sábado, junho 25, 2005

Uma crença de mau gosto

Confia em mim!... Dizia o mastodonte ao brutamontes sem saber o porquê do que estava a dizer! Mas era escusado. O mal estava feito e iria continuar a ser feito, porque qualquer deles não tinha jeito... nenhum, para acautelar o bem do outro.
Confia em mim... dizia o bruto. O que achava, saber a razão da sua existência e teimava, em não dar o braço a torcer, enquanto não lhe estivesse a doer.
Confia em mim... dizia um, a quem... o quisesse ouvir. Mas já ninguém lhe dava ouvidos... Todos os passos tinham sido perdidos em labirintos reluzentes de palácios distantes e, a noitada, ainda agora tinha começado.
Falava-se... na altura, de profecias e conjecturas de sociedades secretas, de conjuras e medos, conspirações e segredos guardados, verdades antigas... perdidas... por gente tola e descuidada.
...Só que isso... não servia de nada! A realidade, construída por todos e cada um, implacável, impunha-se forte como se fora um megálito de chumbo sem dono. Um monumento ao qual... qualquer deles, cobardemente se dobrava, esperançado em obter respostas para perguntas que não tinha... e, subserviente, pelo medo do desconhecido... preferia aquela espécie de adoração, em vez de criar outra realidade a viver a própria vida!...
Confia em mim... diziam, um ao outro, com a mão cheia de nada que de tão vazia os iludia e levava, a fecha-la com a força de brutos que eram, teimando em acreditar lá estar encerrada, uma tal maravilha... que não dava para usar ou abrir mão dela!

2 comentários:

Biranta disse...

O pior são os que acham que os outros devem adoptar as suas opções... em que nem os próprios confiam.
Um problema sério esse da "confiança". É que, muitas vezes, a exigência de confiança é abusada pelo facto de, quem a solicita, achar que tem "direitos adquiridos", curriculo, "provas dadas", que dão "estatuto" e justificam recompensa e reconhecimento, em detrimento dos outros, dos méritos dos outros, etc. A democracia é uma aprendizagem em estado imberbe, prejudicada pelos novos "valores" da concorrência e critérios de êxito e "prestígio", que assentam, essencialmente, nas individualidades, em oposição à massa anónima e "insignificante".
Coisa complicada! Acho que até eu me perdi.

uivomania disse...

Acho que não te perdeste assim tanto!
Muito do que pensamos e dizemos, poderá estar errado. Mas, que fazer se são essas as nossas convições?!...
Talvez que, perante outras opiniões e perspectivas, devamos reflectir e, se for caso disso, dar o braço a torçer antes de nos estar a doer...
No meio de tantas opiniões, de tantas teorias fabricadas dentro e fora dos palácios, a realidade (qual megálito de chumbo) impõem-se-nos feita por todos nós! Concordo que uns, têm um maior poder e vontade e interesses inconfessáveis de pérfidos, em manipular, mas no fundo, e para além de todas as teorias, acredito que tudo se resume a ganharmos o jeito, de acautelar o bem do outro. Muito para além das palavras, das intenções, das promessas e verdades que julgamos ter, será a consciência da absoluta necessidade em sermos solidários e tolerantes que, creio, pode manter a esperança em corrigir esta cegueira em que o homem mergulhou por avareza e puro medo de ser livre.