domingo, fevereiro 11, 2007

Afinal, tenho voto na matéria.

Querem então convencer-me de que afinal, tenho voto na matéria! Justamente nesta matéria! Coisa de sim ou não... e prontos! Eis-me feito um cidadão com voz, exemplo vivo do que é viver em democracia.
...Pena que não me tenham pedido a opinião a propósito da Ota, do TGV, da administração privada em hospitais públicos, das fundações "sem fins lucrativos", do desvario das contas públicas nas autarquias com pérfidas ligações a urbanizadores construtores e banca, dos rios de dinheiro gastos em cursinhos profissionais que não servem para nada enquanto são cortadas verbas a muitos outros que poderiam fazer toda a diferença, da falta de ética de antigos ministros ao serviço de quem ontem tutelavam...
Mas, quem em seu juizo perfeito se atreverá a comparar essas coisas, com esta que agora está na mesa?! ...Ainda assim, arrisco dizer que por tudo isso e muito mais, se remetem pessoas, homens e mulheres para condições em que se vêem forçados a fazer o que ninguém gostaria de fazer! ...Vítimas da indiferença, da ignomínia, do individualismo e da hipócrisia. Da ignorância também e da leviandade que se apregoa ser coisa boa e liberdade.
Nunca gostei de testes americanos. Gosto mais das surpresas que nos pode reservar a dialéctica quando nos dispomos a ser delicados e, determinados nos propômos a encontrar e corrigir as falhas que nos induzem uma após outra vez em erros que todos reconheçemos.
...Mas o estado que somos e em que nos encontramos, o momento civilizacional que criàmos... exije-nos o pragmatismo do sim ou não, e prontos... virada a página, assunto arrumado!
O porquê, o porquê da coisa, não interessa para nada. Isso são lá coisas do Príncipezinho, da criança que existirá em nós, e o mundo é regido por homens grandes e determinados em virar pagínas dos cadernos com os assuntos que determinam como os mais convenientes a ficarem na ordem do dia. Interessa sim, cumprir um dever e dizer sim ou não! As causas, os porquês, verdadeiramente... não estão em discusão, e por este andar, é bem provável que nunca venham a estar.
...Um dia, interrogado sobre a utilidade de se fazer ou não um referendo a propósito de Mastrich, o Professor Doutor, antigo Primeiro Ministro, actual Presidente da República... esse vulto de proa, esse quase mito que talvez um dia venha a ganhar um prémio de grande Português num concurso qualquer, disse que não valia a pena! E, não valia a pena... segundo disse, porque o assunto era demasiado técnico e o povo não percebia nada!... Vai daí, o governo da altura decidiu como entendeu e prontos!
Mas hoje, o governo em funções e com maioria, prefere referendar do que se arriscar a decidir e prontos! È que o assunto, exige demasiada ètica e neste particular, já o povo é um especialista! Os políticos, é que parece... que têm algumas dificuldades!

11 comentários:

Miss Alcor disse...

A questão do sim e não, é potencialmente importante, mas a verdade é que estas discussões publicas não são mais senão um "tapa-olhos" para desviar as discussões da sociedade para o que lhes interessa!

A verdade é que o governo existe para legislar, mas é sempre um conflito de interesses. Por mais que nos custe, a questão do aborto, se não fosse referendada podia custar mais os próximos 4 anos ao Sr. Primeiro Ministros, e eles não vêm mais nada à frente que não sejam os próprios interesses!!!

O povo, esse que nem se digna a ditar a sua opinião e fica em casa a ver o futebol, tem memória curta! (ao contrário do caro amigo, que parece estar muito atento às questões da actualidade!)

Manuel Veiga disse...

tens razão. mas desta vez gostei mesmo. conforta-me saber que, pouco a pouco (com atraso de vinte anos, pelo menos)a "colonização" das consciências deixou de ser possível...

abraços

uivomania disse...

Miss Alcor:
No essêncial estamos de acordo. De facto, se bem que o assunto seja de uma importância fundamental e, justamente por isso, esperava que Portugal, ao invés de importar fórmulas e soluções, fizesse uma abordagem diferente. Inovasse. Discutisse as razões da esmagadora maioria dos abortos e tomasse medidas que permitissem transformar as condições que induzem ao aborto. Mas, pelos vistos, continuamos a preferir guardar a inovação e o arrojo para outras àreas.

uivomania disse...

Herético:
Lamentávelmente não estou de acordo quanto à colonização das consciências ter deixado de ser possível.

Manuel Veiga disse...

um abraço...

tens razão, excesso de optimismo meu...

max disse...

Olá!
Continuas e bem, uivando por aqui.
Vim espreitar e ler e mandar beijos
:)

Nevrótica Aluada disse...

Isto foi o elogio ao pendor da incongruência... ainda estou abismada com o tamanho empenho do PM no apaganço da luz cerebral do povinho.

max disse...

Venho agradecer-te os uivos no meu blog! Muito obrigada!
Assim, vale a pena escrever. ;)
Muitos beijos e restos de semana que já ninguem quer

uivomania disse...

Nevrótica:
O facto de ainda conseguires ficar abismada, enternece-me.

uivomania disse...

Max:
Não tens que agradecer. Achei fantástico o post e, se estiveres de acordo poderei aquí, dar-lhe algum eco.

Miss Alcor disse...

Tenho um problema!!! (sim, mais um!) esqueço-me de ver as possíveis respostas aos meus comentários, e portanto ainda não comentei o teu comentário ao meu comentário (eh lá, que embrulhada!).

No essencial, concordo plenamente contigo. Deviamos antes tentar resolver os problemas que conduzem à realização do aborto e não tratar de despenalizar o aborto em si! Mas a verdade é que 9 anos passados desde o último referendo nesta matéria, ainda nada foi feito e muita coisa poderia ter sido mudada!