terça-feira, abril 19, 2005

Um momento de tréguas

Fogo na peça!... Gritava empolgado o cabo raso ao soldado, cumprindo ordens de um sargento ajudante que se mantinha distante e resguardado, não fosse o diabo tecê-las...
Naquela guerra, tudo era como em qualquer outra!... Todos queriam matar para não serem mortos... um clima de medo alimentava um ódio cego - fornecido na partida - com destino vago... um ou outro candidato a herói, sonhava com uma medalha, os militares de carreira preparavam a promoção e, na realidade, ninguém sabia, como se tornara possível aquele desamor que grassava campo fora; batalha após batalha, cada uma mais sangrenta que a anterior!
Falava-se, nas trincheiras nauseabundas, que no topo do comando havia um general, que por táctica obedecia a um civil bem colocado, membro de um clube a cheirar a rosas com interesses secretos em que as coisas fossem estando nesse estado. ...Mas isso, nunca foi autorizado a ser provado em tempo útil e, alguns dos que o diziam chegaram a ser condenados por difamação a indivíduo indeterminado...
O soldado - que acendia o rastilho, dava fogo à peça e disparava a bala, que alombava com a carga e cavava as trincheiras -, evitava o que podia, ver-se a braços com a alma suja! ...Cada vez que tropeçava num corpo abandonado a que tinha tirado a vida, escolhia acreditar, ter cumprido o seu dever, levando a cabo a missão que lhe fora destinada. ...Sem saber ao que andava ou o porquê do que fazia... não sabia, nem queria saber... mais nada!...
Finda a guerra, a euforia do saque - na paz que entremeia cada tumulto -, lambiam-se as feridas, vinham à baila os traumas e, em noites mal dormidas, havia quem sentisse a consciência pesada... mas já não valia de nada... uma guerra estava feita e outra... ao lume, fervilhava. Um lume... alimentado, por um civil bem colocado que garantia ser aquela a via para chegar à paz!
...Mas nunca nada foi autorizado a ser provado em tempo útil. Não se lhe sabia o nome e a morada e, o soldado, não sabia nem queria saber mais nada. ...Já bem lhe bastava expiar culpas e reenvindicar os direitos de antigo combatente.

2 comentários:

BlueShell disse...

Triste...

O sentido do dever a cumprir...
depois...o remorso...o não compreender a razão...sim! Que razão? Que razões???

Percebi o teu texto...a mensagem subjacente...a dor...as noites ainda hoje mal dormidas...

Jinho, BShell

pindérico disse...

Clara, a mensagem.Obscuros, os caminhos para a paz!