Ainda que os mecanismos sejam pouco claros, é relativamente fácil encontrar uma relação directa entre o altruísmo, a disponibilidade para contribuir para a resolução dos problemas de quem nos rodeia, a vontade em fazer os outros felizes e a nossa própria felicidade e saúde!
Esse objectivo de vida, é, justamente o contrário de um outro, estereotipado e característico de uma sociedade muito competitiva, virada para o consumo, onde se pretende subir a qualquer custo sem perder tempo, pondo desde cedo em prática, a cultura do “cada um por si”, em que se valoriza o semelhante, em função dos bens materiais que ostenta ou que presumimos conseguiu acumular! ...Quem tem muito vale muito e, quem sabe... nos poderá ajudar a vir a ter, tudo aquilo que teimamos em acreditar ser indispensável, para a nossa felicidade!...
Daí, um tipo específico de reuniões sociais á laia de festas, onde as pessoas se procuram promover buscando atalhos para o “sucesso”, em que impera a conversa superficial e artificial, onde ninguém é sincero e se joga ao faz de conta, se vive da aparência e onde os meios para atingir os fins são cada vez menos questionáveis.
Ora, isto de pensar-mos uma coisa e numa ânsia cega para atingir-mos objectivos, fazer-mos outra, baralha o implacável e preciso sistema, do organismo profundo, que necessita de um equilíbrio e não se compadece com justificações esfarrapadas e contraditórias. Uma vez esse equilíbrio perturbado, essa contradição instalada, inicia-se um processo em que se vão manifestando disfunções aos mais variados níveis! Algumas dessas disfunções, manifestam-se ao nível do sistema neurovegetativo e estarão na origem de ulceras gástricas, tiques nervosos, arritmias, insónias etc. Perturbado o equilíbrio de zonas profundas, os sintomas, podem iludir o melhor dos médicos, particularmente se este não tem tempo, para analisar o doente em profundidade. E como se compreende, raro é o indivíduo que chega ao médico e diz: - Dr., estou aqui, porque quero subir na vida e para isso, não vi outra alternativa senão “comer a minha mãe viva”! Espezinhei o meu colega, entreguei os meus filhos ao “lobos” e, agora, não sei viver com o monstro em que me tornei! É provável que, este indivíduo, se queixe de dores nos ombros, tensão muscular, dores de cabeça, arritmias, insónias, disfunção eréctil... mas, iludido e enleado na teia da luta para o “êxito”, encara o seu comportamento como natural, legitimo e, essa perspectiva é reforçada quando, cedendo à vaidade à luz dos focos do “êxito”, se sente admirado e adulado, por uma série de abutres que pululam á sua volta (gente que sofre da mesma peste), oportunistas, que vivem da vaidade dos outros. E é assim, com o égo fermentado por tanta ambição, com o peito inchado de tanta presunção, que se dirige em crise, com a altivez que lhe resta, ao seu médico, a quem a troco de dinheiro exige que lhe faça desaparecer os sintomas e grande parte das vezes, com a arrogância á flor da pele, recusa-se a investigar e corrigir causas. É um indivíduo que tem pouco tempo, tem dinheiro e paga bem para o porem “bom”, sem suspeitar que esse trabalho, só pode ser feito por ele! Assim, sai do consultório com uma receita de analgésicos, relaxantes musculares ou calmantes, anti depressivos, anti ácidos e até inibidores dos ácidos, destinados a suprimir sintomas que, se recusa a interpretar como avisos, emitidos por um organismo profundo e inteligente, para um comportamento errado que teima em não corrigir, tendo em conta os objectivos que continua a perseguir obsessivamente, aplaudido por grande parte de um mundo que corre sérios riscos de se ver obrigado a encerrar para balanço!
A felicidade está demasiado ligada aos bens materiais. Numa sociedade de consumo como aquela em que vivemos, quem se vê impedido de consumir algo mesmo que supérfluo, sente-se inferiorizado e infeliz... na maior parte dos casos com aparente razão, uma vez que a sua auto estima é enfraquecida cada vez que se sente menosprezado, preterido, impossibilitado, não convidado... claramente por, apresentar sinais exteriores de pobreza, sofrendo todas as consequências que daí advêem!... Ele é o carro que não é novo, as roupas que não são de marca, a zona onde mora que não é prestigiada, o tipo de relógio que usa e uma infinidade de coisas que estigmatizam o indivíduo ao ponto de o fazerem desejar ser, quem realmente não é e até quem, poderá não se sentir bem a ser!
Exige-se a humildade do pobre, aceita-se a arrogância do rico e isso, tem repercussões na saúde, comprometendo até, a postura corporal! ...O pobre, anda mais dobrado!...
3 comentários:
Mais um texto notável.
Um abraço
Quanta gentileza... e, que doce forma de me confrontar com a vaidade!
Boa série de textos! Merecem destaque.
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