer, não importa o quê, em troca de bem menos, o facto, parece estranho!
Talvez que a sua situação financeira lhe pudesse ter facilitado a recusa... contudo, não resisto a imagina-lo como um dos homens que se quer livre e que, por isso, não está à venda nem padece de soberba.

Já agora; gostei de ler "O Equador"! Para além do leitor comum, a "corte" Portuguesa em particular, deveria ler e reflectir sobre este romance histórico. Talvez assim, pudesse mudar a mentalidade que, no essencial, lamentavelmente, permanece igual aquela que tinha em 1900!

quinta-feira, agosto 03, 2006

Circalhada

É no circo que os porcos andam de bicicleta. Que os palhaços... ricos e pobres, alimentam o personagem com contendas, ilustrações de metáforas que, vá-se lá saber porquê, regozijam e fazem rir o público. É no circo que os elefantes se equilibram numa perna só, que os homens aceitam ser serrados ao meio, andar no arame sem rede, serem disparados de canhões ou até de marcharem contra os ditos!
Os números, são cada vez mais arriscados e surpreendentes. No tempo que que os lucros da banca não param de crescer e em que lhes é permitido aumentar o que bem lhes apetecer, é apertado o espaço de quem se recuse pagar licenças para sacar ou não queira ser sacado e, mais grave... é apertado o espaço de quem confesse não querer enriquecer!...
Se um malabarista consegue por a rodar no ar dez bolas de fogo sem se queimar, logo se vê obrigado a ensaiar um número com doze. Se um domador consegue fazer com que um macaco toque violino, logo deverá começar a dar corpo a uma orquestra de vários macacos a tocar vários instrumentos!... É assim a vida no circo!
...Neste particular, Portugal, parte integrante do mundo ocidental - o mundo rico e pujante - está no seu melhor... a quantidade de coelhos a sair da cartola, não pára de aumentar. Os directores do circo - financiados por malabaristas que detêem fundos inesgotáveis enquantos os palhaços andarem à estalada - compraram Jipes, deram provisão a contas em ilhas distantes e, propõem apresentar um fantástico e espectacular número, em que os animais amestrados, vão andar de bicicleta sem mãos, sem pés e... sem bicicleta!...
...Tendo em conta a qualidade dos animais em pista, sou levado a acreditar que este desafio poderá ser largamente superado e por isso, a fasquia deverá, antes mesmo de ter sido superada, de ser posta um pouco acima.

quarta-feira, julho 05, 2006

A fuga em frente

O ritmo a que se entende forçado a levar a sua vida é superior à sua pedalada?
...Não faz mal: tome um estimulante e vá em frente.
Por ter ido em frente, bate com a testa na trave e fica ferido, deprimido? ...A sua esposa é uma vespa, o seu marido, uma besta?!... Não se deixe perturbar; tome um antidepressivo e disfrute do poder de ser quem é não sendo!
...Tendo sido quem é não sendo, vê-se confrontado com distonias, arrelias que lhe inundam o estômago de ácidos fora de tempo e lhe provocam arritmias ou perturbam os ciclos normais do sono?!... Não se preocupe. ...Você tem de ter muita calma e, para isso, tem ao dispôr um antiulceroso milagroso que em simultâneo lhe inibe a secreção gástrica desatempada, uma benzodiazepina com efeito calmante que lhe tranquiliza a mente e lhe permite não se incomodar com a malta que lhe mete o dedo pelo cu acima, que o pica e arrelia, sendo que... ao deitar, pode ainda reciclar a merda que fez durante o dia. Não pensar, fazer delete e mergulhar num soninho de anjo.
...Tem crises de asma, alergias? Vê-se confrontado com uns parvalhões que lhe dizem que tudo tem a ver com a qualidade do ar, com níveis alarmantes de ozono, com os tóxicos que comemos, com a habituação à medicação que o prende ao balcão da sua farmácia preferida?!
Mande-os lixar! Você, bem conhece os anti histamínicos, os bronco dilatadores de curta e longa duração com ou sem cortisona, sabe que, se o Ventilan e o Brisomax não funcionarem, há ainda o Assieme e que, se ainda assim estiver enrascado, pode ser ventilado, entubado e aspirado num hospital do estado ou num privado...
Sente-se enfartado por ter comido meio queijo castelões e dois leitões? Não sofra mais! Para que pensa você que existe o Compensan, o Eno, o Primperan ou o Legalon? ...Imagine que, ainda assim a coisa não vai lá... que é vítima de uma descarga e fica de caganeira um rôr de tempo... acaso não conhece o Motilium e uma infinidade de medicamentos amigos que lhe permitem continuar a fazer as besteiras de que tanto gosta e que lhe trazem cor à vida?!
A situação vai de mal a pior? O médico diz-lhe que tem a vesícula cheia de pedras? ...Amigo, por que espera? Tire a danada fora, que é uma operaçãozita cagada e a vesícula não está lá a fazer nada.
Tem um joelho cheio de artroses que lhe dificulta o andar? ...Por que raio é que tem de aturar esses malucos que lhe segredam quase a medo, que tudo isso tem a ver com carências, sobrecargas metabólicas, sedentarismo?... Amigo... o que essa gente quer, é atrofiar-lhe o homúnculo! Mande-os à merda! Compre um analgésico, um antinflamatório, e já agora, o omeprazol para não ficar com o estômago inflamado! Ainda assim o joelho teima em doer?! Vá a um hospital particular (que é mais rápido), tire uma radiografia, uma eco, uma ressonância, ponha uma protese e... toca a andar!
Rebentou com a carteira e ficou deprimido? Não se deixe abalar. Telefone a uma instituição de crédito rápido e comece tudo do princípio... Vai ver que não doi nada e que tudo vale a pena!
Entretanto, já sabe... não mude de emprego, não mude de atitude, não mude de alimentação, não mude de vida... acima de tudo não mude, não reaja, não se insurja nem se ponha a pensar ou a inventar... você, pode aguentar! Sabe, que pode sempre confiar no comprimido amigo e ver o mundo da côr que escolher (pagando claro!).

quinta-feira, junho 29, 2006

Genéricos

Por môr de quem, é que um médico que passa receitas com a comparticipação do estado, pode continuar a optar por receitar medicamentos de marca; duas, três e quatro vezes mais caras do que o genérico?
Se a esmagadora maioria dos utentes, não entende muito bem o que é um genérico, já o mesmo não se passará com os responsáveis pela gestão dos dinheiros públicos que, neste caso, continuam a engordar multinacionais farmacêuticas.
Eu cá para mim, 500mg de amoxicilina, são 500mg de amoxicilina e prontos! ...Independentemente da marca que lhe quizerem pôr. ...E não me venham cá com estórias de que... ah, mas é que... e não sei quê que mais... é que a fiabilidade... e tal...
Se os genéricos estão falsificados, estamos a ser enganados e a coisa deveria de ser tornada pública de vez. Se não estão falsificados, estamos a ser enganados também!
Então, mas tá tudo parvo, há medinho de beliscar multinacionais poderosas ou, há interesses inconfessáveis?

quinta-feira, junho 22, 2006

Um congressista bem intencionado

Foi relutante que subiu ao palanque. De lá, muitos tinham já botado discurso, denunciado e dado corpo a problemas, lançado alertas e suspeitas, criado polémicas... e, se um ou outro não o tinha feito à toa, a maioria limitara-se a escolher algo que no momento lhe parecia errado, encontrar um pressuposto culpado, apontar as baterias, e vai de o desancar sem dó nem piedade, através de exercícios de oratória que mascaravam frustrações e alimentavam a vaidade. Alguns ainda, mais ladinos, tinham na manga objectivos e ambições inconfessáveis, pelo que utilizavam uma retórica hipócrita, procurando levar a àgua a um moinho pequenino, que tinham no umbigo.
Subia hesitante, cheio de dúvidas nos princípios e conceitos herdados, espartilhado entre correntes, teorias e doutrinas e, se por um lado pretendia cultivar a humildade, a honestidade e a verdade, por outro desconfiava que essa sua pretensão pudesse não passar de presunção e no fundo fosse apenas uma forma de ocultar impotência e mediocridade.
Daí a relutância em subir e falar o que quer que fosse, de definir objectivos, traçar planos ou estabelecer prioridades. Tudo, por medo que algo pudesse dar para o torto ou até de se ver caido em tentação e ser apanhado a partir, a repartir e a servir-se da melhor parte, escudado na comum necessidade de não ser um parvalhão e acusado de falta de arte!
Era grande a tentação de não subir, quase tão grande como a vontade de mudar a realidade em que se via mergulhado e que, o incomodava e chegava a ferir em sítios fundos que não sabia definir.
Ainda assim subia, gostava de pensar que assumia risco! Subia, sem saber que uma multidão contratada por profissionais do ramo, marcava presença e se dispunha a demonstrar um vivo interesse em ouvir e apoiar o que quer que fosse dito. ...Uns para pagar ou obter favores, outros mais simplesmente em troca de um almoçinho, de uns copos de vinho, um dinheirinho... todos, se dispunham a acenar bandeirinhas, ovacionar, entoar palavras de ordem bem colocadas por profissionais cada vez mais especializados e competentes!
Discurso feito, espalhada a esperança, haveria gente que em troca dela e por se entender dela necessitada, se encarregaria de o levar em ombros a troco de nada, bradando aos sete ventos que era ele o salvador, o herói de que todos precisavam. ...Assim ele se empolgasse e deixasse fluir boca fora o que os especialistas contratados por quem na sombra o apoiava, lhe tinham injectado nas veias, reunião após reunião, congresso após congresso, palavra por palavra, através de métodos científicos modernos, com excelentes resultados comprovados.
Subia hesitante... mas à medida que subia e ouvia a multidão orquestrada a entoar o seu nome cada vez mais alto, deixou-se invadir por uma inebriante euforia que, como que por magia o tornou determinado.
Vencidas as dúvidas, limpo o picárro com que se chama a atenção a quem cabe ouvir, lançou-se delirante e apaixonado num discurso em que se dispôs a prometer, tudo o que quem o tinha feito subir tinha programado!...
Mais tarde, quando a culpa das promessas não terem sido cumpridas lhe caíu em cima e o tapete lhe foi retirado à medida que por necessidades estratégicas um novo personagem ia sendo promovido e incitado a subir ao palanque... ficou danado! Não fosse a fatia com que à cautela - enquanto partia e repartia - tinha ficado, e tinha dado o tempo por mal empregue. Assim, tirou umas férias para reflectir e preparar o regresso na pele de um novo personagem.

sábado, junho 17, 2006

Um peito cheio de vazio 6

Depois de tudo isto organizado, dividido o mundo em maus e bons para facilitar, pôde finalmente a elite do topo, começar a usufruir de algum lazer e, no entrementes , dedicar-se a sofisticar os meios de controlo para que tudo continuasse da melhor forma com um esforço cada vez menor.
Inventaram a muralha, a fronteira, o imposto, a moeda, o cunho, a multa e a pena, o pecado a confissão e a absolvição, da moca evoluiram para o canhão, para o agente de informação, o especialista em especulação, o cobrador de fraque... enfim, uma revolução que, se convenceram e apregoaram, de muito prática e de grande utilidade.
Entretanto, desse subgrupo da maioria - essa minoria tresloucada de que foram recrutados os soldados, os fiscais, os representantes legais e todos os outros que por terem na mira poleiros em lugares destacados, se tornaram capazes de seguir códigos e condutas de fazer arrepiar -, sobrou uma gente que se revelou impossível de ser seduzida, por melhores que fossem as promessas ou mais brilhantes os mundos e fundos apregoados! Avessos a este progresso, recusaram as condições de acesso e, não só não aceitaram licenças para cobrar impostos, como se recusaram a pagá-los! Diziam-se capazes de enfrentar o medo, teimavam em andar em bolandas em busca de melhor forma de vida e, não contentes com isso, insistiam em defender a maioria a que diziam pertencer, sem se importarem se ela queria ou não ser defendida. Afirmavam que era ingénua, e que, por ter vindo a ser embalada com canções do bandido e hipnotizada com néons de todas as cores... representava um perigo e não se encontrava capaz de decidir o que quer que fosse!
Teimosos, em vez de uma vida estável e tranquila, do usufruto de uma ração de subsistência que, embora pequena, lhes poderia vir parar à mão em troca de cooperação, esta gente renitente em aceitar as facilidades oferecidas, insistia na busca de melhor sorte, saltava cercas, fronteiras e muros que delimitavam zonas interditas com que não se conformavam, e arriscavam ser apanhados em finas teias fabricadas pelos próprios familiares e amigos, pelos compadres e, claro, por gente sem rosto... mandatários e mandados, carrascos e vítimas... uns e outros, movidos por medo e ambição.
Nessas jornadas atribuladas, nesses caminhos desconhecidos em que deambulavam para manterem a rédia larga, não raro, davam por si em zonas francas, bem para lá do que a vista alcançava (uma espécie de off shores desse tempo..), e ficavam embascacados com a facilidade com que se conseguia lá operar e retirar uma boa mais valia, pactuando com essa espécie de regime, esse submundo, que sem dúvida existia, sob um manto nebulosos de estranhas regras inventadas por quem tinha a faca e o queijo na mão e, como é bom de ver... interesse nisso! Mas, a maior parte das vezes, no dobrar de cada esquina, a coisa fiava fino e viam-se obrigados a botar sebo nas canelas e a largarem-se a bom correr. Faziam-se à travessia de desertos ou lançavam-se silvados adentro, sem escolher para onde iam e sem ligar aos estragos que essas fugidas lhes causavam na farpela, porque assim não sendo, o mais certo... era verem-se metidos num circo em que, enjaulados e amestrados à força de fome e chicote, pudessem servir de exemplo!... Seja lá pelo que fosse, há muito que ninguém lhes põe a vista em cima e, se uns acham que eles estão extintos, outros, preferem especular sobre embuçados e seitas secretas que se movem nas sombras em busca de iluminados.

Continua.

domingo, junho 11, 2006

Um peito cheio de vazio 5

Para levarem a cabo a coisa, quer dizer... para se manterem no topo, apoiaram-se precisamente nos que a fome e as carências tinham tornado menos escrupulosos, mais afoitos e perigosos, e que, por isso, eram a razão daquele incómodo constante.
Chamaram-nos à parte e, com um discurso demagógico aveludado, encheram-lhes os ouvidos de metáforas que falavam de sapos transformados em príncipes, gatas borralheiras escanzeladas preferidas a princesas ricas e roliças, taludas desencantadas no desespero das bolsas necessitadas, camelos a passar pelo buraco de uma agulha, nuvens fofinas cheias de virgens... e, com promessas quixotescas da entrega de reinos distantes para todo o sempre, ofereceram-lhes formação no manejo da moca, entregaram-lhes fardas e, em troca de total e incondicional dedicação às causas intrínsecas, garantiram-lhes uma ração diària reforçada, com sobras da primeira escolha. Em seguida, numa cerimónia bem composta, pensada ao promenor para exarcebar o orgulho e alimentar a vaidade, investiram-nos em postos de prestígio garantido, entregaram-lhes couraças, distribuiram medalhas, fizeram deles guardas, descobridores especializados na busca do que açambarcar, guerreiros e conquistadores que entravam a matar para tomar posse, vendedores de golinhos de àgua a preço de ouro nos desertos, e, aos mais fuinhas, transformaram-nos em fiscais, com a missão de apresentarem relatórios detalhados sobre o desempenho dos outros!
Aos mais ladinos, acharam por bem mantê-los ocupados no fio da navalha, na linha da frente, em duras missões de alto risco que, de tal modo exigiam acção e total concentração, que não permitiam pensar e por isso arquitectar o que quer que fosse...
Todos (de primeira, de segunda, ou rasos), recebiam a ração, conforme a prestação.
...Prestada a vassalagem, tornadas inquestionáveis as ordens superiores que os libertavam da culpa das barbaridades que iam cometendo, recebida a garantia de mundos e fundos, de vantagens transcendentes em acções e combates que se dispuseram a levar a cabo contra quem e onde quer que fosse, tomou forma uma classe, disposta a avançar conduzida e sem pensar, num nunca mais acabar de conquistas, quais fiéis em guerras santas com os olhos postos nos saques.
Investidos nesses cargos, passaram a construir a realidade com todo o à-vontade e, com base na crença adoptada de que "o mal", era com certeza o resultado da obra do Diabo,
enjeitavam qualquer responsabilidade no que pudesse dar para o torto! Ainda assim, se a coisa não lhes corresse de feição, tinham como recurso, uma série de rituais para utilizar segundo as necessidades e, orientados por especialistas, podiam sempre aceder a um Deus supremo e pedir para interceder e colocar as coisas, no lugar!
Em troca de um sacrifício, feita que fosse uma promessa, entoada cabeça baixa uma ladainha... era esperada com certeza, boa sorte para levar a cabo um massacre, com a mesma naturalidade com que se rogava o fim de uma tempestade, de uma doença maléfica ou de uma fase de má sorte!...
A maioria, aquela gente que de tal modo obsecada em se "safar", nunca enjeitou estar de bem com Deus e Com o Diabo, aquela multidão que como um rebanho em busca de erva tenra e fresca, passa a rapar sem parar ou pensar e, que sem saber porquê acredita não ter nada a ver com nada e gosta de balir... aderiu, muito bem a este estado de coisas.
Sumissa, no encalço de benefícios, aceitou cada ultraje, cada pedaço de sofrimento, cada violação ao recôndito mais casto da alma... e, era vê-la, a trocar sacrifícios por mais valias, confissões por perdões, acções por intensões...
Aderiram, também, não fosse serem confundidos com inimigos e, entendidos como infiéis, encostados à parede e varados lado a lado sem piedade.


Continua

quinta-feira, junho 08, 2006

Um peito cheio de vazio 4

Temos por isso que, enquanto uns poucos contestavam, penetravam em feudos de onde às escondidas sacavam o que podiam, e que para além disso ainda aliciavam a maioria para se lhes juntar, por outro lado, essa maioria que confundia a humildade com a subserviência e que, pela sua natureza se dispunha a fazer o que lhe parecia o melhor para sobreviver e se contentava em usufruir das sobras, sentia-se realizada em sonhar com castelos no ar e aceitava perfeitamente, que muito mais vale um pássaro na mão que dois a voar!
...Por ter ouvido, chegou até a acreditar e a passar de boca em boca, que quanto maior for a miséria em que se viva, maior será a felicidade durante a eternidade! ...Por qualquer razão, talvez em jeito de compensação, isso parecia fazer-lhes sentido!...
Os chefes, se bem que no geral se sentissem regozijados com os resultados conseguidos pelos métodos utilizados - o levantar da moca, o desferir a pancada, o gritar e assustar para gerar medo e enxotar, o cultivar o segredo, o adensar o mistério... -, não se conformavam com a trabalheira a que se viam obrigados, para continuar a conquistar e a manter, o poder em mão fechada! Frustrados, por não se poderem entregar totalmente à parte doce da vida, saturados da necessidade constante de olhar por cima do ombro para proteger a retaguarda, talvez até... ressentidos, feridos no orgulho por derrotas sofridas e saques desabridos levados a cabo por esses revoltados pobres e mal agradecidos... resolveram fazer-lhes face, com uma tàctica inovadora : engendraram uma hierarquia, puseram-se no topo, e distribuiram lugares privilegiados pirâmide a baixo. Os de cima mandavam nos outros, e os mais baixos de todos, que não mandavam em nada e suportavam toda a estrutura, cumpriam o que lhes era ordenado com a garantia de tudo ter já sido, muito bem pensado. E isto, veio a revelar-se um enorme sucesso.


Continua.

sábado, junho 03, 2006

...dasssssse!

O Mundo visto de uma perspectiva, está dividido em dois lugares. Num, parece fazer sentido a lipoaspiração, as cápsulas para queimar calorias, os inibidores de apetite...
No outro, a vida esvai-se por falta de um pouco de água, de um simples prato de farinha...
Talvez por isso, no primeiro, se consumam tantos antidepressivos, ansiolíticos e drogas... para não sentir mal estar, bem dispôr e fazer rir!...

domingo, maio 28, 2006

A conspiradora

Estava eu a cogitar sobre os meus problemas, com a agenda carregada para o fim de semana, tentando conciliar uma sardinhada com uma mariscada, ralado com a mancha de humidade do canto da sala da casa da cidade, preocupado com a outra mancha que me dizem ser da idade, com a falta de tempo para ir ver todos os filmes que me dizem ser "a não perder", e assistir a europeus, concertos e mundiais... perturbado com umas prestações do jeep em atraso... enfim, uma carrada de problemas... e, quando dei conta, estava numa pilha! Num stress que só visto!... Vai daí, o que é que eu pensei? ...Bom, a coisa está preta... e disse para comigo: Zé Manel, tens de relaxar!...
Ora, uma coisa que me relaxa, é sentar-me um bocadinho em frente ao computador e entreter-me a visitar blogs, ler comentários divertidos que plantam uns nos outros para ganhar amigos, ver as picardias e assim... quando, dou por mim no blog de uma besta (que não tem outro nome!), que, em vez de divertir... não senhor!... Pespega-me com um post que nos remete para um video qualquer (sabe-se lá feito por quem e com que intenção...), sobre o Sudão... e não sei quê... que andam para lá uns dois milhões ao Deus dará, amontoados em campos de refugiados de arrepiar e não sei quê... no meio de dejectos e em que se queimam vivas crianças amontoadas e tal... e que as vítimas são violadas por quadrilhas endoidecidas... e que isto e mais aquilo... e que não se fala mais disso porque o Sudão não interessa a ninguèm (pelo menos para esta doida, parece ter algum interesse!!!...), e pátáti e pátátá... porque se o Sudão tivesse petróleo já os Amaricanos lá estavam a salvar aquela gente.... e que a Condoleza isto... e o Bush aquilo... e que a comunidade internacional é um bando de hipócritas... e que as agências de notícias já não são de informação, e que estão na mão de não sei quem e que só divulgam o que não sei quem quer... e que a ONU está na mão de uma Amaricana... e que o Sudão isto... e que o Iraque assim e o Irão assado, e que o Afeganistão isto... e mais os Amaricanos...
...Olhem... um chorrilho de disparates, um fanatismo alucinado, suportado por imagens que, só podem ser montadas!...
...Se aquilo fosse verdade, era notícia de abertura em todos os telejornais do Mundo! Capa de jornais e revistas e, na rádio, não se falava em mais nada enquanto a coisa não estivesse resolvida! O Sudão, à imagem do Iraque e do Afeganistão, estaria com certeza, cheia de capacetes azuis, forças de segurança Amaricanas para restabelecer a ordem, e nós, claro, já para lá tinhamos mandado forças especiais! ...É, ou não é?!
...Com que direito é que esta besta (que não tem outro nome!), vem poluir este espaço em que a pessoa se pode relaxar e entreter, plantar comentários divertidos em busca de admiradores e amigos, partilhar imagens de quedas e acidentes hilariantes, curiosidades e piadas picantes... e, acima de tudo, rir a bom rir?!
Acaso esta besta (que não tem outro nome!), que anda para aí a perturbar quem tem a vidinha montada e tem de se preocupar com os seus próprios problemas... acaso sabe, que rir dá saúde e que as ralações, nos fazem aparecer rugas e tiram anos de vida?!
Que tem lá ela a ver com o Sudão?! Onde raio é lá isso?! Que direito é que ela tem, de se meter lá nos assuntos deles?! Acaso é ela Amaricana ou da familia do Sudão?! Hum?!...
Se ela se importa tanto com a miséria, porque não vai ao Rock in Rio em Lisboa, e mata dois coelhos com uma só cajadada?
...Agora, por causa daquela tarada, daquela besta (que não tem outro nome!),estou aqui que nem me tenho, com uma sensação estranha, com um nó na garganta que não sei explicar e mesmo sabendo, que tudo aquilo é uma treta de mau gosto, vou ter de tomar um antidepressivo e dois ansiolíticos, senão, não arranjo disposição para ir comer a mariscada e aguentar dar um saltinho à sardinhada!...
Por via das dúvidas, e para que não caiam nas ratoeiras que só pretendem plantar-vos na alma, traiçoeiras sementes de indignação, sinto-me obrigado a vos mostrar, como esta gente actua para perturbar a paz e o bom viver! Ide... ide ver, aqui. Mas não vos esqueceis... dai de fuga quanto antes para não virem a sentir sensações estranhas para as quais não há explicação e que só passam com comprimidos que só se vendem com receita médica (ou talvez não!)!

quinta-feira, maio 25, 2006

Um homem de sucesso

Homem de família, católico mais ou menos praticante, adepto comedido mas sofredor q.b. de um clube dos maiores, chegara a casa com a sensação do dever cumprido. Como quem limpa o cú a meninos, tinha vendido mais um carrinho. Um veículo com dez anos como novo, pertencente a uma velhinha. Negócio limpo, tinha dado para por a conta a positivo, pagar a prestação em atraso do andar, encher o peito de ar e levar a amante a comer uma mariscada! ...Num toma lá dá cá, tinha safado a vidinha e fodido mais um amigo!...

segunda-feira, maio 22, 2006

Um peito cheio de vazio 3

Orgulhosos das façanhas que foram descobrindo serem capazes, ganharam confiança, emergiram, e tornaram-se chefes de uma tribo despojada que, cada vez mais raquítica de sedenta e esfomeada, se agrupou à distancia que o medo lhes permitiu e, aceitou resignada ter sido arredada do que sempre julgara pertencer a toda a gente.

Ainda hoje não se sabe, se foi a necessidade, a cobardia ou a estupidez, que fez esta tribo desenvolver a arte de adular, respeitar e admirar quem a pisa e subjuga!...
Ainda hoje há quem pergunte, que raio se terá passado, para que tenha vindo a aceitar levar no lombo, e aguardar pacatamente cheia de esperança, uma oportunidade para enganar as tripas, com as parcas sobras lançadas do topo...

À medida que as fortunas foram crescendo, a miséria foi graçando. ...No seio dos espoliados, despontaram pequenos grupos de gente revoltada, alucinados pelas carências, autenticos focos infecciosos que irritavam, debilitavam o sistema e se recusavam a prestar vassalagem. ...Insistindo não terem nada a perder, dispunham-se constantemente a avançar, em mais ou menos tímidas pilhagens, aceitando o risco de ver rachada a cabeça como um preço a pagar, por uma vida mais airada!
Ora... isto, exigia à gente do topo (que punha e dispunha e que sem pejo se servia do que havia conforme entendia...), um alerta constante!...
Viram-se forçados, a instituir rondas diligentes com a moca ao ombro para impressionar e dissuadir, para mandar abaixo e quiçá até, destruir, quem, lhe viesse à ideia sair da linha e desafiar o destino.

Não raro porém, um ou outro membro desta elíte - menos hábil no manejo da moca, ou mais molengo de tão cheio dos banquetes -, foi botado abaixo à mão, por um destes grupos de famintos desvairados que, para além de procurarem por todos os meios, evitar andar a mando dos que chamavam de brutos, ainda incitavam os compadres a se lhes juntarem e, a fazerem também sua aquela luta que, claro, achavam justa, tendo em conta a posição em que se encontravam e de onde olhando, viam: uns, fartos com demasiado, e os outros, que de tão vazios e carentes, nem conseguiam digerir o que se lhes dava!...

Segue, Um peito cheio de vazio 4.

sábado, maio 13, 2006

Quinto Império

Foram tantas as guerras, os desatinos... tantos os dramas e momentos de dor... que acabaram por se render à evidência da urgência de descobrir caminhos e entender, melhor, o amor!...
Para trás, ficaram confrontos, desencantos, cantos e ilhas, mal entendidos nascidos de histórias mal contadas, equívocos e ressentimentos... cujo significado, de tão puído, se esfumara.
Parecido perdido o tempo... tinham ganho! ...Sobrevivido a batalhas que, se às tantas perderam o sentido, não deixaram de o ter tido.
Investido o que sobrara no afecto, no querer ver a todo o custo o "outro" bem... no projecto que, de tão distante da matéria só a alma o formava... viram crescer uma razão para a vida que os animava e, se numa ou outra encruzilhada se sentiram pobres e perdidos, olhos nos olhos... mãos nas mãos dadas... se descobriram enriquecidos.

terça-feira, maio 09, 2006

Um peito cheio de vazio 2

Tudo terá começado, no preciso momento em que um antepassado longínquo descobriu (dizem uns que por mero acaso, outros que, por desígnios transcendentes), a arte de rachar cabeças com uma simples moca. Essa descoberta, parece ter sido extraordinária!... Surpreendentemente, uma mocada bem aplicada, não só acabava em menos de nada com uma rixa, disputa ou teimosia, como tornava possível a quem desferia a pancada, estabelecer objectivos e fazer cumprir regras, sem mais, nem quês!
Boquiabertos, os membros do pequeno grupo em que a descoberta aconteceu, cedo verificaram a facilidade com que podiam chegar, impôr a presença e até expulsar os outros, dos locais de abundância. E isso, que para além do mais lhes permitiu confortar o estomago a seu belo prazer, como é bom de ver, tornou-os mais fortes e robustos.
Libertos da fome, constataram com agrado terem vindo a ficar com o peito mais cheio, os ossos mais compactos e, um crâneo em que sobressaia uma fronte mais alta e larga, parecia confirmar a superioridade dessa espácie de raça que, dominante, entendia merecer sem favor cada conquista, e via a ambição crescer desmesurada, como um dever.

quarta-feira, maio 03, 2006

Mea culpa

Num dos poucos momentos que tenho tido livres para bloggar, fui, de blog em blog, dar a um post do Alien's Corner que, alertava para o facto de que quem tem um blog, tem um mínimo de obrigação de o actualizar! A razão principal que me fez cair em mim e dar a torcer o braço, é que, quem nos visita e não é avisado da nossa indisponibilidade para blogar, anda a clicar em vão... sem necessidade!... Muito mais valia avisar da interrupção, com ou sem explicação! Coisa simples esta! Mas, confesso, nunca tinha olhado para a coisa por esse lado! Por isso, peço desculpas.

...Já agora, vou contar a história de um homem, com o peito cheio de vazio:

Uns diziam que ele nascera em berço de ouro, outros, que fora com o rabo virado para a lua!
Fosse como fosse, o certo é que crescera feito senhor de propriedades, capacidades e saberes superiores e que, sem saber como, se encontrou servo de um Deus herdado que, se bem que não entendesse ou sequer lhe servisse para reflectir sobre a sua essência, ainda assim lhe chegava para acreditar ter sido O escolhido e nessa condição ter nascido, com o destino traçado, protegido, em qualquer sentido e a toda a hora inspirado, por forma a cumprir a senda que, no seu magnânimo entender era a razão da sua vida; conduzir a populaça, mantê-la mansa e ordenada.

Com base numa crença antiga, numa cantiga que fala de filhos legítimos e de bastardos, assumia ser o justo herdeiro dos tesouros conseguidos pelos seus antepassados; bárbaros guerreiros, macumbeiros, poderosos feiticeiros, ilusionistas, gente... que recorrendo a artes e maroscas, foi saindo dos terrenos pantanosos e, avançando trevas fora, lhe tornava agora possível feitos, voltas e truques, que deixavam de olhos tortos quem o fixava, e deixavam para trás quem o quizesse acompanhar!...

Segue, "Um peito cheio de vazio" 2.