quarta-feira, junho 29, 2005

O circo

O artista, pôs-se em risco sem temor! Dando o corpo ao manifesto, avançou para a pista, sem uma ideia cozinhada, uma cambalhota preparada, uma só palavra que fosse... na ponta da língua!
À ultima da hora, mandaram-no avançar para o centro e a única coisa que lhe garantiram foi, que os holofotes o iriam iluminar, fazendo-lhe notar que essa, seria uma bela oportunidade de brilhar, de mostrar o que valia a entreter e fazer rir, ou até, e porque não... a fazer chorar!...
Havia, no fundo, que entreter a malta, não fosse ela começar a patear, o que era muito mau, atendendo à fragilidade da estrutura das bancadas.
Socorreram-se dele, porque, o artista de serviço, com um número bem estudado, ao ver-se enleado nas cordas e argolas que tinha largado, sentiu o arame a fugir debaixo dos pés e, sem cerimónias, desenleou-se e lançou-se, seguro pelo guincho que o livrava de se estatelar e partiu, para actuar, num circo internacional.
...Surpreendentemente, o espectaculo ganhou cor com este artista que ficou e que tocava os sete instrumentos, dava cambalhotas direitas e tortas e, destemido, entrava no canhão pronto a fazer de bala humana, mas... os acrobatas que o acompanhavam, incapazes de lhes seguir os passos, os golpes de rins e os voos sem rede, cedo deitaram o número a perder... uma após outra vez, falharam uma recepção, um compasso, largaram uma corda, deixaram cair ao chão uma argola e, por último, os que brincavam a cuspir fogo, acabaram por se incendiar uns aos outros e causar, o pânico!
Hoje, o espectáculo está mais pobre! Dizem, que é para ser mais seguro... Só há um ilusionista, que tira da cartola uma sacola vazia com que se dirige ao público a quem pede para a encher... um número de ovelhas amestradas, que são tosquiadas na pista com as orelhas em baixo... e, claro... uma parelha de palhaços!... O rico... e o pobre, que, como sempre, passa o número a levar estaladas, e tão depressa chora baba e ranho... como salta, ri e toca a concertina... feliz de esperançado, em vir a receber um rebuçado!...

sábado, junho 25, 2005

Uma crença de mau gosto

Confia em mim!... Dizia o mastodonte ao brutamontes sem saber o porquê do que estava a dizer! Mas era escusado. O mal estava feito e iria continuar a ser feito, porque qualquer deles não tinha jeito... nenhum, para acautelar o bem do outro.
Confia em mim... dizia o bruto. O que achava, saber a razão da sua existência e teimava, em não dar o braço a torcer, enquanto não lhe estivesse a doer.
Confia em mim... dizia um, a quem... o quisesse ouvir. Mas já ninguém lhe dava ouvidos... Todos os passos tinham sido perdidos em labirintos reluzentes de palácios distantes e, a noitada, ainda agora tinha começado.
Falava-se... na altura, de profecias e conjecturas de sociedades secretas, de conjuras e medos, conspirações e segredos guardados, verdades antigas... perdidas... por gente tola e descuidada.
...Só que isso... não servia de nada! A realidade, construída por todos e cada um, implacável, impunha-se forte como se fora um megálito de chumbo sem dono. Um monumento ao qual... qualquer deles, cobardemente se dobrava, esperançado em obter respostas para perguntas que não tinha... e, subserviente, pelo medo do desconhecido... preferia aquela espécie de adoração, em vez de criar outra realidade a viver a própria vida!...
Confia em mim... diziam, um ao outro, com a mão cheia de nada que de tão vazia os iludia e levava, a fecha-la com a força de brutos que eram, teimando em acreditar lá estar encerrada, uma tal maravilha... que não dava para usar ou abrir mão dela!

terça-feira, junho 21, 2005

Continuação 6

Ainda que os mecanismos sejam pouco claros, é relativamente fácil encontrar uma relação directa entre o altruísmo, a disponibilidade para contribuir para a resolução dos problemas de quem nos rodeia, a vontade em fazer os outros felizes e a nossa própria felicidade e saúde!
Esse objectivo de vida, é, justamente o contrário de um outro, estereotipado e característico de uma sociedade muito competitiva, virada para o consumo, onde se pretende subir a qualquer custo sem perder tempo, pondo desde cedo em prática, a cultura do “cada um por si”, em que se valoriza o semelhante, em função dos bens materiais que ostenta ou que presumimos conseguiu acumular! ...Quem tem muito vale muito e, quem sabe... nos poderá ajudar a vir a ter, tudo aquilo que teimamos em acreditar ser indispensável, para a nossa felicidade!...
Daí, um tipo específico de reuniões sociais á laia de festas, onde as pessoas se procuram promover buscando atalhos para o “sucesso”, em que impera a conversa superficial e artificial, onde ninguém é sincero e se joga ao faz de conta, se vive da aparência e onde os meios para atingir os fins são cada vez menos questionáveis.
Ora, isto de pensar-mos uma coisa e numa ânsia cega para atingir-mos objectivos, fazer-mos outra, baralha o implacável e preciso sistema, do organismo profundo, que necessita de um equilíbrio e não se compadece com justificações esfarrapadas e contraditórias. Uma vez esse equilíbrio perturbado, essa contradição instalada, inicia-se um processo em que se vão manifestando disfunções aos mais variados níveis! Algumas dessas disfunções, manifestam-se ao nível do sistema neurovegetativo e estarão na origem de ulceras gástricas, tiques nervosos, arritmias, insónias etc. Perturbado o equilíbrio de zonas profundas, os sintomas, podem iludir o melhor dos médicos, particularmente se este não tem tempo, para analisar o doente em profundidade. E como se compreende, raro é o indivíduo que chega ao médico e diz: - Dr., estou aqui, porque quero subir na vida e para isso, não vi outra alternativa senão “comer a minha mãe viva”! Espezinhei o meu colega, entreguei os meus filhos ao “lobos” e, agora, não sei viver com o monstro em que me tornei! É provável que, este indivíduo, se queixe de dores nos ombros, tensão muscular, dores de cabeça, arritmias, insónias, disfunção eréctil... mas, iludido e enleado na teia da luta para o “êxito”, encara o seu comportamento como natural, legitimo e, essa perspectiva é reforçada quando, cedendo à vaidade à luz dos focos do “êxito”, se sente admirado e adulado, por uma série de abutres que pululam á sua volta (gente que sofre da mesma peste), oportunistas, que vivem da vaidade dos outros. E é assim, com o égo fermentado por tanta ambição, com o peito inchado de tanta presunção, que se dirige em crise, com a altivez que lhe resta, ao seu médico, a quem a troco de dinheiro exige que lhe faça desaparecer os sintomas e grande parte das vezes, com a arrogância á flor da pele, recusa-se a investigar e corrigir causas. É um indivíduo que tem pouco tempo, tem dinheiro e paga bem para o porem “bom”, sem suspeitar que esse trabalho, só pode ser feito por ele! Assim, sai do consultório com uma receita de analgésicos, relaxantes musculares ou calmantes, anti depressivos, anti ácidos e até inibidores dos ácidos, destinados a suprimir sintomas que, se recusa a interpretar como avisos, emitidos por um organismo profundo e inteligente, para um comportamento errado que teima em não corrigir, tendo em conta os objectivos que continua a perseguir obsessivamente, aplaudido por grande parte de um mundo que corre sérios riscos de se ver obrigado a encerrar para balanço!

A felicidade está demasiado ligada aos bens materiais. Numa sociedade de consumo como aquela em que vivemos, quem se vê impedido de consumir algo mesmo que supérfluo, sente-se inferiorizado e infeliz... na maior parte dos casos com aparente razão, uma vez que a sua auto estima é enfraquecida cada vez que se sente menosprezado, preterido, impossibilitado, não convidado... claramente por, apresentar sinais exteriores de pobreza, sofrendo todas as consequências que daí advêem!... Ele é o carro que não é novo, as roupas que não são de marca, a zona onde mora que não é prestigiada, o tipo de relógio que usa e uma infinidade de coisas que estigmatizam o indivíduo ao ponto de o fazerem desejar ser, quem realmente não é e até quem, poderá não se sentir bem a ser!

Exige-se a humildade do pobre, aceita-se a arrogância do rico e isso, tem repercussões na saúde, comprometendo até, a postura corporal! ...O pobre, anda mais dobrado!...

sexta-feira, junho 17, 2005

O rastilho

Estava longe a bomba! Era sempre o que se pensava e cada um achava que ela, lá tinha sido armada por alguém que não sabia o que andava a fazer! Era sempre assim! ...Quer dizer, ninguém era culpado de a lá ter posto. Agora o rastilho, esse, sabia-se bem quem o tinha acendido: fora um bando! Um bando grande e ao que se diz organizado, sabe-se lá por quem e com que fins!... O que é certo é, que esse bando agigantado, tornava o agigantar de um outro no extremo oposto, muito mais aceitável! Quer dizer... extremavam-se as posições, subiam as tensões, antigos combatentes já sem dentes vociferavam palavras de ordem que lhes tinham bailado na mente lá para as bandas do inconsciente e, até gente de bem, que teima em dizer não gostar de fazer mal a ninguém, espreitava a violência como forma de calar o medo e a insegurança! Os inocentes, gente fora de bandos, mais ligada à labuta que é ganhar honradamente o pão de cada dia, homens e mulheres de várias côres, olhavam-se de soslaio, com medo uns dos outros! Enquanto isso... gente sem rumo, saboreava a conquista do protagonismo, subia na hierarquia que estava à mão e, com o pelo na venta a crescer, o peito cheio de ar por achar estar a se afirmar... partia para aventuras que vira na televisão e tornava a fantasia realidade. O rastilho ardia. Ardia... porque se dizia, que a lei não permitia apagar o rastilho e, como se sabe, para mudar uma lei dessas, demora muito tempo, são necessárias muitas lutas, muitas batalhas de palavras, muitos pareceres e estudos especializados, muitos deputados agarrados a discussões politico filosóficas, muitas consultas à comunidade internacional, já que Portugal... gosta de tudo muito direitinho!... Era uma lei de difícil elaboração em nada comparável, com alterar leis laborais ou intruduzir novos impostos. O rastilho ardia, não se apagava. Quanto à bomba, isso então... nem pensar em desmontar. É que para isso, como sabemos, não há verba nem tomates!

quarta-feira, junho 15, 2005

Vamos lá a escrever á sorte, a escrever sem norte, a escrever sem intenção! Vamos lá a revelar o que de verdadeiro somos, a encontrar o que perdemos a oferecermo-nos uns aos outros... ou estão com medo?!
Vamos lá acreditar firme que algo em nós está certo, que o correcto é em função do agora e que o agora faz o sempre. Vamos lá andar pr'á frente, subir a montanha de problemas que é a vida, até ao topo que é o final. Vamos lá andar... ao menos! Vamos lá parar com o mal dizer sem apontar o erro e a sua solução. Vamos lá procurar em nós razões para tanto tombo tanta dôr e tanta agrura que se instalou e perdura como praga que corroi, que detrói em nós belos ânimos que podemos adivinhar a pairar num espaço, que mal conhecemos. Vamos lá a entendermo-nos (não... de uma vez por todas que já sabemos que isso... não dá), devagarinho, com a paciência de Jó ou outra qualquer... Vamos lá a acreditar que é possível e que para isso o nosso humilde desempenho é bem mais importante do que possamos ter vindo a pensar. Vamos lá, perante o escrito, o dito e feito... assumir os erros, enxotar as culpas e, fazendo um esforço, confiarmos nos passos dados, acreditando que estamos a aprender a caminhar, uns com os outros, cada vez melhor. Venha de lá essa abundância aberta e sem pretensões, esse altrúismo, essa riqueza de emoções que nos teimam em fugir, essa tolerância que te permita entender a importância de existir gente diferente e que te alimente a vontade de te descobrir em mim e aceitar, que afinal... qualquer de nós, faz parte de um todo em que o que nos separa existe, para sustentar tudo o que nos une.

terça-feira, junho 14, 2005

Convicção

Eu não me enquadro em nenhum partido político. Se alguns acham que é uma posição confortável é porque não me têm estado na pele e sentido o que é, defender hoje quem ataquei ontem, em favor da coerência que me tem levado a recusar usar, um carimbo na testa. Na realidade, o fanatismo chateia-me e, a minha ideologia, passa mais pela tolerância, se bem que se tenha vindo a revelar uma enorme utopia, de difícil mas estimulante, gestão!
Posto isto, não quero deixar passar em branco, a morte de três homens que (cada um à sua maneira) aceitaram o protagonismo, apostados em dominar as suas vaidades, acreditando estar a contribuir para que o mundo seja melhor. Se não o conseguiram, não foi por falta de empenho ou de sacrifício do seus interesses pessoais. À sua maneira tentaram contribuir... e isso, para mim, faz a diferença.

domingo, junho 12, 2005

Abanão

GNR trava onda em Quarteira
Um numeroso grupo oriundo de bairros degradados de Lisboa, lançou ontem o pânico na praia de Quarteira... e só não invadiram o areal, como alguns deles tinham feito na véspera em Carcavelos porque foram travados pelo pelotão ciclista da GNR.
Correio da Manhã do dia 12/06.

O fenómeno em Portugal é novo!...

Todos nós sabemos que, a esmagadora maioria, eram jovens Africanos (o que quer dizer pretos) dos 12 aos 20 anos...

Associações de emigrantes Africanos, manifestando a sua preocupação, pedem encontro com o Ministro da presidência, pedindo a oportunidade para apresentar propostas que visam minimizar estes e outros casos graves em que os jovens africanos nascidos em Portugal, estão envolvidos.
As associações, argumentam que estes problemas não se resolvem apenas com a intervenção policial.

Eu, reteria destas notícias uma frase: Um numeroso grupo, oriundo de bairros degradados de Lisboa...

Entretanto, vou abrir uma excepção e reeditar um post:

Guia prático para a construção de um moderno viveiro de marginais

1º - Escolher um terreno em que ninguém queira viver. Um sítio agreste e por isso barato, nos subúrbios de uma grande cidade.
2º - Construir lá, com pouca despesa, umas torres sem graça. Adicione-se um parque infantil com dois balouços e um bocado de areia. Não esquecer a escola para compor o complexo.
3º - Procurar famílias problemáticas, desintegradas, debilitadas ao nível físico e mental, económico e social, famílias... sem estrutura de recurso, em situações periclitantes que habitem bairros degradados, situados em terrenos com "potencial", cobiçados por construtores pontas de lança de instituições de crédito e bem relacionados com Câmaras Municipais e afins.
4º - Seleccionar os desgraçados por ordem e, em tempo útil, atribuir-lhes uma dessas casas estipulando-lhe uma renda dita simbólica.
5º - Convidar os órgãos de comunicação social para fazerem a cobertura da cerimónia oficial, em que, com pompa e circunstância, os representantes do poder político entregam as chaves aos ditos desgraçados. Promova-se uma entrevista a uma velha desdentada à qual seja ainda possível arrancar um pequeno olhar de esperança e um agradecimento convicto.
6º - Uma vez os desgraçados instalados, manter-lhes todas as premissas que os conduziram à degradação e, em lume brando, esperar que as crianças cresçam.
7º - Adicionar uma pitada de crispação dos habitantes da Vila próxima, em consequência de um ou outro acidente (vulgo roubo) que envolva pequenos grupos desses jovens sem referencias e educação e que se arrogam ao direito de possuir também, telemóveis, ténis ou roupa de marca...inconscientemente esperançados que esses artefactos, lhes permitam "ser como os outros", passar despercebidos e apagar um carimbo que trazem na testa desde que nasceram.
8º - Esperar que a revolta cresça... nos invasores e nos invadidos, nos assaltantes e nos assaltados... até que abra brecha.
9º - Juntar uns filmes de merda frequentes, ao alcançe de todos, decorar com o comércio de armas, drogas lícitas e ilícitas que engorda gente insuspeita que passa a vida a bater com a mão no peito sem dizer "mea culpa" e levar à mesa... regado com muito álcool ao qual é só puxar o fogo.
N.B. - Esta receita, deve ser confeccionada com muito cuidado, para não sair tudo queimado.

Após a reedição deste post, não posso deixar de fazer notar que, a maioria destes jovens de origem Africana, nascidos em Portugal, vivem em bairros de barracas muito mais próximo do "terceiro mundo" do que aquílo que alguns, possam julgar... lugares, em que a degradação, atinge a alma fundo... e dá, o que se vê! É preciso fazer um desenho?! Há ainda muita gente que pretende insistir em acreditar, que isto, tem a ver com a cor da pele?!

quarta-feira, junho 08, 2005

Pobres e mal agradecidos

Naquele castelo distante, a corte andava constantemente, numa azáfama! Aparentemente diligentes, procuravam com afinco, suprir as necessidades que criavam. Acabado um banquete, uma festa, uma orgia, um regabofe... urgia mandar fazer os preparativos para dar continuação à coisa!...
Os bobos da corte, corriam de um lado para o outro entretendo a gentes, abanando guizos e pandeiretas, fazendo piruetas e, largando um ou outro dito que, parecendo às primeiras... inconveniente, acabava por divertir aquela gente que, em vez de se ofender, pelo pouco que lhes ligavam, acabavam, por lhes achar piada.
Festa após festa, banquete após banquete, gargalhada após gargalhada em resultado da piada dita, pelo soberano... a corte, tinha havia muito, encarado a coisa como uma profissão... desgastante!... Quanto mais ria, gozava e se divertia, mais subia... na consideração, mais desenvolvia, a arte de bem lamber botas e de concordar com cara alegre com todas as ideias do soberano, ainda que fossem loucuras e puras idiotices. Em troca, levava esta bela vida que todos podem imaginar!...
Acabado o vinho, os leitões, porcos, vitelos e faisões... acabado o belo pão, a tábua de queijos e o molho de alcaparras... havia, claro, que tomar medidas para repor as iguarias na mesa do rei... e, a corte, estava lá para isso! Os camponeses, também...
...Membros da corte, especializados nesses assuntos de encher dispensas e tornar as mesas fartas, arquitectavam um plano à sombra do soberano (um homem a quem o povo reconhecia legitimidade para nele mandar) e, distribuíam ordens a quem ganhava os despojos por receber e cumprir ordens, sem questionar!
E lá saía uma equipe, para fora de portas, montada em garbosos cavalos negros enfeitados, homens fortes protegidos por pesados escudos, preparados com espada à cinta, para o que desse e viesse.
O plano, arquitectado por bêbados a ressacar e gordos comilões sem cerimónias, era mais ou menos sempre o mesmo: Mandar os mais brutos, às povoações a que chegavam em desvairadas cavalgadas, fazendo-se anunciar, tocando as trombetas! Depois, chamavam a atenção ao povo pelos seus descuidos, calcavam-lhe o égo forte e feio, cascavam-lhe no lombo e logo de seguida, quais pais complacentes que castigam por amor, lembravam-lhes, o quanto se arriscavam para os defender... das invasões, dos raios, dos coriscos e trovões, dos misteriosos perigos que estavam nos livros que só eles tinham e sabiam ler, e de todos os outros perigos desconhecidos, impossíveis de descrever...
...Resultava sempre!... De uma ou de outra maneira, cada aldeão, sentia a culpa a crescer, só de pensar nos sacos de batatas e nos presuntos escondidos, nos litros de feijão que tencionara não dar ao manifesto... e, entendia, que tinha vindo a ser pobre e mal agradecido. E era assim... que redimidos, carregavam eles próprios às costas, até à mesa do rei e da sua nobre corte, os produtos indispensáveis para que esses nobres, valentes e destemidos amigos, os pudessem continuar a proteger de tão temíveis e iminentes perigos...

domingo, junho 05, 2005

Rédea solta

Foi em desnorte e sem sentido
e pelo medo de estar perdido
que entre passos partiu de si
E foi sem querer em desespero
ciente de nada saber
que explodiu se encontrou e deu
Foi desse fora nesse aqui e agora
desse avesso a que chegou
que se entendeu olhou e viu
que era já tarde para qualquer começo
cedo demais para qualquer fim
e que se nada fora ganho
tampouco algo estava perdido
Viver parecia agora ser dar passos
pr’além de lhes buscar o seu sentido

sexta-feira, junho 03, 2005

Continuação 5

Estar de bem com a vida, querer realizar obra, encontrar a vontade para rir, para sentir prazer, em dar prazer, em visitar um amigo ou promover em redor um momento feliz é, justamente, o oposto da infelicidade! Sentir-se são, vigoroso, capaz e solícito é bem o contrário de estar doente, cheio de dores, queixas, ressentimentos e amarguras.

Sem felicidade, na ausência da capacidade para a procurar, mergulhado o ser num mar de agrura e ressentimento que inviabiliza a busca de soluções para os problemas com que se confronta, destorcida a perspectiva pela qual se poderia encarar essa busca e esse problema, como uma oportunidade na vida que nos ajuda a crescer, a progredir e não, como um infortúnio que nos bate á porta para o qual nunca estamos preparados, que nos abate e revolta... sem felicidade, sem a capacidade de lutar por ela a cada passo... dizia eu, é impossível haver saúde e vice-versa.
Se, a saúde implica a ausência de dor ou disfunção, orgânica ou psíquica, a falta da predisposição para a vida, pode ser interpretada como um dos primeiros sintomas de doença, em consequência, de uma qualquer, distonia.
O plano e o momento primordial em que essa distonia tem origem, nem sempre é possível de determinar! Pode acontecer ao nível da mente, no plano psíquico: um equívoco durante o processo de formação do carácter, um distúrbio emocional, uma premissa errada... pode ter um papel decisivo para se desenvolver um tipo de comportamento que cause alguma fricção, algum stress na relação que se tem com o mundo e isto repercutir-se na saúde orgânica do indivíduo. Por outro lado, também uma alteração do equilíbrio orgânico por razões tão fortuitas como, um excesso de poluição ambiental, uma intoxicação alimentar... terá repercussões no estado de espírito, condicionando o comportamento.
Temos por isso, que nem toda a doença tem origem na infelicidade e vice-versa. Existem doenças com origem em agentes externos: a poluição, a degeneração dos produtos alimentares, a educação incompetente e castradora, em que se alicerça o modelo social e económico em que vivemos -fonte de bloqueios, couraças e medos- que, fogem ao control do indivíduo. Contudo, através de complexos e (até ver) misteriosos mecanismos do sistema imunitário, o organismo defende-se e tudo leva a crer, que há uma maior resistência/competência desse sistema, numa pessoa que (disposta a rebuscar nas profundezas a força para esboçar um sorriso), persista na busca de caminhos para a felicidade... do que, numa outra que, sentindo-se traída pela sorte, assuma a tristeza como a consequência natural do estado a que o “destino” a votou e, viva, deprimida, revoltada, sempre dependente de ajuda, maldizendo e renegando a própria sorte. Ao contrário, pensarmos nos outros, tornarmo-nos disponíveis para ajudar alguém, pode servir-nos como acto profilático ou mesmo terapêutico, dar-nos mais força e resistência, fazendo-nos sentir úteis e por isso, dignos de amor, tão importante para a nossa realização e bem estar, integridade e saúde; física, mental e emocional e, se quiser-mos, espiritual!
No fundo o “truque”, parece girar á volta do dar e receber, do investir o melhor de nós, com a humildade suficiente que nos permita, reconhecer e corrigir erros, rumo a um ser cada vez menos imperfeito.
Trata-se, de ter um objectivo sempre á mão que passe por nos tornar-mos úteis a cada passo, mais que não seja... ajudando “a velhinha” a atravessar a rua!