sábado, janeiro 22, 2005

Défice

Os portugueses, andam desanimados... ombros caídos... olhos no chão... sentem-se traídos e vão ressentidos, arrastando-se penosamente na vida, em busca de terra firme ou, na sua falta... de culpados, que lhes tirem algum peso dos ombros! Sentem-se perdidos e sem rumo, neste país caravela desde sempre por vagas lambido. Ora contra, ora ao sabor do vento, da corrente e ainda que por vezes, com as velas esfarrapadas e o casco cheio de rombos das tormentas... vai... este povo, enfrentando os medos, os monstros e gigantes... e com essa matéria fabricando o seu destino.
Mas... há um défice! Um défice enorme de esperança... de coragem e garra, de vontade e determinação de chegar a bom porto. E esse défice, é bem pior do que o outro, de que tanto se tem falado. Não se resolve com teorias de economia de mercado, com operações de cosmética contabilistica, ou golpes de rins da engenharia financeira!
Há um défice. Agigantou-se agora mais uma vez o nacional fatalismo e já pouco interessa de quem é a culpa. Isso é passado!
Urge sacudir do pelo o ressentimento e o queixume, aceitar cada problema como um novo desafio, desatar cada nó que nos tolhe, bradar cada vez mais alto a liberdade e bater cada vez mais forte o pé à desdita, destemidos.
Urge sair do marasmo, pelos filhos, pelos avós e por nós. Sair da conversa de ir ao pipi, que anda à roda... à roda... não dá nada e que espremida, não deita uma gota.
Urge acabar com a inveja e a cuscuvilhice, com a crítica da política do bota a baixo e com a lógica de que é isso que nos põe em cima, sem sequer tentarmos elevar-nos para não corrermos o risco de fracassar.
Urge cultivar a excelência, a perfeição no pormenor, a gentileza escorreita, o olhar e o gesto solidário. O resto são tretas embrulhadas em papel de seda!
Urge mandar às urtigas os medos, chamar os bois pelos nomes e acabar de vez com o servilismo hipócrita e sem sentido.
Urge alcançar o máximo de humildade, com doses q.b. de auto estima que sempre jorra da solicitude enquanto vontade de ser útil.
E... quando com vozes melosas nos disserem: vêm por aqui... urge, analisar-mos muito bem, com a nossa própria cabeça, se é isso mesmo que nos convém.

6 comentários:

Ana disse...

Uivo concordo em absoluto com o que escreveste neste post, mas...Urge, urge e urge... Mas e força? E vontade? O desalento há muito tomou conta deste povo, a inércia instalou-se e não o deixa emergir das profundesas de um mar outrora navegado. A certeza das injustiças, das invejas e da mesquinhês, prosta-o e deixa-o sem vontade de lutar. Urge então um povo novo?! Ou urge fazer como eles, deixar que o barco se afunde. Quem depois vier que o restaure, que enfrente os adamastores desta sociedade hipócrita onde os valores morais há muitos deixaram de existir.

Besitos

ricardo disse...

"se não lutarmos pelo futuro que queremos, o mais certo é termos o futuro que não queremos". já uma vez utilizei esta frase lá no teatro. eu acredito que o futuro está nas nossas mãos. nas mãos de todos. juntos. é preciso acreditar (não, isto não é nenhum slogan político!). porque se baixamos os braços, então nada feito... por isso Ana eu não concordo nada contigo. Ah, e que tal candidatares-te a primeiro-ministro?

ana.in.the.moon disse...

Há textos que me deixam assim: calada.
Só porque conseguiram dizer o que sinto.

Ana disse...

Ricardo, lamento que me tenhas encontrado semelhanças com os tais senhores que se candidatam ao cargo que referes. Não me conheces e só por isso não me ofendo com a sugestão, talvez não tenhas lido as minhas entrelinhas... de qualquer maneira, reitero o que disse, concordo em absoluto com o que foi escrito no post.

Biranta disse...

Quando se trata de apelos, no sentido de fazer diferente, de pensar diferente, todos são poucos e todos são necessários.
O que achei curioso, nos comentários, foi o facto de a sugestão de candidatura a primeiro ministro ser considerada ofensa! Estranho mundo este nosso, onde, no subconsciente das pessoas, só gente que não presta é que se pode candidatar a primeiro ministro. É isso que tem de ser "cortado pela raiz". Dirigentes têm de ser os mais responsáveis, mais inteligentes, mais eficientes e mais íntegros. Esses é que devem ser os lideres, de que tanto necessitamos. Se não é assim (e não é assim) então é isso que tem de mudar. Sem essa mudança, nada feito. Com essa mudança, todos os outros problemas se irão resolvendo, porque têm solução, todos eles.

uivomania disse...

A força e a vontade não se podem encontrar em nenhum lado. Não se podem pedir ou comprar. Cabe a cada um de nós, ganhar fôlego se esgotados, rebuscar na nossa essência e usar a provisão que nos resta, ao invés de nos deixarmos resvalar para o desespero, quantas vezes na vã ilusão de que ele possa despertar a piedade como coisa útil para o nosso crescimento/evolução. Aceito e compreendo o cansaço, o desânimo e até o desespero... mas nunca como uma solução! A vida é demasiado empolgante para nos deixarmos vencer por não termos tentado encontrar uma maneira de ultrapassar, sempre, mais um obstáculo. Nem sempre conseguimos chegar ao destino originalmente previsto, mas no caminho, vamos chegando sempre a algum lado! A fórmula para se resolverem os problemas não será uma única, nenhum de nós a terá integralmente e justamente por isso, o diálogo entre as gentes parece-me fundamental.
Para concluir e como se tem verificado, a dialéctica, não chega nem nos dispensa, de agir em conformidade com aquilo que dizemos serem as nossas convicções, sob pena de não passar de mera demagogia. Tem sido o "povo" que pratica as atrocidades contra o "povo", que marcha contra os canhões e que dispara os canhões e por isso digo que é urgente, cada um de nós mudar já! Desde logo em seu redor, até atingir a massa crítica...