Naquele castelo distante, a corte andava constantemente, numa azáfama! Aparentemente diligentes, procuravam com afinco, suprir as necessidades que criavam. Acabado um banquete, uma festa, uma orgia, um regabofe... urgia mandar fazer os preparativos para dar continuação à coisa!...
Os bobos da corte, corriam de um lado para o outro entretendo a gentes, abanando guizos e pandeiretas, fazendo piruetas e, largando um ou outro dito que, parecendo às primeiras... inconveniente, acabava por divertir aquela gente que, em vez de se ofender, pelo pouco que lhes ligavam, acabavam, por lhes achar piada.
Festa após festa, banquete após banquete, gargalhada após gargalhada em resultado da piada dita, pelo soberano... a corte, tinha havia muito, encarado a coisa como uma profissão... desgastante!... Quanto mais ria, gozava e se divertia, mais subia... na consideração, mais desenvolvia, a arte de bem lamber botas e de concordar com cara alegre com todas as ideias do soberano, ainda que fossem loucuras e puras idiotices. Em troca, levava esta bela vida que todos podem imaginar!...
Acabado o vinho, os leitões, porcos, vitelos e faisões... acabado o belo pão, a tábua de queijos e o molho de alcaparras... havia, claro, que tomar medidas para repor as iguarias na mesa do rei... e, a corte, estava lá para isso! Os camponeses, também...
...Membros da corte, especializados nesses assuntos de encher dispensas e tornar as mesas fartas, arquitectavam um plano à sombra do soberano (um homem a quem o povo reconhecia legitimidade para nele mandar) e, distribuíam ordens a quem ganhava os despojos por receber e cumprir ordens, sem questionar!
E lá saía uma equipe, para fora de portas, montada em garbosos cavalos negros enfeitados, homens fortes protegidos por pesados escudos, preparados com espada à cinta, para o que desse e viesse.
O plano, arquitectado por bêbados a ressacar e gordos comilões sem cerimónias, era mais ou menos sempre o mesmo: Mandar os mais brutos, às povoações a que chegavam em desvairadas cavalgadas, fazendo-se anunciar, tocando as trombetas! Depois, chamavam a atenção ao povo pelos seus descuidos, calcavam-lhe o égo forte e feio, cascavam-lhe no lombo e logo de seguida, quais pais complacentes que castigam por amor, lembravam-lhes, o quanto se arriscavam para os defender... das invasões, dos raios, dos coriscos e trovões, dos misteriosos perigos que estavam nos livros que só eles tinham e sabiam ler, e de todos os outros perigos desconhecidos, impossíveis de descrever...
...Resultava sempre!... De uma ou de outra maneira, cada aldeão, sentia a culpa a crescer, só de pensar nos sacos de batatas e nos presuntos escondidos, nos litros de feijão que tencionara não dar ao manifesto... e, entendia, que tinha vindo a ser pobre e mal agradecido. E era assim... que redimidos, carregavam eles próprios às costas, até à mesa do rei e da sua nobre corte, os produtos indispensáveis para que esses nobres, valentes e destemidos amigos, os pudessem continuar a proteger de tão temíveis e iminentes perigos...
6 comentários:
Pois é(ra); "só de pensar nos sacos de batatas e nos presuntos escondidos, nos litros de feijão que tencionara não dar ao manifesto...".
Tivesse o aldeão a noção, clara, de que a sua contribuição servia uma causa nobre e não, para alimentar um verdadeiro regabofe e, acredito, que entregaria de bom grado o produto do seu trabalho, ainda que com sacrifício. ...Mas a forma como tem sido tratado, enganado uma após outra vez, levam-no, até por instinto, a precaver-se e a esconder o possível, habituado que está, a não ser apoiado quando era pressupôsto sê-lo! Vêjam-se os povos dos países nórdicos, do Canadá... em que os impostos não incomodam ninguém, porque todos sabem que em caso de doença... primeiro, no imediato, dá-se assistência e depois é que se pensa em contas! Vá-se lá em Portugal perguntar, ao contribuinte, tanto aquele que foge com o que pode, como ao outro, que não pode de forma nenhuma fugir (e que é a maioria), vá-se lá perguntar ao consumidor... que contribui quer queira quer não... vá-se lá perguntar, porque é que andam com os dentes podres!... Porque é que muitos dos nossos velhos (gente que na sua esmagadora maioria trabalhou de sol a sol por tostões de miséria, sem direito a reenvindicar sequer descontar para a caixa, engordando famílias que hoje mantêem os seus delfins no poder deste reino com rei mas sem roque) porque é que esses velhos... dizia eu, pedem aos médicos para lhes assinalar nas receitas, qual o medicamento indispensável? Que raio de moralistas são estes que pretendem esmifrar ainda mais o pequeno contribuinte, que permitem que seja sugado por multinacionais que os usam e deitam fora, como se fossem pedaços sujos de desperdício?
Como se pode exigir ao pobre que dê a sua saquinha de batatas ao manifesto e suporte a míngua, enquanto nos palácios se vai passando o esbanjamento que passa e que até o proprio cego vai vendo? Sempre ouvi dizer que o exemplo vem de cima e quando isso se passa o povo transforma-se numa agradável surpresa!
pois...o manifesto aqui é igual... esta história representa..o antes...o durante.. e o problema é o depois
Gostei de te ler....
Um BOM Domingo,
BShell
Carlos Barros, não sei com que manifesto estás a comparar este, dizendo que é igual... de qualquer modo, agradeço-te a visita, tentei conhecer-te e, se me permites... digo-te: tu és um pândego pá!
Os senhores do castelo bem sabem dos pecaditos do aldeão, e habilmente exploram o facto de o saberem submisso enquanto ousar esconder uma ou outra chouriça e uns saquitos de grão.
Assim vai sendo!
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